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'WSJ': Tropeços no Rio devem afastar Comitê Olímpico de países emergentes

Ambições da África e da Índia de sediarem os Jogos parecem ter sido engavetadas

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Matéria publicada nesta terça-feira (2) pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal conta que vários membros do alto escalão do Comitê Olímpico Internacional (COI) dizem que as dificuldades que o Rio de Janeiro enfrentou para se preparar para receber os Jogos provavelmente levarão a organização a evitar no futuro que o maior evento esportivo do mundo seja realizado em cidades com qualquer sinal de instabilidade. Os comentários, entre os mais fortes já feitos por autoridades do COI sobre suas frustrações com os preparativos do Rio, mostram que a organização está voltando atrás em sua meta de realizar os Jogos Olímpicos em um grupo mais amplo de cidades.

O WSJ destaca que o Rio, sendo a primeira cidade da América Latina a sediar o evento, supostamente marcaria o início de uma nova era, mais aventureira para o COI. Em vez disso, ele se tornou um alerta sobre como as condições podem ser voláteis em países em desenvolvimento. As ambições da África e da Índia de sediarem os Jogos parecem ter sido engavetadas indefinitivamente, de acordo com membros do COI e de pessoas que trabalham de perto com a organização.

“O Rio tem sido o maior desafio que já enfrentamos”, diz o norueguês Gerhard Heiberg, membro de longa data do COI, que liderou os Jogos de Inverno de 1994, em Lillehammer. “Talvez passemos mais tempo pensando sobre ir ao último continente. Precisamos de alguma garantia de que vai ser um sucesso.”

Segundo a reportagem do Journal apesar de dizerem que continuam otimistas sobre os Jogos no Rio, as autoridades do COI afirmam que a tarefa de deixar a cidade pronta para o evento tem sido consistentemente tumultuada e às vezes quase calamitosa. A construção do Parque Olímpico atrasou. A vila dos atletas mal foi concluída, com algumas equipes se deparando em sua chegada com fiação exposta, problemas no encanamento e escadarias escuras. O Rio abandonou a promessa de limpar a Baía de Guanabara, onde as competições de vela serão realizadas. “A baía é o maior fracasso”, diz Michael Payne, ex-diretor de marketing do COI que foi conselheiro do Rio em sua candidatura para sediar os Jogos. Uma nova rede de transporte prometida foi encurtada e ainda não foi testada em toda sua extensão, às vésperas dos Jogos, que começam na sexta-feira.

Em 2009, relata o The Wall Street Journal, quando o COI escolheu o Rio, a previsão era que o Brasil estaria hoje entre as cinco maiores economias do mundo. Em vez disso, o país entrou em sua pior recessão em décadas e o governo está envolvido em um escândalo político profundo e perturbador. “A lição é que muita coisa pode mudar em sete anos”, diz Dick Pound, um canadense que está entre os mais antigos membros do COI. Payne prevê que os membros do COI evitarão qualquer risco possível no futuro próximo. “Eles dirão: ‘Vamos garantir que os próximos sejam mais fáceis’.”

O texto do jornal norte-americano fala que a experiência do Rio já ajudou a basear decisões sobre quais cidades e países poderão sediar os Jogos no futuro ou quais deles poderão chegar até a rodada final de seleção, que dura dois anos. Enquanto o Rio batalhava para se estabilizar em 2013, Tóquio acabou ganhando o direito de sediar os Jogos de 2020, superando Istambul. E, no ano passado, o COI optou pela segurança do governo chinês ao escolher Pequim como sede dos Jogos de Inverno de 2022, em vez de Almaty, no Cazaquistão, apesar de os chineses terem de construir uma estação de esqui em uma área que recebe pouca neve. Para 2024, Paris e Los Angeles agora são citadas como as favoritas na competição que também inclui Roma e Budapeste. A África do Sul, que chegou a ser uma das principais candidatas para esses Jogos, foi eliminada em 2015, já que o país lidava com os mesmos problemas enfrentados pelo Rio, como a falta de serviços adequados de educação e saúde para grande parte da sua população.

A noção de universalidade dos Jogos, promovida pelas autoridades do Rio e aceita pelo COI como parte da candidatura carioca, deixou de ser amplamente discutida. Mark Adams, porta-voz do COI, diz que o presidente Thomas Bach prefere deixar que os cerca de 100 membros da organização tomem as decisões sobre as sedes futuras, em vez de impor suas próprias opiniões. Ele observa que a “universalidade” não é um componente da Carta Olímpica.

O Journal destaca que o processo de seleção é uma competição mundial gigantesca, e a palavra-chave que o COI, que tem sede na Suíça, muitas vezes usa para avaliar as propostas é “legado”. O Comitê quer entender qual será o impacto duradouro dos Jogos, tanto na cidade-sede quanto no próprio movimento olímpico. O COI se frustrou com os preparativos do Rio à medida que pesquisas de opinião pública mostraram brasileiros com uma visão cada vez mais negativa dos Jogos após o início de algumas obras de infraestrutura prometidas, estagnando seus avanços. Quase todas elas estouraram o orçamento, enfrentaram atrasos e desagradaram o público porque favoreciam bairros ricos. Dentro do COI, poucas estatísticas são mais importantes que o sentimento local sobre os Jogos.

De acordo com o The Wall Street Journal o Rio tem sido uma dor de cabeça para o COI há anos. John Coates, um membro da Comissão de Coordenação para os Jogos de Londres de 2012, do Rio e dos futuros Jogos de Tóquio, disse em abril de 2014 que o planejamento e os preparativos para os Jogos do Rio foram os piores que ele já viu, superando os problemas registrados em Atenas em 2004. À medida que os estouros de orçamento se acumulavam, os organizadores locais se esforçavam para cortar despesas em tudo, dos assentos nos locais dos eventos até os tipos de alimentos servidos nas áreas VIP. As vendas de ingressos ficaram aquém das expectativas, criando o risco de imagens de estádios semi vazios sendo transmitidas pelo mundo.

O Journal afirma que as autoridades do Rio dizem que sediar os Jogos Olímpicos está ajudando a resolver os problemas da cidade e que os bilhões gastos em infraestrutura vão render frutos de uma forma que não seria possível em uma cidade mais desenvolvida. Na verdade, é possível que muitos dos problemas do Rio não afetem os visitantes. Um esforço de segurança maciço colocará soldados em cada esquina em todos os bairros em que ocorrerão os Jogos. Locais de competição à beira-mar ou cercados por montanhas produzirão imagens espetaculares na TV.

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