Na minha juventude tive o prazer de assistir a um filme com o título O rato que ruge (The mouse that roared). O filme era uma sátira bem humorada, com o imortal Peter Sellers, sobre um pequeno país ou ducado (Grão-Ducado de Fenwick), incrustado na Europa em grave crise financeira, que declara guerra aos Estados Unidos. A intenção clara era perder a guerra para salvar da falência eminente, — uma hipótese engendrada pelos seus governantes — para receberem ajuda econômica de pós-guerra, como ocorreu com a Alemanha. Assim, seus problemas econômicos terminariam. Desta forma 20 homens armados de arco e flecha tomam uma barcaça, atravessam o Atlântico, chegam à América, e tudo corre bem. Mas um problema acontece: eles ganham a guerra, que não era plano de seus governantes.
Parece que a profecia (menos o desfecho) agora está querendo se concretizar com novos personagens e ingredientes. O enredo para quem viu o filme é idêntico ao que se está esperando sobre a Coreia do Norte. A diferença de hoje é que não se está brincando de arco e flecha, mas bombas atômicas. As coisas são muito mais sérias do que aquela singela comédia. Segundo informações filtradas pela imprensa internacional, o arsenal militar é significativamente superior ao da Coreia do Sul.
Não deixa de ser curioso que o pano de fundo é o mesmo, uma grave crise econômico/financeira. Infelizmente, um jogo perigoso demais, pela perda de vidas humanas que podem ocorrer se não houver acordos. Se houver, certamente será com ganho de recursos, pois para ninguém interessa a guerra. Na atual crise econômica mundial, para os Estados Unidos aliados da Coreia do Sul é melhor negociar oferecendo recursos no mesmo valor que teriam com um conflito real. Em vez de perderem recursos, pessoas, materiais, ao fazer uma “doação” deste valor, — para eles (EUA) uma titica — é bem mais barato que o custo de um conflito real. Não vale a pena brigar. Esta é a chantagem ou blefe da Coreia do Norte. Em guerra nunca se subestima o adversário.
Por outro lado, se a Coreia do Norte buscar o sacrifício de sua nação pelo caminho da guerra, será uma destruição total. Haverá neste caso aportes de recursos para reerguer a nação, mas não mais com os atuais mandantes, que serão varridos do mapa. Este será o preço a ser pago pela tirania.
Entretanto, o filme de hoje tem novos personagens e novas nuances. O “rato” tem um vizinho muito forte, que poderá acudir-lhes: a China que lhe faz fronteira. Pelo tabuleiro da política internacional, nada indica a simpatia dela neste sentido. A China atual está muito mais preocupada em tirar seu país da miséria; em atender uma população imensa, desejosa dos frutos do progresso. A Coreia do Norte, embora seja um país da mesma linha ideológica da China — seus métodos de governar “stalino-gulaguiano-esclerótico-surrealista” (do blog Paulo Roberto d e Almeida), tendo à frente um jovem imaturo — não mais simpatiza com qualquer país deste mundo globalizado.
Vê-se assim que o rato de hoje não terá a mesma chance de sucesso, nesta aventura suicida. Espera-se que o bom-senso prevaleça. Enquanto o rato ruge, a depauperação do país levará a sua implosão, onde haverá a reunificação da península coreana, tal como aconteceu com a Alemanha.
* Sergio Sebold, economista, é professor.