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Crescimento sustentável só com mudanças estruturais

Especialistas apontam a importância de nova redução da Selic para crescimento do país

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Melhorar a infra-estrutura brasileira e aumentar os investimentos são os desafios para o governo superar a crise internacional e crescer de maneira sustentável pelos próximos anos. A queda da taxa básica de juros, que atingiu novo patamar histórico de 7,5% ao ano, foi mais um importante passo para a retomada do crescimento. É o que afirmam especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil.

A ordem é "desatar nós", afirma o economista Marcel Solimeo, Superintendente Institucional da Associação Comercial de São Paulo (Acsp). "As medidas que foram anunciadas são importantes, mas para se ter uma taxa de investimento que o governo espera, é preciso que o país cresça. A economia é muito amarrada e se não houver um empenho muito grande para melhorar a burocracia, licenças, qualificar a mão de obra, estas medidas não resolvem muito".

>> Mantega volta a criticar taxa de juros cobrada pelos bancos

A medida a que Solimeo se refere é a abertura de novas concessões para rodovias e ferrovias pelo país, que terá investimentos privados de R$ 133 bilhões em 25 anos, anunciadas pelo governo no último dia 15. No mesmo dia, a Petrobras também informou que nos próximos cinco anos serão investidos 477,9 bilhões em setores chave da economia. "Estas concessões são investimentos a longo prazo, mais para 2013. Eles podem ter antecipado o anúncio exatamente para criar um expectativa do mercado", opina. 

"Obras em infra-estrutura, como estas, são muito importantes, pois temos um déficit muito grande, o que contribui para o alto valor de se produzir no país, o tal custo brasil. Enquanto estes valores e problemas persistirem, não haverá investimento no país. Além disso, é preciso ver os aspectos dessas privatizações, pois elas precisam atrair o capital privado", analisa. 

O economista Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comemorou o que, para ele, é o aspecto mais interessante dos anúncios: a parceria Público-Privada (PP) nas concessões. "É uma inovação, tenta agilizar do ponto de vista operacional, já que sabemos que a manutenção feita através do serviço público muitas vezes acaba emperrada pela burocracia e por velhos problemas", opina.

Além das recentes medidas, a equipe econômica do governo ampliou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos e produtos da linha branca. O governo pretende ainda reduzir mais R$ 15,2 bilhões em impostos no próximo ano, afirmou nesta quinta-feira (30), o ministro Mantega. 

Copom

A queda na taxa básica de juros, anunciada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC), foi aprovada pelos especialistas. Mantega afirmou que a Selic atingiu "patamar quase aceitável" ao chegar a 7,5% ao ano. Solimeo acredita que o mercado já esperava pela nova redução. "Está compatível com o cenário da economia. Com ritmo de atividades ainda fraco, o cenário lá fora está cada dia mais confuso", analisa.

As contínuas quedas demarcam uma mudança estrutural "muito importante" para a economia brasileira, analisa o economista Pedro Rossi, professor da Unicamp. "A crise é grave, mas nos trouxe a oportunidade de reduzir os juros básicos, que é algo fundamental para que o Brasil possa crescer de forma estruturada a longo prazo", comenta. 

Índice de Preços ao Produtor tem alta

Um dos temores do mercado é de que a redução da Selic possa impactar nos preços. Nesta quinta-feira (30), o IBGE divulgou o Índice de Preços ao Produtor (IPP) que, apesar de registrar alta de 0,54%, apontou uma desaceleração dos preços, já que no mês anterior, o índice registrou variação ainda mais positiva, de 1,11%.

O porta-voz da instituição, Cristiano Santos, afirmou que a variação menor era esperada, já que o índice atingiu seu recorde histórico em maio. "A questão é que há dois meses obtivemos um número histórico, então é natural que haja uma diminuição nas variações daqui para frente. Porém, a varição continua sendo positiva, nós estamos falando que na trajetória do acumulado do ano temos valores recordes".

Os alimentos foram um dos principais fatores que contribuíram para que o índice fechasse novamente no positivo. "Temos uma questão muito clara em relação à safra de soja americana, que contribuiu para que alguns grupos tivessem uma variação grande", concluiu.

O IPP mede a evolução dos preços de produtos “na porta de fábrica”, sem impostos e fretes, de 23 setores da indústria de transformação.