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Passeata dos 100 mil: 'Glorioso e pacífico momento histórico', diz Evandro Teixeira

Manifestação completa 50 anos no próximo dia 26

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Depoimento de Evandro Teixeira, fotógrafo, 82 anos, autor do livro “1968 destinos 2008: Passeata dos 100 mil”:

“Estava com 32 anos e saí do jornal para acompanhar Vladimir Palmeira, que podia ser preso a qualquer momento pelo coronel Burnier. Era bonito ver a chegada dos blocos de estudantes, de artistas — como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Nana Caymmi, Tônia Carrero e Grande Otelo, entre outros — de intelectuais, de freiras. Vladimir era impressionante, trepou na árvore para falar, sem alto-falante ou microfone, era tudo no gogó. Foi um dia glorioso, pacífico. Emocionante ver aquela multidão de cabecinhas sentadas no chão, no maior respeito, enquanto Vladimir falava. Comecei a trabalhar de manhã, e foi o dia inteiro. O comício começou na Cinelândia, foi até a Candelária e terminou em frente ao Palácio Tiradentes, na 1º de Março. Vladimir falou pela última vez, entrou no seu fusca verde e foi embora. Minha foto foi escolhida para a primeira página pelo editor de fotografia, Alberto Ferreira. Nisso, os estudantes faziam barricadas em frente à sede do JB, agradecendo por nossa cobertura, e os jornalistas aplaudiam de uma varanda lá de cima. Irritados, os militares censores entraram na redação e, quando viram minha foto, a destruíram. O durão editor, Alberto Dines, esboçou reação, mas acabou que publicaram na primeira outra foto minha, mais genérica. A outra, da qual havia uma cópia, é capa do meu livro, com aquela multidão de cabeças e, ao fundo, a faixa em destaque: “Abaixo a ditadura, povo no poder”. Já naquela época, eu tinha consciência do poder da fotografia em conter o momento histórico”.

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