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Amanhã será um novo dia

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Tenho visitado as escolas ocupadas legitimamente pelos alunos secundaristas do Rio de Janeiro. Nessa época de tanto ódio social e destempero nas relações entre as pessoas. É um alento ver e testemunhar que o Brasil tem futuro através de sua juventude. Os jovens estudantes, aproveitando o vazio da greve dos professores por melhores condições de trabalho, aduziram as suas reivindicações que são resumidamente por uma educação democrática de qualidade. Pleiteiam alcançar o objetivo tão bem resumido na frase de Jigoro Kano: “Nunca te orgulhes de haver vencido a um adversário, ao que vencestes hoje poderá derrota-lo amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância”.

O que pretendem os jovens estudantes? A democratização do ensino, assegurando-lhes a ampla participação juvenil na formulação, implementação e a avaliação dos currículos educacionais; acesso à produção cultural, à prática esportiva; condições de respeito a seu processo de desenvolvimento com instalações adequadas, aparelho de ar condicionado, carteiras para todos os alunos, sem excesso no número de alunos, acesso aos laboratórios, equipamentos de esportes, livros e biblioteca, instalações democrática dos grêmios, escolha democrática dos diretores das escolas.

Esse despertas dos jovens para a cidadania é motivo de muita alegria, porque acredito que passados 26 anos de vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, estão surgindo os “filhos do Estatuto”. Essa nova geração que se apodera de seus direitos e assume a condição de sujeitos de direitos para fazer valer sua cidadania. Após essa “primavera estudantil” as relações professores/alunos, e sobretudo as relações com o poder público responsável pelas políticas educativas terão que mudar radicalmente.

Não foi diferente a alegria de ver e convocar jovens funkeiros, que antes eram vítimas de preconceitos e perseguições, inclusive pelo autor desse artigo, convocar a cidadania para uma manifestação cívica em favor do respeito à Constituição e às leis. Justo eles que são vítimas de violência contra seus direitos mais comezinhos de sobrevivência, ocupar civilizadamente as ruas de Copacabana, que tantas vezes lhes foram interditadas para pedir ordem e respeito às leis. A lição de cidadania que foi protagonizada pelos jovens da periferia é de causar inveja às organizações mais radicais e conservadoras. A resposta veio com o silencio incomodado da grande mídia e da reação persecutória de alguns segmentos mais conservadores e reacionários da sociedade. 

*  desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia.