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Bem perto de nós

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Nesta sexta-feira, 15 de fevereiro, o asteroide batizado de 2012 DA 14, com cerca 50 m de diâmetro, passará a 27.700 km da superfície terrestre, algo equivalente a 7% da distância média Terra-Lua. A aproximação é um recorde para objetos daquele tamanho e ocorrerá às 16h26 de Brasília. A Nasa garantiu que ele não se chocará contra a Terra, o que poderia ser trágico diante de seu poder de mil bombas de Hiroshima. Futuramente, ele voltará a cruzar a órbita da Terra e talvez chegue mais próximo ainda. 

Tal fato mostra que o espaço exterior não é tão vazio e sereno como à primeira vista parece. Diariamente, caem na superfície 40 toneladas de poeira cósmica, pois o nosso planeta funciona como um grande aspirador de pó sugando partículas que entram em seu campo de gravidade. Mas a atmosfera age como um escudo protetor e destrói por fricção alguns bólidos que a penetram, como os meteoros, chamados de estrelas cadentes. Mas o escudo não é perfeito, e outros corpos podem colidir com a Terra. 

Isso ocorreu em Tunguska, na Sibéria, em junho de 1908. Na verdade, não houve impacto, pois o cometa explodiu no ar e mesmo assim destruiu mais de 1.500 km2 de florestas. O efeito parecido à explosão de uma bomba nuclear (10-15 megatons; 1 megaton = 1 milhão de TNT) produziu ondas sonoras detectadas em Londres. Estatísticas indicam que casos como os de Tunguska acontecem a intervalos de 100 anos, ao passo que impactos de corpos da ordem de quilômetros ocorrem em espaços de dezenas de milhões de anos. Neste caso, um impacto ejetaria na atmosfera enorme quantidade de gás e poeira perturbando globalmente o clima e toda a espécie vivente. O repentino desaparecimento dos dinossauros é creditado ao choque de um asteroide de 10-15 km, que abriu uma cratera de 200 km de diâmetro em Chicxulub, no México, há 66 milhões de anos. Ressalte-se que isso possibilitou o domínio dos mamíferos na Terra.

O que dizer do Brasil? 

Aqui foram identificadas cinco crateras de impacto com diâmetros de quatro a 40 km, e a maior delas, o domo de Araguainha, na divisa GO-MT, está a 500 km de Brasília. Estimamos que tal impacto, acontecido 240 milhões de anos atrás, gerou um terremoto com magnitude ao redor de 11 — o maior já registrado foi 9,5, no Chile. Em 1836 um “meteorito passou sobre o Ceará e explodiu sobre a vila de Macão, na entrada do rio Assú, derramando fragmentos de pedras, muitas das quais penetraram em casas e destruíram um gado”. Em 1889 a queda ou explosão de um pequeno corpo celeste na fronteira SP-PR estremeceu a área. Durante uma excursão de geologia da UnB, em 1971, foi encontrado um meteorito de quase 300 kg em Goiás. Após viajar com velocidades hipersônicas, hoje ele jaz imóvel, mas em local de destaque no Museu de Geociências da UnB. A própria universidade opera uma estação de infrassom capacitada a registrar a entrada de meteoritos na atmosfera, embora seu principal papel seja ajudar a vigiar o mundo das explosões nucleares.

Instituições internacionais perscrutam o espaço em busca de “corpos perigosos”, e, quando identificados, suas trajetórias podem ser previstas com muita antecedência. Na eventualidade de nos encontrarmos na mira de um deles, é de supor que a humanidade esqueça suas desavenças e congregue esforços e conhecimento científico para tentar evitar um cataclismo. 

 

* Alberto Veloso, geólogo, é autor do livro 'O terremoto que mexeu com o Brasil'. - [email protected]