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Caso Molina: cineasta diz que embaixada recebia pressão do Itamaraty

Documentarista trabalhava num filme sobre o caso do senador boliviano

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A representação diplomática brasileira estava sem autonomia para agir no caso do senador boliviano Roger Molina e recebendo pressão constante do Itamaraty para que nenhuma medida fosse tomada, mesmo sabendo dos riscos que o parlamentar estava exposto. Isto é o que afirma o documentarista Cláudio Galvão da Silva, mais conhecido como Dado Galvão, que desde o início do ano estava produzindo um documentário sobre o caso a pedido do próprio Molina.

Dado Galvão contou ao Jornal do Brasil como soube da pressão exercida pelo Itamaraty aos embaixadores Marcel Fortuna Biato e Eduardo Saboia. "Durante uma reunião em abril deste ano, Saboia e Biato me falaram pessoalmente que estavam sendo pressionados pelo Itamaraty. Eles me disseram que não poderiam me ajudar com relação ao documentário e acrescentaram que eram obrigados a relatar todos os seus passos com relação a este caso ao Itamaraty."

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O senador boliviano chegou ao Brasil na tarde de sábado, após ter ficado por 15 meses abrigado na embaixada brasileira em La Paz, na Bolívia.  O senador enfrenta mais de 20 processos movidos pelo governo em várias cidades bolivianas após fazer graves acusações de corrupção contra o governo do presidente Evo Morales. Ele não tinha conseguido abandonar a embaixada por falta de um salvo-conduto que as autoridades lhe negaram, pois sustentam que ele deveria responder a essas acusações.

O embaixador Marcel Biato foi transferido no mês de julho da embaixada do Brasil em La Paz. Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, ele está nesta segunda-feira (26) na Presidência da República, mas não esclarece a sua ocupação. Numa ementa da Presidência da República, divulgada na terça-feira passada (20), o nome do embaixador Biato é indicado para assumir cargo de Embaixador do Brasil no Reino da Suécia e junto à República da Letônia. A ementa aguarda por parecer do relator. Fontes da embaixada brasileiras disseram que a decisão de transferir Biato pode ter sido um pedido do governo boliviano, insatisfeito com a atuação de Biato no caso do senador de oposição. Segundo as mesmas fontes, a mudança interna aconteceu após visita do ministro Antonio Patriota ao ministro da Presidência boliviano, Juan Ramón Quintana, em março, para discutir assuntos comerciais, migratórios e de combate ao narcotráfico.

O documentarista Dado Galvão contratou o advogado Fernando Tibúrcio para defender no Brasil o caso do senador boliviano. Ele tentou entrevistar o senador no início do ano, mas foi impedido pelas autoridades bolivianas. Num ato de repúdio e em solidariedade a Molina, Dado entregou o seu passaporte junto com uma carta de solicitação para a realização da filmagem aos embaixadores Biato, Saboia e também Manuel Adalberto Montenegro. “O embaixador Marcel Biato, na ocasião, me garantiu que a carta e o passaporte seriam encaminhados ao Itamaraty, para conhecimento do ministro Patriota, justificando que a embaixada não poderia reter passaportes e não existia um protocolo para formalizar o fato”, contou Dado, que até o momento não teve a devolução do seu documento.

“Vou aproveitar que o senador já está no Brasil e o caso está em plena investigação para tentar reaver o meu passaporte e exigir explicações do que aconteceu comigo em La Paz”, completou o cineasta. Além de Dado, o fotógrafo brasileiro Arlen Tavares, que estava acompanhando Dado na produção do trabalho, também aderiu ao protesto e entregou o seu documento na embaixada brasileira.

A reportagem do JB entrou em contato com o Itamaraty, mas não obteve retorno com relação às informações reveladas pelo documentarista Dado Galvão.