Normalmente, o excesso de zelo na relação com o bebê é observado principalmente na relação de pais e mães de primeira viagem. O desconhecimento acerca daquele ser tão pequeno e aparentemente frágil gera medo e ansiedade. O fato de que não nascem acompanhados de um "manual de instruções" e que podem apresentar problemas a qualquer momento gera como defesa, principalmente dos pais iniciantes, o zelo excessivo, com intuito de proteger o bebê e a eles mesmos da ansiedade e surpresas que possam ocorrer à prole pequena e indefesa.
Tal ansiedade tende a diminuir à medida que pais e bebê desenvolvem conhecimento mútuo e se adaptam, tendendo o excesso de zelo também a diminuir. Em alguns casos, porém, percebemos que o excesso de zelo permanece ou se exacerba à medida que a criança cresce. As características de personalidade de cada pai podem acentuar a ansiedade normal e natural desta fase de adaptação podendo atrapalhar o desenvolvimento da criança e a relação do casal e algumas vezes tornando-se patológico.
O excesso de proteção impede que a criança explore e "vá para o mundo", buscando e enfrentando desafios.
As dificuldades apontadas na literatura para que uma pessoa superproteja o filho são: a imaturidade frente à sua angústia, o que leva a agir como pais executivos abafando a autonomia da criança. Outro motivo comum é o fato de que a criança pode ser o único ou um dos poucos vínculos afetivos destes pais, e então há a dificuldade de se desvincular e deixar o filho crescer.
Os pais podem também projetar nos filhos suas inseguranças e dificuldades, e vendo tais dificuldades passam a superprotegê-los.Portanto, a conscientização dos sentimentos frente aos papéis parentais e dificuldades pessoais é a chave para que os pais possam criar filhos de forma mais autônoma.
Dificuldades e o zelo excessivo iniciais são normais, mas devem se transformar em relações de confiança que preservem a individualidade de cada um, gerando filhos capazes de desbravar a própria vida.Todos nós somos incompletos e saímos em busca de complementações parciais nas relações amorosas desenvolvidas ao longo da vida. Por isso, podem ser graves os quadros de sade mental quando o filho é convencido a permanecer ligado emocionalmente à mãe, pois vive a ilusão de que ela o completa por inteiro.
* Andreia Calçada, psicoterapeuta, pós-graduada em psicopedagogia é especialista em psicologia clínica e psicopedagogia clínica, além de autora dos livros 'Falsas acusações de abuso sexual' e 'O outro lado da história'.