Da mesma forma que ficou famosa a conhecida indústria da seca do Nordeste brasileiro, na Região Sudeste, criou-se outra importante fonte de renda para alguns espertalhões da iniciativa privada e do poder público: a indústria da degradação! É incrível a imaginação maquiavélica ou mais “mudernamente” falando, o fértil empreendedorismo do lado sombrio da força de alguns de nossos maus empresários firmemente associados com representantes da classe política brasileira.
Quando olho lá do alto o tenebroso espetáculo de degradação ao qual o moderno administrador público tupiniquim gerou nos corpos dágua da paisagem considerada recentemente patrimônio mundial pela Unesco, chego à conclusão de que tudo aquilo não é gerado aleatoriamente. Existe um claro propósito! E o propósito é o de faturar muita grana a qualquer custo. Avaliando os pífios resultados ambientais gerados pelo monumental Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, consumidor de mais de 1 bilhão de dólares nos últimos vinte anos, fruto da mais profunda certeza da impunidade em relação ao uso e abuso do dinheiro público por “aloprados ambientais”, chega-se à singela avaliação, segundo a estatal Cedae, de que ocorreram denominados “equívocos técnicos”!
Pois é, no país onde pilantragem virou malfeito e pilantras são lúdicos aloprados, imaginem o sinônimo de “equívocos técnicos”. Ora, ora, imaginem onde deve ter ido parar boa parte desse um bilhão e tantos milhões de dólares diante dos resultados dantescos que observamos. Infelizmente, não foram parar no que se esperava, ou seja, na melhoria da qualidade ambiental da baía que até hoje sufoca em rios de merda e lixo. Mas a Baía de Guanabara não está sozinha nessa linha de montagem de monstrengos ambientais. Recentemente, pela imprensa foi tornado público fato do que boa parte dos pescadores da Baía de Sepetiba já sabia, há pelo menos três décadas, ou seja, o lançamento criminoso de toneladas de resíduos químicos produzidos pela estação do Guandu, como subproduto do tratamento que a mesma efetua nas águas pútridas que abastecem a maior parte da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Diversas vezes fui informado por pescadores da região de que de tempos em tempos enormes volumes de peixes apareciam mortos próximos da foz do rio que despeja os rejeitos químicos da estação do Guandu na Baía de Sepetiba. Quando colocado à frente desse fato pela imprensa, o “responsável” confirma a situação como se fosse a coisa mais banal possível, informando como de praxe naquele discurso básico no gerúndio que a estatal está pensando, avaliando o que irá fazer.
É nisso que eles vão pensando, visto que estão acima do bem e do mal, o secretário de Ambiente do estado exige uma solução para os próximos não sei quantos dias, que provavelmente serão prorrogados até que o assunto se decante como os produtos químicos no fundo da baía. Alguém será processado? Que nada! Afinal, são todos simples companheiros aloprados!
Quando você passa o olhar pelas lagoas da Baixada de Jacarepaguá, a situação é a mesma. Muitos números, percentuais, litros de esgoto tratado, centenas de milhões de reais investidos que em nada refletem a podridão e a imundície da bacia hidrográfica local e do sistema lagunar. Apesar de inúmeros convites, nem o presidente da Cedae nem o secretário de ambiente tem tido tempo para vistoriar comigo o resultado prático de seus números faraônicos em comparação com os também não menos faraônicos números de coliformes fecais, cianobactérias, gigogas, sofás e pneus que abundam nas lagoas e rios da região. Infelizmente, o quadro no qual eu convivo é bem diferente do mundo cor de rosa da suntuosa e “muderna” sede da estatal Cedae.
Também não é para menos tamanha suntuosidade! Imaginem, pagamos mensalmente para a Cedae uma conta cuja metade do valor diz respeito ao fornecimento de água e a outra metade por coleta e tratamento de esgoto. Ops! Mas qual tratamento? Se você encontrar algum rio que tenha água pura na Cidade Maravilhosa é um puro milagre, visto que praticamente toda a bacia hidrográfica foi transformada num imenso valão de esgoto, seja no Canal da Visconde de Albuquerque, em pleno Leblon, no Canal do Mangue, no centro da cidade, ou nos “rios” Sarapuí e Iguaçu em Duque de Caxias. Portanto, é claro, muita gente vem pagando por serviços que simplesmente não são prestados no maior processo de estelionato ambiental e a maior fábrica de fazer dinheiro que este estado já teve!
Não é a toa que a Cedae continua e continuará sendo a caixa preta intocável do estado do Rio de Janeiro, e os corpos dágua continuarão as latrinas — assim parecem! Concluo, disso depende o lucro da estatal!
De tempos em tempos, ocorrem aqueles encontros de escoteiros ambientais, onde todos mostram sua “expertise” no assunto, com marchas, peitos de fora, caras pintadas e onde para marcar presença na mídia, com todo estardalhaço se liberam mais alguns milhões, bilhões, trilhões de dólares, reais, euros, ienes para a recuperação disso e daquilo que invariavelmente irão escoar pelo ralo da impunidade, do jeitinho esperto tupiniquim, pela indústria da degradação e pelos equívocos técnicos de concepção.
Não interessa recuperar, pois caso contrário os empréstimos não irão mais acontecer, e a linha de montagem idealizada por “aloprados ambientais” acaba parando e aí como é que fica o financiamento das campanhas de nossos futuros líderes. Infelizmente, soluções objetivas com resultados rápidos não interessam, senão a máquina dos “equívocos técnicos” se torna obsoleta, e aí como é que fica o “meu”?
Fato é que daqui a quatro anos teremos a Olimpíada na cidade do Rio de Janeiro, e seu ambiente continua aos pandarecos, com muita grana concentrada, com muitas ideias extraordinárias, mas ação que é boa sem “equívocos” bilionários, até o momento nada.
Mais uma vez, o tempo será o vilão dos resultados ambientais pífios segundo nossos administradores siths. Será aquela frase de praxe: "Não deu tempo!". Deu para fazer o que o tempo permitiu e acabará prevalecendo o puxadinho ambiental, igualzinho ao que fazem nos aeroportos. Muita obra “a toque de caixa”, com aqueles aditivos maravilhosos, horas extras, visando ganhar o tempo deliberada e intencionalmente perdido, engrenagem azeitada da indústria do quanto pior, melhor.
O Brasil, sua história, sua classe política, seus administradores públicos, são assim, e são dessa forma “aloprada de ser”, pois conhecem por dentro a sociedade que tem nas mãos. Tomara que eu esteja errado!
Obs: Autoridades, ambientalistas históricos, equivocados e aloprados em geral, não percam tempo me respondendo. Usem esse produto do Big Bang chamado tempo de forma mais produtiva trabalhando e mostrando que tudo que escrevi acima é apenas um surto psicótico, fruto da aspiração excessiva do metano proveniente das lagoas, rios e baías apodrecidas e, portanto, completamente perdoável. Tenho certeza de que diante dos resultados que os senhores produzirão ambientalmente nos próximos três anos em nossos corpos dágua, os mesmos calarão meus dedos nervosos deste teclado. O tempo, novamente ele, dirá quem de verdade é psicótico!
* Mario Moscatelli é biólogo. - [email protected]