
O ataque a tiros na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, resultou na morte da aluna Giovanna Bezerra Silva, de 17 anos, na manhã desta segunda-feira (23). Um aluno de 16 anos que cursava o 1º ano do Ensino Médio é o autor do atentado. Ele usou a arma do pai, que está legalmente registrada, com numeração aparente e bom estado de conservação, e disparou na nuca de Giovanna, que era do 3º ano, à queima-roupa.
Uma câmera de segurança registrou o momento em que ela foi baleada enquanto descia uma escada dentro da escola. Ela caiu desacordada alguns degraus abaixo e o autor do disparo deixou o local logo em seguida.

Outras duas alunas de 15 anos, que eram da mesma sala do atirador, foram baleadas e levadas para o Hospital Geral de Sapopemba: Emily Vitória e Fernanda Ribeiro. A primeira levou um tiro no tórax e a segunda, na clavícula. Segundo a unidade de saúde, elas estão estáveis e não correm risco de morte. Ambas receberam alta na tarde desta segunda.
Um quarto estudante, Gabriel Raimundo Polloni da Silva, de 18 anos, ficou ferido por ter que quebrar uma janela para fugir do ataque e já teve alta.
"Eu estava bem próximo dos disparos e a gente começou a se abaixar e a ligar para a polícia, tudo ao mesmo tempo. Assim que todo mundo começou a ir embora, eu caí no meio das carteiras e machuquei mais a mão, com mais um corte. A menina que, infelizmente, faleceu, estava no chão, mas eu não consegui ver, porque foi muita correria. Foi muito traumatizante", contou o jovem.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o suspeito disse à Polícia Civil que aprendeu a atirar assistindo a vídeos no Youtube. A reportagem teve acesso a uma troca de mensagens do jovem na plataforma Discord, na qual ele chegou a afirmar que a motivação para cometer o crime era “se sentir poderoso”.
Possível motivação
O aluno que efetuou os disparos sofria bullying por ser gay e teria anunciado o atentado duas semanas antes, segundo outros estudantes. Os relatos apontam que pelo menos quatro indivíduos estavam envolvidos no ataque e que todos eles eram alvos de bullying. De acordo com as informações iniciais da PM, um suspeito está foragido.
Ainda segundo os alunos, os supostos autores do ataque incluem, além do atirador, uma aluna lésbica e outros dois estudantes que eram considerados "tímidos" e "excluídos". Essa características eram apontadas como motivos para o bullying que sofriam, de acordo com as testemunhas. Não há confirmação se Giovanna era uma das estudantes que frequentemente agiam contra o autor do tiro.
“Ele era muito zombado aqui na escola. Sofria bullying por causa de sua orientação sexual. Duas semanas atrás, ele havia alertado que cometeria este atentado. Ninguém acreditou”, afirmou uma aluna.
Uma professora do primeiro ano do ensino médio também relatou que, logo após conseguir evacuar seus alunos da escola, teve acesso a um vídeo que mostrava o suspeito do ataque sendo vítima de violência física dentro da sala de aula.
“Era evidente que ele era vítima de bullying, com base nos vídeos. Pelo que me disseram, o ataque começou dentro da sala de aula onde ele estudava”, declarou a educadora.
O suspeito também já havia registrado um boletim de ocorrência, em 24 de abril, alegando ter sofrido agressões e ameaças de outros alunos.
Aluna ferida pediu socorro ao pai
Alessandro Silva, pai de Emily, contou que foi avisado por sua filha sobre o atentado. Inicialmente, ele considerou o aviso uma brincadeira, mas foi imediatamente à escola ao perceber que se tratava de um caso verídico. Foi ele quem levou sua filha ao hospital.
"Ela me ligou às 7h30 e falou: 'Pai, vem na escola, que eu tomei um tiro'. E eu [perguntei]: 'Que brincadeira é essa, Emily?'. Ela [disse]: 'Não, pai, é sério, eu tomei um tiro, eu tomei um tiro'. Eu desliguei o celular e saí correndo para a escola. Quando eu cheguei, o pessoal estava saindo, e eu fui na contramão, batendo no pessoal. Comecei a subir a escada e já vi a menina [que morreu] caída no chão, aquela poça de sangue. Aí subi e encontrei a minha filha lá em cima. Ela estava com a mão na barriga, falando que tinha levado um tiro. Eu peguei ela e desci a escada rapidinho. Aí já encontrei com um policial, falei que era a minha filha que eu estava socorrendo. Aí a colocamos na viatura e viemos [para o hospital].'
Segundo familiares, Emily foi atingida por dois tiros, que atravessaram o corpo dela. Os médicos afirmaram aos pais dela que é mais seguro ir para casa, por causa do risco de contrair alguma bactéria hospitalar.
Avó da vítima questiona suposta omissão
A avó da jovem morta, Luzia de Carvalho Silva, relatou ameaças feitas ao colégio e questionou o motivo de as autoridades não tomarem medidas preventivas.
"Nunca esperava, mas todo mundo já sabia que ia acontecer alguma coisa nessa escola, porque há muito tempo estão falando que estava tendo ameaça lá. Por que não fizeram as coisas antes?”, disse ela em entrevista à rádio CBN.
O que disseram Tarcísio, Flávio Dino e Lula
Em declaração após o ataque, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), destacou a necessidade de repensar as ações para tentar coibir a violência nas escolas.
“É o momento de novamente a gente fazer uma profunda reflexão sobre a efetividade daquilo que a gente tem colocado em prática desde a ocorrência de março, no Thomazia, na Vila Sônia, e infelizmente a gente se depara de novo com essa situação”, disse.
Segundo ele, o colégio contava com ronda escolar ativa e atendimento de psicólogos. Tarcísio também anunciou uma nova reunião entre as pastas de Segurança Pública e Educação.
“A escola tem que ser um local seguro, a escola tem que ser um local de convivência. A gente tem que ter a habilidade de desenvolver nos alunos capacidade para enfrentar situações do dia a dia. A gente tem que combater o bullying, a homofobia. E depois de uma situação dessa você chega à conclusão de que não estamos sendo capazes, ainda não chegamos ao que é ideal", prosseguiu. “O sentimento que fica, além de tristeza, é de frustração.
Estamos consternados com mais um terrível ataque nas nossas escolas. Na manhã de hoje, três alunos foram atingidos a tiros na Escola Estadual Sapopemba e um deles, infelizmente, não resistiu. O autor dos disparos e a arma foram apreendidos. Nesse momento, a prioridade é apoiar os…
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) October 23, 2023
Ao se manifestar sobre o caso, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, disse que o Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça foi acionado para auxiliar a Polícia de São Paulo a aprofundar as investigações.
Solidariedade às vítimas, suas famílias e à comunidade da escola estadual de São Paulo, alvo de ataque com arma de fogo. Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça foi acionado para auxiliar a Polícia de São Paulo a aprofundar as investigações.
— Flávio Dino ???????? (@FlavioDino) October 23, 2023
Já o presidente Lula (PT) questionou o acesso a armas pelos jovens. “Não podemos normalizar armas acessíveis para jovens na nossa sociedade e tragédias como essas”, escreveu o petista nas redes sociais.
Recebi com muita tristeza a notícia do ataque na Escola Estadual Sapopemba, Zona Leste de São Paulo. Meus sentimentos aos familiares da jovem assassinada e dos estudantes feridos. Não podemos normalizar armas acessíveis para jovens na nossa sociedade e tragédias como essas.
— Lula (@LulaOficial) October 23, 2023