A natureza atropelada pelas características urbanas?

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Por RICARDO SALLES

Ricardo Salles

Há 550 milhões de hectares no Brasil aptos para lavouras e só usamos 64 milhões (Embrapa Solos ISSN 1 5 17-2627), temos um potencial de crescimento gigante e para tal precisamos de água, água que temos em abundância; isto hoje, mas precisamos olhar para o futuro. A população mundial vai passar dos quase 8 bilhões para 9.7 bilhões de pessoas em pouco mais de 40 anos e essa terá o dobro da renda média atual. Para atender a essa nova demanda a produção mundial de grãos terá que subir em 50% e a de proteína animal dobrar neste período.

O cuidado e respeito à natureza e aos elementos naturais é fundamental para que tenhamos qualidade de vida. O melhor da tecnologia e da ciência é desenvolver estudos, técnicas e produtos que facilitem nossas vidas, aliando o bem-estar que o ambiente natural nos traz.

Gostamos de sentir o cheiro de terra molhada, o frescor que uma região arborizada propicia, e desfrutar isso com o baixo nível de ruído que a absorção natural viabiliza. É claro que por outro lado precisamos nos locomover com velocidade, preservar alimentos em refrigeradores, fazer uso de máquinas e equipamentos movidos a eletricidade. A difícil arte é a de facilitar a vida nas cidades integrando a tecnologia ao meio ambiente natural.

As edificações, sejam as unifamiliares (casas), as multifamiliares (prédios), as comerciais (lojas e shoppings) e as indústrias precisam ser repensadas. Não há como falarmos em melhorar a qualidade de vida, em bem-estar, sem buscarmos incessantemente a melhor forma de integração destes elementos.

 

No Coração do Cinturão do Milho norte-americano, uma Batalha difícil por água limpa

 

Dos 10 maiores aquíferos do mundo, temos os primeiros 2, o Alter do Chão, na Amazônia, que está 100% em nosso território, e o Guarani, que passa do Centro-Oeste, pelo Sudeste e chega até o Sul, e está 70% no Brasil.

Em uma reflexão epistêmica, podemos fundamentar a real natureza da inteligência, inteligência esta que faz parte de todo este cenário ambiental natural. Nesta natureza, humana, ao qual a inteligência pertence, precisamos buscar as condições para sobrevivência de nossa espécie, não será a IA (inteligência artificial) e sim a IN (inteligência natural) que vai, objetivamente, ajudar no processo evolutivo da humanidade.

Criamos o meio ambiente artificial e nele nos distanciamos muito do natural. Vamos a alguns exemplos:

Tipos de moradias – Quando sistemas de ar-condicionado foram inventados, conseguimos ocupar lugares com temperaturas mais severas, sejam altas ou baixas. Qual o prejuízo que nossas inteligências nos trouxeram por não realizarmos os projetos de forma sistêmica? O pé-direito menor (tetos mais baixos) cria vários desconfortos, prejudica a carga térmica, gera sensação de esmagamento, de opressão, pois há menos área de iluminação natural e um ambiente mais apertado.

E ainda maior dificuldade de renovação do ar natural, pois com a maior distância entre piso e o teto e acesso do ar externo podemos ter a convecção, ajudando na salubridade dos ambientes e nos dias mais quentes, refrescando.

Na urbanização das cidades promovemos a impermeabilização do solo, e isto acarreta, dentre outros, maior nível de reverberação, potencialização do calor e dificuldade de escoamento da água das chuvas. É neste ponto que vou trazer um destaque na manutenção da qualidade da água que temos em nossas reservas naturais.

Na imagem acima podemos ter noção da proporção e da localização dos 2 maiores aquíferos do mundo. Sob os estados do Pará, Amapá e Amazonas, temos o Saga (ou Sistema Aquífero Grande Amazônia) com 162.520 km³ de água.

A quantidade é equivalente a 150 quatrilhões de litros e, de acordo com pesquisadores, pode encher 90.000 vezes a Baía de Guanabara, podendo abastecer toda a população do planeta durante 250 anos. É o maior aquífero conhecido do mundo e reserva metade da água presente no Brasil. Atualmente, ele fornece água apenas para cidades vizinhas, como Manaus e Santarém.

Abrangendo o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai temos o Guarani, que é o maior aquífero transfronteiriço do mundo. Ele tem 1,2 milhões de km² de extensão territorial, sendo que 70% estão em território brasileiro.

A reserva hídrica atinge 40.000 km³. Quer saber se ele pode estar abaixo de você? O Guarani está distribuído entre os estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, observe a mancha azulada no mapa acima.

Dos 23 principais rios do Brasil, 14 passam pela área de abrangência dos aquíferos. Como está a mata ciliar no entorno destes rios, como está o saneamento das comunidades deste entorno? A indústria está envidando esforços para não poluir esses rios? Os órgãos competentes na fiscalização, urbanização e liberação de projetos têm como gestores, políticos ou técnicos?

Vamos olhar o caso de Manaus, onde 40% da população já é abastecida com a água do aquífero Alter do Chão, por mais de 10 mil poços conhecidos. Como é feita a perfuração dos poços? Quais os critérios? Será que esta captação está contaminando a, tão cara, reserva que temos? Se isso acontece, temos meios para mitigar ou sabemos como corrigir?

A maior parte do Aquífero Guarani está sob rocha e, segundo alguns pesquisadores, está potencialmente contaminada por defensivos agrícolas, mas o Aquífero Alter do Chão está sob terreno arenoso e ainda limpo.

 

 

A reflexão estratégica é fundamental na construção de cidades inteligentes, recursos tecnológicos já temos, o que nos falta é planejamento e ação.

Sugiro uma maior transversalidade no Conama - Conselho Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938/81; o órgão colegiado brasileiro responsável pela adoção de medidas de natureza consultiva e deliberativa acerca do Sistema Nacional do Meio Ambiente), isso poderá, com vários especialistas de áreas distintas, porém potencialmente relacionadas, unir a técnica à experiências de campo para mitigar o impacto que nossa existência traz à natureza.

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