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Após terem sido expulsos da Prefeitura, desabrigados acampam na Catedral

Arquidiocese se ofereceu para mediar o contato entre os desabrigados e o poder público

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Desde o início desta sexta-feira (18), desabrigados da Favela da Telerj no processo de reintegração de posse do prédio da Oi, no Engenho Novo, Zona Norte do Rio, acampavam em frente à Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro. O grupo afirmava ter sido expulso durante a madrugada por forças policiais da frente do edifício da Prefeitura, onde estavam acampados desde o dia 11 de abril. A Prefeitura teria negado o benefício do aluguel social aos desabrigados.

Os desabrigados são ex-ocupantes do prédio da Oi, que foram expulsos durante um processo de reintegração de posse no dia 10 de abril. Após manifestações e conflitos com a polícia, o grupo, apoiado por diversos grupos, ocupou a frente do prédio da Prefeitura. Durante a semana, os desabrigados se reuniram com representantes da Prefeitura, porém nenhuma solução efetiva conseguiu ser acertada entre eles. O grupo recusava ser enviado para abrigos e queria agilidade no processo de encaminhamento para casas.

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A Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, disse em nota que restabeleceu contato com os desabrigados que estavam na Catedral Metropolitana. Durante a negociação, que contou com a presença de padres, a SMDS ofereceu novamente os abrigos da rede acolhedora e o cadastro social para as 112 pessoas que estavam no local. Os moradores teriam recusado a proposta após a chegada das vans da SMDS.

De acordo com a desabrigada Jociara Chaves, 24 anos, por volta de 1h da madrugada desta sexta-feira (18), agentes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) chegaram na frente da Prefeitura com veículos que levariam para abrigos do governo as cerca de 95 pessoas que ainda resistiam no local. Os moradores teriam mantido a posição de recusar os abrigos temporários. “A gente quer a casa, é nosso direito”, disse.

Às 2h da madrugada, após os agentes da SMDS terem ido embora, Jociara conta que forças policiais alegaram a posse de uma liminar para expulsar os desabrigados da porta Prefeitura e levar as crianças presentes para o Conselho Tutelar. Jociara é mãe de um menino de 4 anos, que está sob cuidados de uma irmã dela. “Quando os agentes da secretaria acabaram de falar, os policiais já estavam montados na frente da prefeitura. A Polícia Militar e a Guarda Municipal vieram em cima da gente e começamos a acordar todo mundo”, contou.

Segundo ainda o desabrigado Marcos Alecsandro, de 26 anos, grupos de black blocks deram apoio aos ex-ocupantes do prédio da Telerj. De acordo com ele, na última quarta-feira (18), forças policiais estariam prontas para tirar os desabrigados de lá, mas grupos de black block interviram. “Se nós estávamos dormindo em paz lá, é por causa deles”, disse.

Jociara conta que quando os agente policiais foram retirar todos de frente da Prefeitura, os black blocks que, segundo ela, não usaram de violência, se colocaram entre a polícia e os desabrigados. De acordo com Jociara, houve conflito e a polícia usou spray de pimenta para afastar o grupo, que não teria revidado. “Fomos sendo empurrados até o ponto de ônibus já próximo da pista e depois ficamos andando pelo Centro, até que alguém sugeriu que fossemos para a Catedral”, contou.

A advogada do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos Eloysa Samir, que tem acompanhado a situação dos desabrigados junto a outros advogados desde sexta-feira passada, disse que ninguém vai tirar os ex-ocupantes do entorno da Catedral Presbiteriana. “Não vão sair daqui. A Igreja está acolhendo eles e o estado não pode fugir da obrigação que tem com esses desabrigados”, afirmou.

A advogada confirmou a nota emitida pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde representantes da instituição asseguravam o apoio aos desabrigados e lamentava que ainda existissem pessoas que sofram por falta de moradia. Na nota, Arquidiocese do Rio de Janeiro, teria se oferecido através de responsáveis diretamente ligados ao Arcebispo para fazer a mediação entre os necessitados e o poder público para encontrar uma solução ainda que parcial.