Os passageiros das barcas que fazem o trajeto entre o Rio de Janeiro e Niterói reclamaram nesta quinta-feira (12) da inatividade da barca Pão de Açúcar, o primeiro dos sete catamarãs comprados na China que foi inaugurado na véspera com a presença de autoridades como o governador Luiz Fernando Pezão. O transporte aquaviário que faz o percurso entre as duas cidades ainda opera com embarcações da década de 1960. Para os passageiros, o serviço não condiz com o preço cobrado, R$ 5 por trecho, pois nenhuma das embarcações tem ar-condicionado funcionando, além dos atrasos constantes e horários que não suprem as necessidades dos usuários. Ao todo, as novas barcas, compradas pelo governo do estado custaram R$ 220 milhões.
“As barcas novas paradas do outro lado são só para ficarmos namorando. Espero que, quando ela sair, pelo menos tenha ar-condicionado. Mas [por enquanto] é só para ficar rindo da nossa cara lá do outro lado, parada”, comentou o estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF), Pedro Ivo Carvalho Freire. Ele mora em Niterói e utiliza o serviço a trabalho ou diversão.
Para Pedro Ivo, o serviço não é condizente com o preço cobrado pela CCR Barcas – concessionária responsável pelas barcas e pelo trajeto. “A barca custando R$ 5 com esse serviço é um crime.” Um dos grandes problemas, apontou o estudante, é o calor e a falta de infraestrutura para enfrentar esse problema natural do Rio de Janeiro.
“As barcas 'novas' [inauguradas nos anos 2000], que já são velhas agora, têm janelas pequenas que não dão vazão e você morre de calor. Eu prefiro pegar as barcas velhas, demorar dez minutos a mais do que morrer de calor. A mais nova, no entanto, estão falando que vai ter ar, mas com esse preço que eles cobram deveria ser padrão." Uma alternativa para quem faz o trajeto seria a estação de Charitas, mas o preço (R$ 13,90) é extremamente alto, aponta o estudante.
Outra estudante também reclamou do preço das barcas. Diana Rocha, que estuda Farmácia na UFF e mora no Grajaú, destacou o alto custo da escolha pelas barcas e um ônibus para de deslocar. Ela prefere agora, então, pegar apenas um ônibus, porque sai mais barato. “Até hoje eu não vi nenhuma dessas barcas novas em atividade. Já se foi maior 'tempão' desde que começaram a implementar essas barcas e a gente está esperando até agora. Eu prefiro não pagar para ver e estou preferindo ir de ônibus, porque é cansativo demais ficar vindo para cá", disse.
A historiadora Cristiane Portela salientou que, já que foi investido o dinheiro, as embarcações deveriam estar em atividade. Há três meses a barca Pão de Açúcar está parada na estação da Praça Arariboia, em Niterói, sem ser utilizada. “Se houve gasto e investimento para embarcações que ainda não foram colocadas em uso, independente de terem sido inauguradas, isso está errado.”
"O serviço da barca tem diversos problemas, um deles é que existe um número insuficiente de cais para a atracação, que faz com que a demora seja maior. Com o aumento da população de Niterói o número de transportes também é reduzido, abaixo do necessário, e isso faz com que nós cheguemos atrasados nos nossos compromissos. Eu já me atrasei para meu trabalho e para os meus compromissos. Em horários de pico, a barca deveria disponibilizar mais embarcações”, disse a historiadora.
A professora Patrícia Britto disse que normalmente não pega o transporte marítimo para ir de Niterói ao Centro do Rio, mas reclamou que as barcas andam muito cheias, além de muito sujas. “Só tem uma barca nova e hoje, quando eu passei lá em Niterói, estava com a faixa de manutenção, apesar de ter sido inaugurada ontem. Eu não sei quando vai começar a andar, isso é um atraso do nosso dinheiro. Estamos pagando mais caro e não temos o conforto que deveríamos ter, como o ar-condicionado que era para termos tido no verão, mas vai chegar só no inverno quando não precisarmos mais. Nessa hora, a janela vai ficar aberta.”
A assessoria da CCR Barcas informou que a barca Pão de Açúcar não entrou em atividade nesta quinta-feira (12) excepcionalmente na parte da manhã por conta de ajustes operacionais e que estaria funcionando no horário de pico da tarde, das 15h às 20h. "A partir de sexta-feira (13), a embarcação vai operar nos dois horários de pico, totalizando as 12 viagens programadas por dia.”
A CCR também explicou que a barca Pão de Açúcar vai funcionar de 6h30 às 9h e de 17h30 às 20h. “A CCR Barcas informa que a operação assistida é um procedimento de segurança adotado pela concessionária para as novas embarcações, em conformidade com as normas da Capitania dos Portos. A 'Pão de Açúcar' entrou em operação nesta quarta-feira (11/3) transportando 3.200 passageiros, em cinco viagens na linha Rio-Niterói. Conforme anunciado ontem, a nova embarcação realizará seis viagens nos períodos de pico da manhã e da tarde, de segunda a sexta-feira. No pico da manhã, as travessias serão realizadas das 6h30 às 9h e, na parte da tarde, entre 17h30 e 20h."
A concessionária não respondeu a questões sobre atrasos e falta de atividade durante a madrugada. A secretaria de Transportes do Estado, por sua vez, não respondeu ao contato do Jornal do Brasil.
As novas barcas representam um investimento de R$ 220 milhões do governo do estado para a melhoria do transporte aquaviário do Rio de Janeiro. Ao total serão sete novas barcas que chegarão da China ao longo do ano e devem estar completamente operantes até o primeiro semestre de 2016. Segundo a concessionária o transporte, anteriormente feito em 20 minutos, será reduzido para 10 minutos. O secretário de Transportes Carlos Roberto Osório afirmou que as barcas antigas serão aposentadas para que as novas possam operar completamente. A capacidade da nova embarcação é de duas mil pessoas, 700 a mais do que as barcas em atividade, que suportam cerca de 1300 pessoas por viagem.
>> Governo do Rio inaugura primeira das sete novas barcas da linha Rio-Niterói
*Do Programa de Estágio do JB