ASSINE
search button

Papa compara injustiças sociais à Cruz de Cristo e volta a falar de corrupção

Compartilhar

O papa Francisco voltou a falar sobre corrupção, durante a celebração da Via-Sacra, na Praia de Copacabana, na noite desta sexta-feira. A exemplo de sua mensagem na comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, o pontífice disse que, na Cruz, "Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho".

Francisco também comparou os problemas sociais ao sacrifício de Jesus Cristo e apresentou uma mensagem de consolo e um apelo por misericórdia. "Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos. Nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos", afirmou.

O papa fez a oração pelos jovens vítimas da tragédia em Santa Maria. O incêndio deixou mais de 200 mortos em 27 de janeiro deste ano. Ele também abordou problemas, como a fome, o racismo e a intolerância religiosa.

O Pontífice transmitiu uma mensagem aos fiéis, ressaltando que "não há cruz, pequena ou grande da nossa vida, que o Senhor não venha compartilhar conosco", e fez um apelo à solidariedade dos peregrinos para com o próximo. "A cruz de Cristo ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto", afirmou o líder religioso, exortando os fiéis a "estender a mão" aos mais necessitados.

>> Papa emociona fiéis ao rezar o Angelus da sacada do Palácio São Joaquim

>> Papa faz a oração de Angelus e destaca a importância dos avós para a família

O pronunciamento do papa Francisco ocorreu após a apresentação da Via Crucis que ocorreu ao longo da orla da praia de Copacabana. Em uma montagem moderna, a apresentação contou com apresentações de dança contemporânea, orquestra e atuação de atores famosos como Eriberto Leão e Cássia Kiss.

O papa chegou a Copacabana por volta das 17h. Ele percorreu de papamóvel o trajeto do Posto 6 até o Leme, onde ocorreria o 3º ato central da JMJ: a encenação da Via-Sacra. No caminho, parou, desceu e benzeu a imagem de São Francisco, uma estátua na Orla. Segundo a organização do evento, o papa foi recebido por 1,5 milhão de pessoas.

Veja a íntegra da fala do papa Francisco ao final da Via-Sacra:

"Queridos jovens,

Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o bem-aventurado João Paulo II quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes: "Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção."

A partir de então a cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta cruz ensina para a nossa vida?

Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que o apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguição do imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou: "Para onde vais, Senhor?". E a resposta de Jesus foi: "Vou a Roma para ser crucificado outra vez". Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na cruz.

Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho.

Na cruz de cristo está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida.

E assim podemos responder à segunda pergunta: o que foi que a cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele! Só em cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida.

O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de "Terra de Santa Cruz". A cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e não só: o cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.

Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz: Pilatos, o Cirineu, Maria, as mulheres...

Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cirineu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cirineu, como Maria?

Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a cruz de Cristo; encontraremos um coração aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor. Assim seja!"