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Grupo de bordadeiras distribui peças com mensagens em prol da democracia

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Um encontro na Praça São Salvador, as origens mineiras e a formação de forte teor político na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) foram o pontapé inicial para o movimento Linhas do Rio, nascido em fevereiro. Filhote do Linhas do Horizonte, originado em Belo Horizonte, um grupo de 50 mulheres lideradas pela designer carioca Maria Eugênia de Castro Barros, 61, borda lenços, toalhas e faixas como símbolos de resistência democrática. As peças menores são oferecidas gratuitamente na Feira da General Glicério, em Laranjeiras, na Zona Sul, aos sábados, e as maiores são guardadas para turbinar manifestações pelo país.

Claro que Marielle já entrou entre os temas abordados, porém, tudo começou para tentar evitar — e agora para cobrar a saída – de Lula da prisão. “Fui apresentada ao Linhas do Horizonte em fevereiro, que já reúne cerca de cem pessoas na capital mineira, durante vigília no julgamento de Lula pelo TRF-4, em fevereiro. Propus a criação do Linhas do Rio, e o movimento tem se multiplicado por São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul”, diz Maria Eugênia.

De origem mineira, ela aprendeu a bordar desde pequena. Manteve o hábito e presenteia filhos e netos com suas criações. No Linhas do Rio, passou a direcionar seu talento à causa que ela cultiva desde os tempos da Esdi, antigo centro de produção de panfletos e ponto de refúgio para militantes contra a ditadura. “Bordamos lencinhos com mensagens como “Lula Livre”, “Marielle presente”, “Que nada nos limite!”, entre outras mensagens, e distribuímos na feira. Tem um apelo lúdico muito grande, todo mundo quer levar o seu”, conta.

Se em Minas o grupo mescla homens e mulheres, por aqui o Linhas do Rio ainda é um clube da Luluzinha. Elas trocam ideias enquanto bordam, e o movimento vai conquistando mais adeptas. Os lenços são fixados na palmeira do canteiro central da General Glicério e é gostar, pegar e levar. Elas também confeccionam flores de papel crepom para distribuir. “Nem todas sabem bordar, mas ensinamos às que chegam”, explica.

Transformação 

Foi o que aconteceu, por exemplo, com a artista plástica Cris Cabus, que já está produzindo lindas peças. Carioca de 59 anos, ela descobriu o grupo quando se mudou do Horto para Laranjeiras. Ela trabalha com cerâmica, sua mãe já bordava e seu aprendizado foi rápido. “O que me chama mais atenção é o tempo, a paciência para se criar um novo caminho através de um pontinho, ato de resistência para a transformação. Essas mulheres juntas estão gerando uma energia muito forte”, exulta. Depois de aprender o básico com Maria Eugênia, ela se aprofundou em livros e na Internet e tem situado suas peças mais no respeito às diferenças de gênero e racismo. “Estou apaixonada por essa nova forma de resistência”, diz.

Viúva, Maria Eugênia trabalha como autônoma em seu apartamento no Leme, na Zona Sul, onde também se dedica ao Linhas do Rio nas horas vagas. Como o objetivo não é comercial, a criatividade também funciona para garantir a matéria-prima. “Cada uma dá o que pode, pano, linhas, agulhas, e os desenhos são criações individuais”, descreve. 

Além da feira, as participantes se deslocam, conforme a necessidade. Foram a Curitiba no 1º de maio levar uma faixa pró Lula e participaram do lançamento de um livro de Leonardo Boff em 26 de abril, na Praça São Salvador. O próximo passo será encaminhar ao ex-presidente a toalha vermelha, redonda, que está sendo bordada pelo grupo, para cobrir a mesa da cela ocupada por ele no presídio.