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Cabral divide cela com assessores acusados de integrar mesmo esquema de desvio de verba

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O ex-governador do Rio Sérgio Cabral passou a primeira noite no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, de quinta para sexta-feira (18), numa cela de 16 metros quadrados que divide com cinco outros presos que, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), integram o mesmo esquema de desvio de verba pública. Junto com Cabral estão o ex-assessor Paulo Fernando Magalhães; os operadores Carlos Emanuel Miranda e José Orlando Rabelo; o ex-secretário de Obras Hudson Braga; e Luiz Paulo Reis. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que não há determinação judicial para que os acusados fiquem em celas separadas.

Cabral teria aceitado o cardápio do café da manhã, que foi pão com manteiga e café com leite. A cela tem ainda um chuveiro, uma pia e um dispositivo sanitário no chão. O ex-governador levou para a prisão o livro “Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e nos islamismo”, de Karen Armstrong.

Cabral pode ser condenado a penas que somam 50 anos de prisão, por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e associação criminosa, apontados nos dois inquéritos. Ao se tornarem processos judiciais, cada uma das investigações podem gerar condenações de 25 anos de prisão.

>> Firma de advocacia de mulher de Cabral é suspeita de lavagem de dinheiro

O ex-governador do Rio deixou no fim da tarde desta quinta-feira (17) a sede da Polícia Federal para fazer exames no IML. Em seguida, foi encaminhado para o presídio de Bangu. Ao deixar a sede da PF numa viatura oficial, Cabral foi fortemente hostilizado pelos populares que estavam desde cedo aguardando sua saída com faixas e cartazes. 

Cabral foi preso na manhã desta quinta-feira, em mais uma fase da Operação Lava Jato, sob acusação de desvio de dinheiro público. 

De acordo com as investigações, o ex-governador  recebia "mesadas" de empreiteiras envolvidas em obras públicas no estado. Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato do Rio e do Paraná informaram na manhã desta quinta-feira, em coletiva de imprensa, que as investigações apontam que as licitações eram fraudadas e as empresas eram selecionadas em troca do pagamento de propinas para Cabral. O ex-governador e mais nove foram presos nesta quinta-feira na Operação Calicute, por suspeita de desvios em obras do governo estadual feitas com recursos federais.

Os valores da mesada variavam entre R$ 200 mil e R$ 500 mil, pagos pelas empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia em contrapartida à cartelização das construtoras. Os pagamentos ocorreram entre 2007 e 2014. 

O desvio de recursos aconteceu principalmente em três grandes obras, a reforma do Maracanã, do Arco Metropolitano, e o PAC Favelas, nas quais o prejuízo foi estimado em mais de R$ 220 milhões. Os procuradores lembraram que a obra do Maracanã foi custeada pelo governo federal, e a do PAC Favelas teve parte de recursos federais.

O Ministério Público Federal (MPF) aponta que Cabral chefiava a organização criminosa e chegou a receber R$ 2,7 milhões em espécie da empreiteira Andrade Gutierrez, por obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

"Há fortes indícios de cartelização de obras executadas com recursos federais, mediante o pagamento de propina a funcionários e a Sérgio Cabral", afirmou o procurador do MPF no Rio de Janeiro, Lauro Coelho Junior, acrescentando: "Em relação à Andrade Gutierrez, foi firmado que havia o pagamento de mesada de R$ 350 mil, isso pago por pelo menos um ano. Em relação à Carioca Engenharia, o pagamento de mesada foi de R$ 200 mil no primeiro mandato, e no segundo mandato de Sérgio Cabral, essa mesada subiu para R$ 500 mil por mês." Coelho Junior afirmou ainda que a Andrade Gutierrez pagou pelo menos R$ 7,7 milhões em propina. E a Carioca Engenharia pagou pelo menos R$ 32,5 milhões.