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Por temer falta de segurança, secretário de Cultura não comparece a audiência

Artistas se reúnem na Câmara de Vereadores para debater plano de gestão

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Aguardado na audiência pública da Comissão de Educação e Cultura da Câmara de Vereadores nesta terça-feira (16), quando seria debatido com parlamentares o plano de gestão da Secretaria de Cultura do Município do Rio, o secretário Sérgio Sá Leitão não compareceu, e avisou pelo Twitter que foi informado por vereadores que "não haveria segurança para que ele pudesse comparecer".

>>Veja também: Na rede, secretário de Cultura recebe ameaças e críticas dos internautas

O plenário estava lotado de artistas, que fundaram o grupo "Reage, artista" e cobram diálogo e participação nas decisões das políticas públicas de cultura. Além disso, a classe espera soluções quanto ao que chamaram de “sucateamento” dos teatros, que resultou também no fechamento destes, após a repercussão do incêndio ocorrido na boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

A frase na rede social e a sua ausência causaram do secretário reações dentro do plenário, como a do vereador Jeferson Moura, do PSOL, que ironizou dizendo estar “com muito medo das pessoas perigosas presentes na plateia”.

Datas e análises de Reimont

O vereador Reimont, do PT, que preside a a Comissão, rebateu a afirmação de Sérgio Sá Leitão dita em seu Twitter, de que a audiência teria sido adiada: "A Câmara não fez nenhum movimento de adiar ou suspender a audiência", disse ele, que lamentou a ausência de Leitão:"Eu acho que é uma pena o secretário ter sido ausente, até porque eu creio que ele tinha notícias boas: a reabertura das casas, a preocupação em montar um plano de gestão. É uma grande perda para o próprio secretário não ter vindo aqui. Considero que a visão que ele tem de que ele não teria segurança é errônea, não sei que ameaças são essas", analisou Reimont.

Em conversa com o secretário há 15 dias, porém, Reimont confidenciou ao JB que até o dia 22 de abril, todos os estabelecimentos de cultura estariam reabertos no Rio de Janeiro. "No dia que ele disse que o Ziembinski(Teatro Municipal na Tijuca) reabriria, o teatro reabriu. Mas a gente sabe que é uma abertura ainda precária, mas as negociações estão abertas", disse o presidente da comissão de educação e cultura, que ainda deixou algumas perguntas no ar para Leitão:"Quando será feita a nova conferência municipal de cultura? Quando vai ser implantado e empossado o conselho municipal de cultura? São perguntas que a gente precisa fazer", finalizou Reimont.

Artistas se manifestam

Amir Haddad, fundador do grupo Oficina de Teatro, em 1958, e um dos maiores nomes da arte no Brasil, conseguiu muitos aplausos ao dizer que não seria um secretário ausente ou presente que mudaria a profissão. "Nosso movimento é pela desprivatização da arte. A arte pública não está submetida ao mercado. É preciso um equilíbrio de investimentos entre o público e o privado para que a arte sobreviva. Nós somos uma realidade, não uma hipótese", disse Haddad, que fez piada ao falar sobre o uso da palavra "pública" para criticar a ausência do Secretário. "Se pensa em educação pública, é uma vergonha. Se pensamos em saúde pública, é complicado. Se pensamos em banheiro público, você quase morre. E na Audiência Pública, o secretário não está", finalizou, para aplausos e risos.

O ator Patrick Reis, membro do movimento Reage, Artista, também lembrou ao desrespeito aos artistas, somaran-se a falta de manutenção e investimento dos equipamentos culturais. "Precisamos lutar para que nunca mais um espaço de cultura seja lacrado nesta cidade", disse o ator, que pediu a reabertura imediata dos locais de culturas, a indenização aos artistas que perderam as suas peças e a imediata publicação dos laudos dos Bombeiros sobre os estabelecimentos e os gastos das obras. "Não podemos é ficar sem saber o que está acontecendo", finalizou.

Cultura indígena em pauta

Índios, dissidentes da Aldeia Maracanã, também comparecem à audiência. Segundo publicação em um dos perfis do Facebook da aldeia, o motivo do comparecimento seria pelo fato de o secretário de Cultura já ter “se posicionado contra a aldeia”. Com a ausência do secretário, porém, o diálogo teve que ficar para depois.

Eles tiveram dificuldades para entrar na Câmara porque não portavam documentos. De acordo com os índios, seus documentos foram levados da Aldeia Maracanã para um depósito que eles não sabem onde fica. Dentro do plenário, o indígena Daniel Puhri, não deixou de falar sobre a saída dos índios da Aldeia Maracanã. Segundo ele, a cultura indígena vem sendo destruída desde a chegada do "outro" Cabral, em referência irônica a Pedro Álvares Cabral, ao estabelecer uma relação com Sérgio Cabral, governador do estado.

"Eu aprendi que cultura pode ser tanto as manifestações artísticas de um grupo quanto o seu próprio modo de vida. Para os índios, a cultura indígena é as duas coisas. Quando se elogia e se permite a venda da arte indígena, mas não se permite a permanência do índio no seu território, isso é uma hipocrisia. Estão assassinando a cultura indígena", definiu Daniel, um dos remanescentes da Aldeia Maracanã, retomada pelo governo do estado na última sexta-feira(22).