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Exposição no Jardim Botânico oferece orquídeas para compra ou simples contemplação

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Este ano, os visitantes da mostra “Orquídeas no jardim”, que vai de hoje a domingo, no Jardim Botânico, na Zona Sul da cidade, terão a oportunidade de apreciar a híbrida que continua a dar o que falar em todo o mundo, a Bc. Pastoral Innocence, criação do colecionador alemão radicado no Rio, Rolf Altenburg (leia ao lado). A cada ano, as edições de maio e julho, esta última a ser realizada no Palácio do Catete, no bairro de mesmo nome, atraem um número maior de curiosos. 

Não apenas pela oportunidade de apreciar os exemplares de rara beleza, muitos deles premiados em concursos, como também pela chance de adquirir orquídeas a preços mais acessíveis — em média, entre R$ 30 e R$ 50. Neste sábado, os interessados também poderão participar de oficinas de cultivo e de ilustração botânica. O ingresso ao jardim custa R$ 15. Para ilustrar o aumento do interesse sobre orquídeas, basta passear pelas ruas do Rio para conferir a quantidade dessas plantas adaptadas às árvores. Como se tratam de epífetas, elas são capazes de armazenar nutrição suficiente e sobreviver sem afetar seus hospedeiros. Outro parâmetro do interesse é o número de associados do OrquidaRio, associação de orquidófilos promotora do evento: cerca de mil pessoas, 200 delas, ativas. Só no Estado do Rio existem ainda a Asson, de Niterói, e o Circuito Orquidófilo Maricaense (Omar), em Maricá. 

É o que informa o presidente da OrquidaRio, o jornalista Edson Cherem, 64 anos. Ele próprio corresponde ao perfil predominante entre os colecionadores: homens com idades mais próximas à aposentadoria. “Eu trabalhava no Banerj e, pouco antes de me aposentar, encontrei um conhecido que montou uma barraquinha de orquídeas no Centro da cidade. Ele me explicou que poderia ser um ótimo hobby para quem quer fazer outra coisa além de vestir um pijama na aposentadoria”, recorda. O primeiro passo foi se filiar à associação carioca. Edson já tinha um pequeno cultivo na área de serviço de seu apartamento, em Copacabana, na Zona Sul, que logo ficou pequeno. Acabou comprando um sítio de 600 m² em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, onde mantém sua coleção. 

“Meu cultivo é de colecionador. Sempre gostei de plantas, até que encontrei as orquídeas, que passaram a me dar um retorno maior do que as demais”, diz. Conforme Cherem, quem inventou o nome OrquidaRio, que vira orquidário se for acentuada, foi o cartunista Ziraldo. O batismo, nesse caso, nada tem a ver com fanatismo. “Tenho um parente que cria orquídeas em Santa Teresa e dei a ele a sugestão do nome, que deve ter chegado à associação. Acho as orquídeas deslumbrantes, mas quem gosta mesmo é minha mulher, Márcia, que sempre mantém exemplares dessas flores em nossa casa”, relata o cartunista. E como ele nasceu em Caratinga, em Minas Gerais, teve um privilégio: “Na infância, eu andava pelas matas do Rio Doce, e sempre apreciava as orquídeas na natureza”. Em geral, os associados são pessoas que transformaram as orquídeas em hobby,  majoritariamente do sexo masculino, embora também existam colecionadoras mulheres, ou tenham parentes com este mesmo tipo de interesse. “Também há jovens biólogos, engenheiros agrônomos ou florestais”, cita Cherem.

‘Culpa’ dos porteiros 

Segundo ele, as orquídeas são plantas de fácil cultivo e costumam ter vida longa, como é o caso das Phalaenopsis, que permanecem em flor por mais de três meses. Em sua maioria, não precisam de muita claridade e, exceto no verão, podem ser regadas apenas uma vez por semana. “Muitos não sabem cultivar e, depois que passa a floração, prendem as plantas nas árvores. para prolongar a vida das flores. Essa moda que está nas ruas do Rio começou há cerca de dez anos, com porteiros que ficavam com pena de ver as plantas abandonadas e as pregavam nas árvores”, conta Cherem. A primavera costuma ser o período mais fértil para a floração, porém, a grande variedade de orquídeas existente no país — são cerca de 3.500 — garante flores durante o ano inteiro. Existem cerca de 50 mil espécies diferentes em todo o mundo.

A estrela da mostra 

Era o ano de 1956 quando o catarinense de origem alemã Rolf Altenburg (1909-1991) conseguiu importar da famosa criadora francesa Vacherot et Lecoufle as matrizes de uma Cattleya Mademoiselle Pauwels e de uma Brassocattleya Dèese. O apaixonado colecionador, fundador da Florália, promoveu um cruzamento que originou sua grande obra: a híbrida Brassocattleya Pastoral Innocence — nome inspirado na 6ª Sinfonia de Beethoven, seu compositor predileto, ou simplesmente Bc. Pastoral Innocence. “O casamento foi rápido, feito em 1956, porém a floração só surgiu em 1961”, lembra a neta de Rolf, Sandra Altenburg, 62 anos, que mantém a Florália, em Niterói. A etapa seguinte enfrentada por Rolf foi registrar a orquídea na Royal Horticultural Society (RHS), um grande cartório de plantas na Inglaterra, onde qualquer nova espécie que se preze tem de ser catalogada. “Antes, os cruzamentos só podiam ser feitos por pessoas de alto poder aquisitivo, que mantinham laboratórios em suas casas. 

Hoje, esse tipo de iniciativa se multiplicou, sobretudo por intermédio das associações, que orientam sobre o cultivo e o controle de pragas”, explica Edson Cherem. Essa facilidade de cruzamentos continua a multiplicar os tipos de orquídeas existentes em todo o mundo. Rolf fez parte de um seleto e privilegiado grupo. “Meu avô selecionou várias plantas e deu nome especial a cada uma. A mais famosa e largamente comercializada é a Bc. Pastoral Innocence”, conta Sandra. São plantas brancas, hoje também encontradas em tons rosa, com uma pequena mácula púrpura, robustas e de crescimento fácil, que chegam a formar touceiras. E como se tratam de matrizes fortes, passam suas características de crescimento para seus descendentes. 

Em 1979, elas conquistaram o Award of Merit da American Orchid Society (AM/AOS). Os exemplares dessa magnífica orquídea, que floresce em maio no Hemisfério Sul, e em setembro no Hemisfério Norte, objeto de desejo de colecionadores do mundo inteiro, poderão ser apreciados e adquiridos (por cerca de cem reais) nesta mostra do Jardim Botânico.