A história do pensamento político pode ser resumida na busca da solução do problema moral em política. Esta se revela sempre mais como lugar em que se explicita a vontade de potência, imersa numa realidade. Aquele que não subordina as exigências da moral às exigências da política, mas interpreta os princípios da prudência de modo a fazer com que eles coexistam com a moral, enfrenta hoje os desafios de uma realidade imposta.
No poema “O Corvo”, Edgar Allan Poe (em tradução de Fernando Pessoa) imortalizou essa realidade política:
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um Corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nenhum momento,
Mas com ar sereno e lento pousou sobre os meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo”, eu disse. “Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”.
Disse o Corvo, “Nunca mais”.
O persistente afastamento entre moral e política entre nós vem da força dos pactos ainda recobertos pelo segredo.
* Engenheiro