ASSINE
search button

Santa Teresa "está ferida de morte e atingida na alma”, diz Chico Alencar   

Políticos criticam o abandono da prefeitura e do governo quanto ao seu sistema de transporte  

Compartilhar

Depois da denúncia feita terça-feira (4) pelo Jornal do Brasil sobre o descaso da prefeitura e do governo do estado com a ordem pública do bairro de Santa Teresa, Centro do Rio, parlamentares se manifestaram confirmando os problemas. Moradores do bairro, os deputados federais, Chico Alencar (Psol) e Jandira Feghali (PCdoB), além do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) defendem o bairro e a volta do bonde como sistema de transporte do local, no lugar de ônibus nas vias estreitas, que provocam acidentes como o de sábado que matou uma mulher de 60 anos.

“O bairro está ferido de morte e atingido na sua alma. E a responsabilidade disso é das autoridades públicas, que direcionam recursos milionários para, por exemplo, refazer o Maracanã, mas em relação ao bonde, agem com uma lentidão muito maior do que a do próprio veículo. É uma situação revoltante. Não há iniciativa concreta para que os bondes voltem ao bairro. Todos os responsáveis por esse crime são pessoas non gratas em Santa Teresa”, diz o deputado federal Chico Alencar, que mora no bairro.

>> A desordem em Santa Teresa sem bondes 

>> Data de um ano sem bondes foi marcada por manifestações

A ausência de quase dois anos dos seus tradicionais bondes, que apesar das promessas do governador Sérgio Cabral, não voltam ao bairro, e a falta de fiscalização do poder público, têm aumentado a circulação e o estacionamento de veículos. Ônibus que trafegam pelo local mal conseguem transitar pelas vias estreitas com segurança, onde carros são estacionados nas pequenas calçadas, colocando em risco os pedestres que têm de andar pela rua. O meio de transporte, em um local não condizente com as suas dimensões, faz com que seus motoristas cometam cada vez mais imprudências e causem acidentes.

Para os políticos, a confusão poderia ser evitada com o retorno dos bondes e, desta vez, em dia com a manutenção. “O acidente aponta o que já vínhamos denunciando há tempos na região, culminando na lamentável tragédia de 2011, quando cinco pessoas morreram e outras 57 ficaram feridas. O que defendemos é a municipalização do sistema de bondes de Santa Teresa, por ser um transporte público, barato e que atende às diversas demandas da população do bairro e da cidade. É inexplicável por argumentos sérios a absoluta falta de solução até este momento”, afirma a deputada federal e presidente da Comissão de Cultura da Câmara, Jandira Feghali, que reside no bairro.

O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC), Marcelo Freixo, critica a demora da chegada dos bondes e a adoção do modelo rodoviário pela prefeitura e o governo do estado. “Essa situação de Santa Teresa é um retrato de todo o transporte do Rio. O sistema do bonde deveria ser ampliado para outros lugares, servindo como modelo. Em vez disso, há a insistência do modelo rodoviário, fazendo com que o transporte que dá certo deixe de existir", avaliou. "O último acidente com os bondes, que matou o motorneiro e passageiros, ocorreu por falta de manutenção sobre os trilhos. Esta concepção [de modelo rodoviário] é um equivoco e está na contramão do que as grandes cidades estão fazendo, que é construírem metrôs, trens e Veículo Leve sobre Trilhos [VLT]. Talvez seja pela força política da Fetranspor, mas o fato é que Santa Teresa tem um grande prejuízo”, aponta ele.

A descaracterização do bonde que dará lugar aos antigos, de responsabilidade da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística, a Central, foi criticada por Jandira Feghali. “É inaceitável a privatização ou a busca por soluções externas que descaracterizem a tradição dos bondes históricos. Temos capacidade tecnológica e interna para dar solução sem que demande tanto tempo e rompa com este patrimônio público e histórico carioca, que faz parte do valor cultural do bairro e do Rio de Janeiro”, conclui a parlamentar.

A inativação e a retirada dos bondes ocorreu em 2011, quando um acidente deixou cinco mortos. A composição, sem manutenção adequada, teria ficado fora de controle e perdido o freio na ladeira da Rua Joaquim Murtinho. Antes disso, um turista francês caiu do bonde e morreu em 24 de junho do mesmo ano. Já em 2009, uma professora de 29 anos foi atropelada por um dos bondes, que desceu a ladeira descontrolado. O acidente levantou dúvidas sobre a eficiência dos sistemas de freio regular e de emergência dos bondes.