Esta é uma expressão regional nordestina, originária de Pernambuco, para definir um projeto ou sugestão que não acrescente nada ao que se deseja como melhoria de alguma situação. Refiro-me á infeliz ideia (ao final explico por que infeliz), recém-publicada na mídia, de numerar as ruas da Zona Sul em áreas em que a malha viária se apresenta como grade, na classificação dos urbanistas.
Além da ilha de Manhataan, somente Buenos Aires, das cidades que conheço, apresenta o seu traçado em perfeito formato de grade. A infeliz sugestão serviu apenas para despertar a atenção das autoridades da Secretaria de Urbanismo para o fato de que, na verdade, a atual indicação do nome das ruas, merece uma substituição. O tamanho das letras não está de acordo com a percepção. Por exemplo, o P, do PIEV dos motoristas, em face da velocidade máxima, com que, por ali, podem trafegar.
A de Buenos Aires, além de extremo bom gosto, é perfeita quanto ao tamanho das informações, onde incluíram o sentido de circulação na via de referência. A nossa, além do tamanho impróprio das letras, comete o erro de colocar o nome da rua transversal em ângulo reto com a placa da via em que se trafega, por trás desta, o que dificulta ainda mais a sua leitura.
Por acaso, em viagem para Buenos Aires, em 1975, conheci, durante o voo, o arquiteto que planejou a sinalização da capital argentina, Arnold Bechenvald, que se tornou meu amigo. Residia em São Paulo, foragido da situação em seu país, criada pelo governo de Perón. Após este encontro, quando vinha ao Rio, se hospedava em minha casa. Uma ocasião, quando da solenidade do aniversário de 25 anos do Maracanã, no coquetel que se seguiu ao jogo, tive a oportunidade de apresentá-lo ao ex-presidente Médici, que, ao saber de sua intenção de tentar trabalhar em São Paulo, observou: “O senhor está certo em vir para cá. Neste país se valorizam, muito mais, os técnicos e as iniciativas vindas do estrangeiro do que as originárias dos brasileiros” (é o caso da sugestão).
Aproveito esta oportunidade para sugerir um concurso entre os nossos arquitetos para se substituir as atuais placas, obedecendo ao tamanho correto para seus caracteres, em respeito à percepção do motorista, incluindo a indicação do sentido de direção e conservando sempre a indicação do CEP.
Voltando ao título, como disse originário de Pernambuco, no sábado, dia 8, recebi a visita de um amigo pernambucano. Chegou à minha casa, na Barra, dirigindo um carro alugado no aeroporto, oriundo de seu hotel, em Botafogo, orientando-se pelo GPS. No seu caso e no de qualquer turista motorizado, dirigindo um carro com GPS, o projeto proposto é uma autêntica “encangação de grilo”,no dizer do meu visitante.
Agora a explicação do por que considerei a ideia infeliz: Tentar substituir o conhecimento das ruas por números, embora mantendo o nome delas, todas com nomes de pessoas, tem tudo a ver com o que faziam os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, para identificar os seus prisioneiros nos campos de extermínio, embora, como agora sugerido, conservassem seus nomes. Esta observação faço em homenagem ao meu amigo arquiteto Arnold, judeu, falecido em acidente de carro, na Via Anhanguera, em São Paulo, onde repousam seus restos mortais, no cemitério judaico da capital daquele estado.
* Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio. - [email protected]