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Túnel Transandino, sonho realizado 

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Depois de 88 anos de espera, por fim, no dia 20 de dezembro de 2011, data que ficará marcada na história do Peru, foi concluída a escavação – breakthrough, BT – do Túnel Transandino, em plena Cordilheira dos Andes.

Como descrito no texto Projeto Olmos: Irrigação e desafios nos Andes, publicado neste Jornal do Brasil, edição de 14/11/11, o Túnel Transandino faz parte do Projeto Trasvase Olmos (www.h2olmos.com), que está sendo executado pela Odebrecht Perú (subsidiária da Odebrecht América Latina e Angola) e levará parte das águas do Rio Huancabamba, situado na vertente do Atlântico (oriental) para o outro lado na vertente do Pacífico (ocidental).

Com uma extensão total de 20.095,58 metros, aproximadamente 15 mil metros foram escavados com a utilização do equipamento TBM (Tunnel Boring Machine - tuneleira), com 5,33 metros de diâmetro –, sendo que o túnel revestido de concreto tem uma seção média de 5,00 m de diâmetro. Seguindo a metodologia corrente, a escavação se iniciou no sentido de jusante para montante (do Pacífico para o Atlântico), aproveitando a declividade e assim facilitando a drenagem das possíveis infiltrações que ocorrem durante a construção.

Os restantes 5.095,58 metros foram executados no sentido de montante para jusante na forma tradicional (perfuração e detonações), vez que em décadas passadas já haviam sido feitas tentativas, que foram abandonadas.

Nesse ponto, seis quilômetros adentro do túnel, onde se encontraram as duas escavações – com a TBM e a tradicional – foi realizado o BT, e as duas vertentes, por fim, se uniram para sempre.

Tendo por cima 1.932,30 metros da Cordilheira dos Andes – é o segundo túnel mais profundo do mundo (o primeiro é o Gotthard Base Tunnel, na Suíça, 2.500 m) –, a autorização para a escavação do último metro, executado pela TBM, foi dada pelo presidente da República do Peru, Ollanta Humala Tasso, cuja comitiva era composta pelo governador do estado de Lambayeque, Humberto Acuña, autoridades regionais, parlamentares, pelo diretor superintende da Odebrecht Perú, Jorge Henrique Simões Barata, Integrantes do projeto e convidados (incluído o autor destas linhas).

O ruído crescente da TBM Pachamana indicando que a escavação estava avançando e, por fim, vê-la surgir bela e grandiosa, após romper a última barreira de rocha e sentir que o sonho de uma nação havia sido realizado, confesso que, como engenheiro, foi uma experiência emocionante e inesquecível.

Nota: é usual em obras de túnel que utilizam TBM “batizá-la” com um nome feminino. No caso do Peru, ela foi batizada de Pachamana, que é uma crença religiosa adotada pelos habitantes dos Andes Centrais da América do Sul. Ela representa a Terra em todo o seu conjunto. A origem do nome vem do quéchua Pacha = Terra e Mama = Mãe, ou seja, Mãe Terra.

Os números do Túnel Transandino são grandiosos: a) foram escavadas 900 mil toneladas de rocha, na sua maioria de grande dureza, agravada pelo surgimento de constantes estallidos (explosões derivadas da energia acumulada na rocha que chegaram a danificar a TBM); e b) lançados 61.290 metros cúbicos (m³) de concreto. Durante a execução da obra foram geradas 251 oportunidades de emprego direto e outros tantos indiretos.

Terminado o Túnel Transandino, parte-se agora para a segunda etapa, que são as obras para a distribuição das águas para a irrigação da região de Olmos. As águas sairão do túnel numa altitude de 1.070 msnm (metros sobre o nível do mar) e, através do canal natural Quebrada Lajas, chegarão à região a ser irrigada na cota 142 msnm (esses detalhes e o grande alcance do projeto serão tratados em outro texto).

Como resultado do alto grau de dificuldade para sua execução, o Túnel Transandino recebeu no fim de 2011 o Prêmio Tunnels & Tunnelling pelo projeto Tour de Force ® do ano. Esse prêmio é outorgado anualmente para o projeto, a nível mundial, que tenha superado grandes adversidades e desafios. Essa premiação é patrocinada pela revista Tunnels & Tunnelling International ® e tem o respaldo da renomada British Tunnelling Society (BTS ®). 

Como bem expressou o diretor superintende da Odebrecht Peru, Jorge Simões Barata: “A culminação da perfuração do Túnel Transandino foi conseguida graças à participação, colaboração e, muitas vezes, o sacrifício infatigável dos nossos integrantes que souberam, com engenhosidade, superar as dificuldades geológicas e tecnológicas, com a certeza de que, ao fim do túnel, se veria a luz que traria o desenvolvimento para essa região e para o país”.

* Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e saneamento.