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Desabrigados da Telerj sobrevivem de ajuda e doações da sociedade civil

Representantes da Igreja seguem intermediando o diálogo com a Prefeitura

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Acampados no estacionamento da Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro desde sexta-feira (18), os desabrigados da Telerj recebem apoio e donativos de diversos setores da sociedade civil. Os ex-ocupantes estão sem moradia desde que foram removidos do terreno no Engenho Novo, Zona Norte do Rio, durante a operação de reintegração de posse movida pela empresa Oi. Eles estavam acampados na porta da Prefeitura até o dia 18 de abril, quando foram expulsos pela polícia durante a madrugada e acolhidos no estacionamento da Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro. A Igreja se comprometeu a fazer a ponte de diálogo entre os desabrigados e o poder público, que ainda não apresentou uma solução efetiva para a situação.

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De acordo com o representante do coletivo Mariachi, Julio Campagnolo, que se encontrava no local nesta segunda-feira (21), diversos grupos já passaram pelo acampamento nos últimos dias para prestar solidariedade e algum tipo de apoio. Segundo Julio, os desabrigados teriam recebido a visita de atores da Via Crucis e também de lutadores de MMA, que entregaram ovos de páscoa. Além deles, freiras da ordem de Madre Tereza e membros do Sindicato dos Professores também estiveram na Catedral Metropolitana.

Dom Roberto Lopes, funcionário da Arquidiocese, conversou com os desabrigados por volta das 14h30. Ele garantiu que não haveria intervenção policial no acampamento e disse que na próxima terça-feira (22) será possível traçar um panorama melhor das negociações com a Prefeitura. “Sempre venho ver se eles estão bem, principalmente quando a gente fica sabendo que algum carro policial está por aqui. Nossa função aqui é manter a paz.”

Sobre os donativos, Dom Roberto disse também que os desabrigados podem contar com o apoio da Igreja. “Toda hora estão chegando coisas, mas se faltar algo é só eles avisarem que a gente providencia”, garantiu. Os moradores assinalaram para a necessidade de recursos como uma cobertura que os protegesse da chuva.

Segundo Julio, os ex-ocupantes às vezes sofrem com a falta de água e leite, mas, no geral, a situação deles estaria estável. O principal problema, pondera, seria o estado de constante tensão com a polícia. “A polícia fica fazendo terror psicológico. Hoje de manhã, um carro do batalhão de choque entrou no espaço do estacionamento contra a autorização do padre. Os padres não querem o choque aqui”, contou Julio, em referência ao carro do batalhão de choque que entrou por volta de 9h20 desta segunda (21) no estacionamento da Catedral. Um representante da Arquidiocese teria pedido para o carro se retirar.

Padres Franciscanos retomaram o diálogo entre os desabrigados e o governo, recolhendo informações acerca das necessidades do. Na sexta-feira, uma negociação teria terminado sem resultados por conta do impasse relacionado aos abrigos oferecidos pela Prefeitura. “O governo não oferece perspectivas para eles, mas o pessoal está com esperança de que vá ter alguma solução”, disse Julio.

Integrantes do projeto SouVisível, coletivo que busca dar visibilidade à população em situação de rua, apuravam as principais necessidades dos desabrigados. Ellen de Souza, uma das elaboradoras do projeto, destaca que as principais emergências são de água potável e material descartável. “Eles estão sem opção de conservar alimentos também, o rapaz pediu um isopor grande e vamos tentar conseguir agora. Nosso objetivo é saber de concreto quais são as emergências deles.”

A professora da rede pública municipal Teresa Xavier faz parte do grupo de professores que arrecadam doações, principalmente para as crianças e bebês. Segundo a última contagem, realizada no sábado (19), cerca de 80 adultos e 30 crianças estão no local. Ela diz que é sempre necessário que haja mais doações de fraudas e leite, que são consumidos muito depressa pelas crianças. E faz uma crítica ao governo: “as doações vêm de todos os lugares, de diversas entidades, menos das instituições públicas responsáveis por essas pessoas”, criticou.

A alimentação dos desabrigados está sendo garantida exclusivamente graças às doações de quentinhas. Rodrigo Moreira, desabrigado que ajudava a organizar os donativos, informou que chegam entre 120 e 150 quentinhas por dia no acampamento e que os ex-ocupantes evitam o desperdício. “O que sobra, quando sobra, a gente distribui pra comunidade dos moradores de rua”, contou Rodrigo.

Outra pessoa que estava no acampamento na tarde de segunda-feira (21) era a artista visual Taiane Carvalheiro, que se sensibilizou com a situação dos desabrigados. “Divulgar as coisas na internet é importante, mas também é muito importante que as pessoas saiam das suas casas e venham ver a situação daqui. Tem muita gente que coloca opinião na internet, mas não tem noção do que está acontecendo. As pessoas precisam fazer alguma coisa”, criticou.

Taiane conta que, apesar de não ter experiência nenhuma nesse tipo de ativismo, acordou mais cedo e preparou 40 sanduíches para os desabrigados. “As pessoas ficam esperando muito que alguém responda o que elas podem fazer, como elas podem ajudar, com quem ela tem que falar. Acho que as pessoas tem que levantar e fazer”, disse.

Moradora do Catete há cerca de três anos, Taiane ainda aponta para outro problema grave do Rio de Janeiro, o elevado custo de vida da cidade. “Eu estou saindo do Rio em um mês porque não tenho mais condições de me manter aqui. Não são só eles que estão sendo expulsos, eu trabalho em dois empregos diferentes e me sinto sendo expulsa do Rio de Janeiro”, reclamou Taiane, que irá se mudar para o Sul do país.