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'El País': O impacto do petróleo

Artigo de Carlos Pagni analisa cenário econômico e político da América latina

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O jornal espanhol El País publicou em sua edição de segunda-feira (9) um editorial sobre as consequências da crise do petróleo para a região da América Latina. 

Em 10 de dezembro passado, em Viena, a decisão tomada foi de alcance global, afirma Carlos Pagni para El País. membros da Opep concordaram em reduzir sua produção de petróleo bruto. O corte pode chegar a um milhão e meio de barris por dia. O efeito desta restrição já pode ser percebido. os preços futuros do petróleo começaram a subir: a média do ano é agora 56.29 dólares por barril. O preço atual é de cerca de 8% mais caro do que 30 dias atrás. E 70% a mais que há um ano.

As consequências destas mudanças começaram a ser sentidas. O governo do México, que participou da reunião de Viena, inicialmente celebrando, afinal, o aumento no valor do petróleo iria melhorar a situação da Pemex. A empresa, que é controlada pelo Estado, teve uma queda dramática na renda, o que obrigou a reduzir a produção. O ano de 2016 foi de fabricação de 2.145.000 barris por dia, 5% mais baixos do que em 2015 e a mais baixa dos últimos 35 anos. Esta crise pune o tesouro mexicano. Não só por causa do negócio do petróleo que recebe 33% de sua renda. Além disso, ele a obriga a fazer contribuições de capital para sustentar as finanças da empresa.

> > El País El impacto del petróleo

O texto de El País avalia que embora a melhoria dos preços do petróleo dê uma trégua para a Pemex, ele tornou-se insustentável para o subsídio dos combustíveis. O que está acontecendo é que 50% do que os mexicanos consomem é importado, que tem de comprar com um peso que foi desvalorizado ao longo de 2016, especialmente após a vitória de Donald Trump. Neste contexto, o preço da gasolina foi ajustado em 20%. E houve uma explosão de consumidores.

Aconteceu o previsível, acrescenta Pagni para El País. O Caracaço, de 1989, que arrastou o governo de Carlos Andrés Perez, na Venezuela, foi desencadeada por um aumento drástico no preço da gasolina. Nesse caso, foi de 100%. Em dezembro de 2010, Evo Morales na Bolívia sofreu uma rebelião que, como no México, foi chamado de gasolinaço, porque retirou subsídios dos combustíveis, que aumentaram 83%. Se você quiser procurar o ponto de partida da queda de Dilma Rousseff no Brasil, pode lembrar das manifestações em São Pablo, em meados de 2013, quando aconteceu um aumento no preço dos transportes.

Perez, Morales, Dilma, foram precursores do mexicano Enrique Peña Nieto. O preço da gasolina não afeta somente os motoristas e aqueles que usam transporte público. Os protestos, associados em muitos casos, a escassez de suprimentos, deixou cerca de 1.500 detidos no México e danificou muitas lojas. Uma chuva ácida para um presidente cuja popularidade não chega a 25%.

O que trouxe angústia para o México traz um sorriso para os governos da Venezuela, Equador e Bolívia que, como Colômbia e Peru, exportam hidrocarbonetos, aponta Carlos Pagni para El País. Nicolas Maduro atinge uma lufada de ar fresco no meio de uma crise que parece crônica. Asfixiou a economia pela falta de reservas internacionais, com a melhoria das receitas do petróleo favoreceu a especulação: haverá um regime de taxa de câmbio de divisão? Excentricidades para corrigir excentricidades: o bolívar desvalorizou mais de 100% entre novembro e dezembro.

O Brasil também comemora o resgate da Petrobras. Na primeira semana do ano, a empresa aumentou o preço do diesel e da gasolina. A tendência para eliminar o subsídio aos consumidores de combustível foi consolidada a partir de outubro. É parte de uma política geral, incluindo a venda de ativos da estatal de petróleo em toda a região. A Petrobras já executou uma operação de 892 milhões de dólares, um tanto controversa, com o grupo Pampa Energia na Argentina. Ele transferiu um distribuidor no Chile por US $ 470 milhões, o grupo Southern Cross. A Petrobras também anunciou a demissão de 6.300 funcionários. O ajuste permitiu a ação da empresa abalada pela Operação Lava Jato, que já recuperou cerca de 100% com relação ao ano passado.

Para a Argentina de Mauricio Macri, noi entanto, é um grande desafio a melhora dos preços do petróleo. O país importa 13% de sua energia. Uma parte importante deste consumo é subsidiado. Assim, o petróleo mais caro, aumenta os gastos públicos. Um problema delicado para um país em que o Estado, a nível nacional, representa 47% do PIB. Um dos principais objetivos do Macri, especialmente desde a recente nomeação de Nicolas Dujovne como ministro das Finanças, é reduzir o déficit fiscal. Se o combustível é caro e se destina a equilibrar as contas públicas, Macri não tem outro remédio a não ser eliminar os subsídios do que o esperado. Em outras palavras, aumentar o preço do gás, eletricidade e transportes. Uma história de amor nada fácil para um ano eleitoral.

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