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Antigos frequentadores comemoram reabertura da Gafieria Estudantina, anunciada para maio

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Frequentadores da Gafieira Estudantina Musical, tradicional reduto de dança de salão do Rio de Janeiro, não veem a hora de voltar a riscar o parquet do salão. Há sete meses fechada, depois de uma ordem de despejo por falta de pagamento de 13 anos de aluguéis, a casa deve reabrir no próximo mês. É o que garante Paulo Roberto dos Santos de Souza, 61 anos, o Paulinho Estudantina, antigo diretor artístico que comandará a gafieira com um sócio, proprietário de uma distribuidora de bebidas. A informação foi noticiada pela colunista do JORNAL DO BRASIL Hildegard Angel, na quinta-feira passada. 

Segundo Paulinho Estudantina, a nova administração não herdará a dívida dos antigos donos, de R$ 5 milhões, referente a 13 anos de inadimplência com a Ordem Terceira do Carmo, entidade proprietária do prédio de três andares, na Praça Tiradentes. 

“A Estudantina faz parte da história da cidade, e precisava ser devolvida aos cariocas. Muita gente me ligava e cobrava isso, por eu ter a minha vida atrelada à casa, mesmo não sendo o dono. São 40 anos de trabalho”, conta Paulinho. “Fizemos um contrato com a Ordem do Carmo, e os antigos donos não podem nem passar na porta. Pagaremos R$ 15 mil mensais pelos três andares, mas estou negociando R$ 3 mil de desconto durante o primeiro ano”, diz. 

Ao longo de 40 anos dedicados à casa, Paulinho se recorda de momentos históricos da Estudantina. Entre as visitas ilustres que subiram a Escadaria João Bosco, para conhecer a gafieira, está a atriz e cantora americana Liza Minnelli, levada à casa com outros 29 convidados do violonista brasileiro Baden Powell. 

“O Baden fez uma reserva de 30 lugares. Não sabíamos quem viria, mas percebemos que as pessoas estavam demorando a chegar. Quando a orquestra do maestro Agostinho Silva começou a tocar ‘New York, New York’, Liza Minnelli subiu as escadas”, relembra. “Foi um alvoroço, e o baile foi interrompido quando ela foi ao banheiro, porque todos quiseram ir também. Quando Liza subiu ao palco, foi incrível. No dia seguinte, me escreveu uma carta agradecendo”. 

A carta de Liza, antes em local de destaque na Estudantina, foi uma das relíquias perdidas durante o despejo. 

Outro que também já deu pinta por lá foi o bailarino, coreógrafo e ator russo-americano Mikhail Baryshnikov. Chegou disfarçado, de chapéu, para não ser reconhecido. Foi convidado para dançar, rapidamente se enturmou e acabou abandonando o disfarce.  

Frequentadora assídua da Estudantina por mais de 20 anos, Graça Cezar Coelho, de 65, não perdia a oportunidade, ao lado do marido, de se esbaldar ao som de bolero, samba-canção, e um “tanguinho de leve”. 

“É um espaço muito especial da cidade. O verdadeiro refúgio dos nostálgicos. E sempre foi um ambiente muito respeitoso. Logo na entrada, a gente já lia, na parede, o estatuto da gafieira. Não podia paquerar, dar em cima de ninguém. A ordem era dançar”, conta ela, em referência à letra da canção “Estatuto da gafieira”, de Billy Blanco. 

Outro apaixonado frequentador do templo da dança de salão carioca, Sinésio Viana de Mesquita, 56 anos, mais conhecido como Serginho da Estudantina, começou a frequentar o espaço ainda aos 20, como aluno da famosa professora Maria Antonieta Guaycurus de Souza, uma das mais importantes do país, falecida em 2009. “Estou muito esperançoso por este retorno. Não existe um outro lugar no Rio, com este clima agradável, como era a Estudantina. Era minha segunda casa e precisa voltar a ser”, diz o auxiliar de limpeza, enquanto se arruma para a foto com sua parceira de dança, Vera Muniz, 67 anos. 

O novo administrador não soube responder qual será a despesa mensal da casa. Conta estar adquirindo, com apoio da cervejaria Heineken, a nova mobília do lugar, esvaziado no despejo. Um grande show de abertura, com uma estrela da MPB, também está sendo produzido.

MEMÓRIA

Patrimônio Cultural Carioca

Templo da dança de salão no Rio de Janeiro e Patrimônio Cultural da Cidade, tombada pela Prefeitura do Rio em 2012, a Gafieira Estudantina Musical nasceu em 1928, por iniciativa de dois entusiastas da “arte de riscar o chão”, Manoel Gomes Matário e Pedro, um estudante de Direito, que inspiraria o nome da casa. Seu primeiro endereço ficava na Rua Paissandu, no Flamengo. De lá, ela foi para o Catete, onde permaneceu até 1942, quando se transferiu para o local onde se imortalizou, no número 79 da Praça Tiradentes, à época principal centro do teatro de revista. Tradicional ponto da boêmia carioca, ela foi cenário de novelas como “O clone” e “A força do querer”, ambas escritas por Glória Perez, fã e frequentadora da casa. Em outubro de 2008, batizaram seu palco com o nome de Maria Bethânia,