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Colisões e atropelamento na rota do BRT 

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Com este título, O Globo da terça-feira última noticiava o que está acontecendo na faixa exclusiva, com o piso em cor vermelha, por onde circulam exclusivamente os ônibus articulados, que constituem o sistema BRT. Termina a notícia com o seguinte parágrafo: “O sistema de ônibus articulados foi planejado para funcionar como um transporte sobre trilhos”. E eu acrescentaria o que sempre afirma o seu introdutor, o diligente secretário Alexandre Sansão: “É um metrô de superfície.”

O seu propósito principal é tornar este transporte de massa mais rápido e confortável, capaz de incentivar, aos proprietários de carros de passeio, a utilizarem-na em vez de usarem seus carros.

Como sempre, o noticiário da mídia, de um modo geral ou noticía apenas ou além da notícia, apresenta uma crítica. Sugestão ou soluções possíveis, jamais. Quando elas aparecem, é sob a forma de “cartas dos leitores” ou entrevistas de especialistas, que, com raras exceções, jamais tiveram a oportunidade de ocupar um cargo público com a responsabilidade de fazer o que recomendam, à guisa de solução. Para mim, que já fui “vidraça” não me agrada, nem me dá o direito de atirar pedras. Quando condeno, por ser o “decano” na área da ciência do controle de trânsito, como me chama respeitosamente o engenheiro inglês Alan Carrell, da equipe de Jaime Lerner, apresento junto a solução. Tenho sempre presente a recomendação do livro-texto sobre liderança da Academia Naval de Anápolis, quando alerta: “A crítica destrutiva está ao alcance de qualquer medíocre, e a maioria deles não perde a sua oportunidade”. Infelizmente, é o que mais se vê.

A matéria em questão dá uma deixa para facilitar  a análise do problema, quando diz que o sistema foi imaginado para o transporte sobre trilhos... Mesmo quando existia no Rio, o transporte sobre trilhos, do saudoso bonde, os acidentes aconteciam, mas com os veículos raramente aconteciam atropelamentos. A existência do trilho alertava o pedestre do perigo a que estava sujeito.

Quando, em 1981, trabalhei como consultor em Goiânia, pude opinar, no sentido de evitar atropelamentos, quando uma brilhante urbanista de São Paulo propôs a transformação da importante Via Anhanguera em rua de pedestres, mantendo em seu centro uma via de mão dupla para ônibus. O seu excelente projeto tinha como inovação, e eu aprendi isso, a variação da largura das calçadas, de acordo com o tipo de loja de comércio existente na via, criando um trajeto sinuoso, a fim de tirar dos ônibus a monotonia das retas e manter os seus motoristas alertas para com os pedestres. Como a frequência dos ônibus não permitia um fluxo contínuo deles, muito ao contrário, a sua frequência era de cerca de três a quatro minutos, sugeri que, entre a calçada e a pista dos coletivos, se criassem ciclovias marginando-as e acompanhando o sentido de circulação dos coletivos, uma vez que naquela cidade era muito intenso o tráfego de bicicletas que, como seria quase contínuo, manteria os pedestres alertados para o perigo da travessia das pistas. A proposta foi aceita com os agradecimentos da eminente urbanista Rosa Kliers, que teve a humildade de ouvir a voz da experiência.

No nosso caso, o ideal seria que isso fosse feito nas travessias de pedestres que se dirigem às estações de embarque, protegidas por semáforo e o mais próximo possível das mesmas. O ideal também seria a colocação de gradil somente permitindo a travessia nos locais determinados para tal. Ou, quem sabe, a ideia que dei para Goiânia, introduzindo ciclovias ao longo das pistas exclusivas, junto a elas, acompanhando o sentido de deslocamento dos ônibus e separadas por meio-fio do fluxo dos demais veículos, caso se tivesse um fluxo intenso de ciclistas.

Lembrem-se os senhores técnicos da CET-RIO de que, apesar da providência da colocação de avisos de alerta em placas, distribuídos ao longo destas vias, alertando os pedestres, a única lei a que ele e o motorista obedecem fielmente  é a do menor esforço. 

* Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio. - [email protected]