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Sem medo de ser mulher

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“Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer/ Participando sem medo de ser mulher”. Com o refrão desta música de Zé Pinto, muito conhecida nos movimentos sociais e pastorais populares, as mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) receberam a presidenta Dilma no seu 1º Encontro Nacional em fevereiro no Parque da Cidade em Brasília, com o lema Na sociedade que a gente quer, basta de violência contra a mulher. 

Foi emocionante ver a presidenta batendo palmas no ritmo alegre e festivo da música, que diz mais: “Porque a luta não é só dos companheiros/ participando sem medo de ser mulher./ Pisando firme sem medir nenhum segredo/ participando sem medo de ser mulher./ Pois sem mulher a luta vai pela metade/participando sem medo de ser mulher”. 

A Declaração final do Encontro das Mulheres Camponesas reflete a letra da música, quando fala dos desafios colocados hoje: “O fim da violência exige a luta pela transformação da sociedade e das relações humanas. Mulheres e homens precisam reencontrar a dignidade e compreender sua ação como parte do universo; fortalecer e ampliar a organização dos grupos de mulheres como espaço de reflexão, conscientização de sua condição na sociedade e formulação de estratégias da luta camponesa e feminista; promover a autonomia econômica, política e social das mulheres e fortalecer a luta contra a violência; participar e assumir os espaços de decisão e poder”. 

Estamos num tempo em que é preciso afirmar por inteiro o "sem medo de ser mulher”. Mulher participante, ativa, com vez e voz e "assumindo os espaços de decisão e poder". Ou, nas palavras da presidenta Dilma: “Eu fico feliz porque acredito que a ação associativa de uma cooperativa, ela também tem o poder imenso de organizar a participação, que foi o lema desse canto que escutei: Participando sem medo de ser mulher. E participando aqui é participando na cooperativa, é participando nas associações de mães, enfim, é participando”. 

Mas é bem mais que isso. É ser agente da história por inteiro. De novo, nas palavras da presidenta Dilma: “O Brasil precisa da mulher camponesa na condição de cidadã, não é na condição de produtora somente, é na condição de cidadã. Precisa da sua inteligência, precisa da sua força, precisa da sua experiência, precisa da sua coragem, porque a gente sabe que na vida é preciso ter coragem. E também da sua mão incansável para continuar avançando na construção de uma sociedade em que a igualdade entre homens e mulheres seja regra e nunca exceção”. 

Não é pouca coisa. É mais que sonhar. É ter projeto, é querer a transformação. 

Sem medo de ser mulher. Para isso, segundo as mulheres camponesas, “é indispensável a luta, a organização e formação, potencializando as experiências de resistência popular, onde as mulheres sejam protagonistas de sua história”. 

Nas palavras da presidenta Dilma, no 11º Congresso das Trabalhadoras e Trabalhadores da Contag, esta semana: “Nós temos um papel tão importante na sociedade como temos nas nossas famílias. E esse papel, na sociedade, é aquele mesmo que nos transforma de guerreiras em mães, de lutadoras em companheiras. E eu considero muito importante a firmeza e a determinação que cada uma das mulheres brasileiras eu sei que tem”.

E no Encontro Nacional do MMC, de novo a presidenta Dilma: “No refrão que vocês aqui repetiram, com muita força – para mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher – é um refrão que mostra a força e o espírito deste encontro. De fato, a mulher brasileira, moradora no mundo rural, militante e participante da vida da sua família, dos seus, da sua comunidade, tem necessidade de ter uma grande força. Uma força e, ao mesmo tempo, uma altivez, uma cabeça erguida, uma sensação forte de autoestima, e aquela teimosia, aquela tenacidade, aquela determinação que tem em cada mulher, em cada mulher jovem, em cada mulher mãe, e, eu sempre acrescento agora, em cada mulher avó”. 

Não é fácil, há muito que caminhar. Poderíamos, e devemos, todas e todos cantar com Milton Nascimento, a bela Maria Maria, neste Dia Internacional da Mulher: “Mas é preciso ter força/ É preciso ter raça/ É preciso ter gana sempre/ Quem traz no corpo a marca/ Maria, Maria/ Mistura a dor e a alegria./ Mas é preciso ter manha/ É preciso ter graça/ É preciso ter sonho sempre/ Quem traz essa marca/ Possui a estranha mania/ de ter fé na vida”. 

Viva as mulheres de coragem, que não têm medo de serem mulheres. E participam. E vão à luta. E têm fé na vida.

* Selvino Heck é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República.