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Geólogo diz que "houve falha e negligência" em obra da linha 4 do metrô

Na segunda-feira, vazamento transformou rua de Ipanema em uma "piscina de cimento"

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“Houve uma falha no local. Essa falha foi identificada e negligenciada”. Foi assim que o geólogo Nilton Carvalho deu início à sua explicação sobre o vazamento de polímero na obra da linha 4 do metrô, em Ipanema, Zona Sul do Rio. Na última segunda-feira (12) a Rua Farme de Amoedo, esquina com a Rua Barão da Torre, se transformou em uma enorme “piscina” de uma substância parecida com cimento.

Nilton explicou que a substância que vazou não foi cimento, e sim polímero, uma substância com um menor poder poluente, além de ser biodegradável e se dispersar com a água.

“Pelo que tudo indica, o que vazou não é cimento, e sim um polímero, que é um produto menos poluente. A substância não traz problemas para a população, pois ela é biodegradável. Ela se dispersa com água, e ao contrário do cimento, não endurece”, explicou o geólogo.

Mas se engana quem pensa que por isso os problemas do vazamento estão encerrados. Ainda segundo Nilton, o vazamento pode ser o alerta de problemas que podem vir a acontecer.

“O vazamento em si não é um problema. É um indício do início de um problema, pois o risco de explosões aumenta. Essas explosões não vão atingir um prédio. O que pode acontecer, é afundar o solo da rua. E abrir uma nova cratera”, alertou.

O geólogo explicou todo o processo até a ocorrência do vazamento da substância, que segundo ele, foi onde existiu uma falha durante o processo. Essa falha foi identificada pelos responsáveis pela obra, porém, foi negligenciada.

“Houve uma falha no local. Essa falha foi identificada e negligenciada. Foi ai que aconteceu o problema. A pressão colocada na obra não aguentou, por isso houve o jorro da substância. O Ministério Público já notificou os responsáveis pela obra para justificar o problema. Devido à alta pressão e à pequena cobertura, o local teve fissuras e não aguentou, por isso o vazamento. A cobertura que deve ser feita no local que já foi escavado era menor do que a necessária. Quando a escavação entrou na areia, eles retiraram o equipamento pressurizador, e a substância vazou”.

O Consórcio Linha 4 Sul, é formado pelas construtoras Odebrecht Infraestrutura, Carioca Engenharia e Queiroz Galvão. Todas elas, são envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras, e estão sendo investigadas pela Operação Lava Jato.

Ao ser questionado do risco de desabamentos oriundos da obra, pelo fato de a mesma estar sendo realizada em terreno próximo à praia, e, portanto mais arenoso, o geólogo tranquilizou os moradores e disse que não existe um risco diretamente ligado a isso, somente se não forem realizadas ações de segurança necessárias nas obras, como o caso de pressurização na frente de escavação.

“Em toda a área de Ipanema e Leblon, existe um depósito sedimentar de areia saturada de água. Por isso é preciso colocar pressão na frente de escavação. Caso não exista pressão a água pode entrar e haver o recalque. Ocorre o rebaixamento do lençol freático, e aí sim pode causar um problema. Caso contrário, não existem riscos”, concluiu.

Em seu site oficial, o consórcio Rio Barra S.A, responsável pelas obras da linha 4 do metrô, divulgou uma nota de esclarecimento à população.

Segue a nota na íntegra

Esclarecimento à população

Por volta das 13h45 desta segunda-feira, 12/01, ocorreu um vazamento de polímero durante a escavação do túnel da Linha 4 do Metrô no subsolo da Rua Barão da Torre, esquina com a Rua Farme de Amoedo, em Ipanema. A área foi isolada e limpa. Não há qualquer risco para as edificações do entorno. As obras e a escavação seguem normalmente. As causas do incidente estão sendo analisadas pelo Consórcio Linha 4 Sul, responsável pelas obras da Linha 4 entre Ipanema e Gávea.?

Polímero 

O polímero é um material selante utilizado no processo de escavação para dar mais coesão ao material escavado (areia). ? O material é biodegradável e de fácil remoção. Foram realizadas inspeções nas caixas das redes pluviais e constatou-se que não houve impacto nessas redes. O evento foi localizado e restrito ao cruzamento das ruas Barão da Torre e Farme de Amoedo. O Serviço de Operações de Emergência do Instituto Estadual do Ambiente (Sopea/INEA) também vistoriou o local.

Abertura de duas crateras na Rua Barão da Torre

Em maio de 2014, foi instaurado pela delegada Monique Vidal, titular da 14ª DP do Leblon, um inquérito para investigar a abertura de duas crateras que surgiram na Rua Barão da Torre, durante as obras para a escavação da linha 4 do metrô.

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Na época, além do inquérito instaurado pela delegada, moradores do Leblon e de Ipanema, liderados pelo movimento “Projeto Segurança Ipanema”, entraram com uma representação no Ministério Público pedindo uma investigação sobre o andamento das obras.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, uma das líderes do movimento, Ignez Barreto, disse que a técnica de escavação usada pelas empreiteiras era ultrapassada, e que isso teve relação direta com a abertura das crateras.

“Em outros países essa técnica de escavação já foi abolida, depois de comprovada a sua periculosidade para a população. Sabemos como ela [metodologia de escavação] é arriscada e eles [agentes das empreiteiras] falarem que as rachaduras nas áreas de fundação dos prédios ao redor da cratera não tem haver com as obras é demais. Esse concreto que eles estão colocando agora pode se soltar novamente e a qualquer momento. Esse acidente de agora tivemos a sorte de acontecer de madrugada. Já pensou isso acontecer de manhã?", disse Ignez à época.

*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil