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Cabral admite compra de joias para Adriana Ancelmo com verba de campanha

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O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral admitiu, em depoimento para o juiz Marcelo Bretas, que comprou joias para a mulher, Adriana Ancelmo, com sobras de verba de campanha. O interrogatório de Cabral durou cerca de 20 minutos nesta quarta-feira (24), na Justiça Federal do Rio, em audiência na 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Segundo Cabral, as compras foram feitas apenas em datas festivas.

A defesa do ex-governador informou que ele iria exercer o direito de responder as perguntas de forma parcial, ou seja, responderia apenas a seus advogados, por isso o depoimento foi rápido. O magistrado argumentou que Cabral estava perdendo uma oportunidade de se defender. Este foi o último interrogatório de Cabral no processo.

Cabral ficou em silêncio durante quase toda a audiência realizada no auditório da Justiça Federal, centro da capital fluminense. Ele respondeu apenas uma pergunta do juiz Bretas, quando negou ter desafetos entre as testemunhas e réus que se pronunciaram no processo.

O ex-governador admitiu que comprava joias da joalheria Antônio Bernades à esposa, Adriana Ancelmo, em espécie, em datas festivas e voltou a admitir que o dinheiro vinha de sobras de campanha eleitoral. Ele voltou a negar, como fez em outras audiências, que a esposa soubesse de esquemas de caixa 2 orquestrados por ele. "Sempre respeitamos nossas individualidades. Jamais interferi no dia a dia do escritório dela e jamais ela interferiu no meu dia a dia. Nunca recebi nenhum valor do escritório de Adriana", declarou. 

A partir desta quarta, o Ministério Público tem três dias para se manifestar, podendo pedir mais depoimentos ou mais diligências. A defesa também tem mais três dias para fazer suas alegações. A sentença da Justiça deve sair em julho, após as considerações finais da defesa de Cabral e do MP, que devem durar pelo menos uma semana. 

Operação 

Na terça-feira (23), Bretas aceitou nova denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-governador e outras nove pessoas. Eles são acusados de receber quase R$ 47 milhões de propina da Carioca Engenharia em troca de fraudes em licitações e superfaturamento de obras públicas. 

No total, Cabral responde a nove processos da Lava Jato no Rio. O ex-governador está preso desde novembro, pela operação Calicute, e aguarda decisão da Justiça, no presídio Bangu 8, no Complexo de Gericinó. Ele é acusado de ter liderado esquema de corrupção, quando era governador, com superfaturamento de obras públicas.

>> Justiça aceita denúncia do MPF e Sérgio Cabral vira réu pela nona vez

Propina

O ex-governador afirmou que nunca recebeu vantagens indevidas por parte das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia. Cabral disse que se reuniu com representantes da Andrade Gutierrez apenas para tratar de temas técnicos relacionados às obras contratadas pelo governo do estado.

Em interrogatório em abril para o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal de Curitiba, a estratégia de Cabral foi a mesma. Ele negou o recebimento de propina e negou saber da existência de caixa 2 na campanha à reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), em 2014, confirmado pelo ex-secretário de Obras de seu governo, Hudson Braga. 

Segundo Braga, que está preso, a Andrade Gutierrez pagou 1% de propina para autoridades públicas sobre o contrato do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Favelas em Manguinhos, na zona norte do Rio, e que o suborno era conhecido como “taxa de oxigênio”.

Ministério Público

O procurador Leonardo Cardoso de Freitas informou que o MP não tem dúvidas de que Cabral chefiou organização criminosa e desviou milhões dos cofres do estado e da União.

"Nada do que foi dito hoje pelo senhor Sergio Cabral foi capaz de abalar nossa convicção na prova produzida e nos fatos imputados a ele e aos demais réus. O Ministério Público vai pedir sua condenação”, disse o procurador que lamentou o fato de Cabral ter se negado a responder as perguntas do juiz e do MP. “Várias pessoas corroboraram tudo que foi dito na denúncia, réus confessaram o crime. Gostaria de saber se todas essas pessoas fizeram um complô contra ele. Essa é uma indagação que gostaria de ter feito a ele", disse o procurador.

*com Agência Brasil