Três horas antes de iniciar o debate entre os candidatos ao governo do Rio promovido nesta terça-feira (2/9) pela Rede TV como o Portal iG e participação do jornal O Dia, militantes já ocupam a frente do Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, na Zona Sul da cidade. Com bandeiras e caixas de som improvisadas, a militância aguarda a chegada dos postulantes. O trânsito ficou engarrafado entre às 20h e 22h na Avenida Afrânio de Mello Franco, na altura do teatro, com a manifestação de centenas de partidários ocupando a lateral da pista.
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A criatividade dos militantes deu uma dinâmica diferente à chegada dos candidatos ao Teatro Oi Casa Grande. Um grupo de partidários do PT usou guardanapos na cabeça, para fazer referência ao escândalo envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o ex-dono da Delta, Fernando Cavendish, que aparecem em uma festa em Paris com guardanapos em forma de bandanas na cabeça. Os militantes exibiam também cartazes com frases criticando o governo de Pezão.
Um outro grupo de militantes do PT usou uma lixeira adaptada com um equipamento de som para animar a recepção dos candidatos. O equipamento chamou a atenção e arrancou elogios e boas gargalhadas. E quem não percebeu de imediato a utilidade da lixeira, se assustou ao abri-la na tentativa de descartar o seu lixo.
Chegada dos candidatos
Participaram do evento Anthony Garotinho (PR), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Marcelo Crivella (PRB), Tarcisio Motta (PSOL) e Lindberg Farias (PT). O candidato pela Frente Popular, Lindberg Farias (PT), chegou ao local de debate por volta das 22h. Lindberg, repercutindo o resultado da pesquisa ibope divulgada nesta terça (2), disse que "o jogo está apenas começando e o povo quer mudança".
O candidato afirmou que a estratégia que vai usar agora para melhorar o seu desempenho na campanha será mostrar para a população que o governo Pezão e também de Garotinho está há 16 anos no poder, sem resultados positivos. "Pezão começou como braço direito de Garotinho, essa turma está há anos no poder e existe agora um sentimento de mudança", comentou.
Luiz Fernando Pezão (PMDB) foi intensamente vaiado na sua chegada ao teatro por militantes de outros partidos. O candidato do PMDB não respondeu as perguntas da imprensa e entrou rapidamente na casa de show, na companhia do seu vice na chapa O Rio em Primeiro Lugar, o senador Francisco Dornelles (PP).
O primeiro candidato a chegar ao debate, marcado para começar às 22h30, foi Tarcísio Motta (Psol), acompanhado pelo líder do partido na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Marcelo Freixo. Motta questionou os resultados da pesquisa e acredita que a sua campanha está com um desempenho maior que o divulgado nas pesquisas. "Estamos sentindo nas ruas que as pessoas estão conosco e o próximo estudo deve revelar esse fato. O debate é uma excelente oportunidade de mostrar que temos um plano de governo e chances reais", disse.
"Eles [atual governo] estão governando o estado há tantos anos e agora precisam assumir responsabilidades", destacou Motta. O candidato do Psol considera que a eleição para o governo do Rio ainda está indefinida, pelo grande número de votos brancos e nulos apontados nas últimas pesquisas.
Liderando a mais recente pesquisa Ibope, Anthony Garotinho foi breve na sua avaliação do estudo. "Eleições é como dizia o Didi [jogador de futebol]. Treino é treino, jogo é jogo", disse o candidato do PR.
Novos números da pesquisa Ibope
Nesta terça-feira (2/8), o Ibope divulgou pesquisa com as intenções de votos para o Governo do Rio. Anthony Garotinho (PR) tem 27% das intenções de voto, seguido por Luiz Fernando Pezão (PMDB), com 19%, Marcelo Crivella (PRB), com 17%, e Lindberg Farias (PT), com 11%. A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Ironia, descontração e solidariedade entre os candidatos
O clima esquentou no segundo debate entre os principais candidatos ao governo do Rio, mas também houve momentos de deboche e ironia de alguns candidatos. Mesmos quando não estava fora do foco das câmeras, Anthony Garotinho dava sorrisos olhando para a plateia, composta por outros políticos, autoridades e jornalistas. Em uma das suas respostas durante o debate, Garotinho se referiu ao secretário de Esportes, André Lazaroni: "Deve ser um mestre de frescobol".
O candidato Tarcísio Motta não ficou de fora dos comentários apimentados e disparou: "O desenvolvimento está indo para as pessoas de guardanapos na cabeça em Paris", uma referência à "farra" protagonizada na capital francesa por vários secretários do governo Cabral e o empresário Fernando Cavendish. Nesse momento, Garotinho volta a sorrir para a plateia.
A pergunta feita pelo jornalista Tales Faria, do IG, a Marcelo Crivella sobre as lideranças LGBT que tentaram obter do candidato apoio a leis que criminalizam a homofobia, provocou na plateia sua única manifestação durante o debate. Crivella rebateu que respeita as pessoas, as opções das pessoas e só é lembrado nesses assuntos. O candidato foi aplaudido por um grupo que estava na plateia. "É só homossexuais. Isso sim é um preconceito odioso que vocês [jornalistas] deveriam rever", afirmou. No seu comentário da pergunta, o candidato Lindberg Farias foi solidário ao senador: "Só quero testemunhar, pela convivência que temos, o espírito democrático do senador Crivella. Não é só por ser evangélico que se está discriminando o homossexual", disparou. E Crivella retribuiu: "Só podia esperar essa reação de um companheiro que defendeu comigo o Rio de Janeiro na bancada do Senado Federal. Temos um espírito de solidariedade".
Nos intervalos do debate, os postulantes foram orientados no palco pelos seus assessores diretos e marqueteiros. Tarcício Mota (Psol) foi orientado pelo deputado estadual Marcelo Freixo, enquanto Garotinho conversava com Fernando Peregrino. O candidato Marcelo Crivela teve o auxilio do publicitário e jornalista Lula Vieira.
Candidatos avaliam performances no debate
Após o debate, os candidatos conversaram com os jornalistas individualmente e avaliaram os seus desempenhos e comentaram outros pontos dos seus planos. O candidato do PT, Lindberg Farias anunciou uma nova postura que deve assumir agora na sua campanha. "Vamos denunciar para o eleitorado quem é realmente Pezão e Garotinho. Pezão está escondendo a sua relação com Cabral [Sérgio Cabral, ex-governador do Rio]. O Cabral não aparece no seu programa eleitoral. Queremos mostrar que essa relação [Pezão com Cabral] existe ainda. Quando Pezão aparece com Cabral, ele perde votos", afirmou Lindberg.
O candidato da Frente Popular analisou também que o seu plano de governo apresenta uma proposta inovadora, com uma política mais participativa, com foco na educação. Além disso, garantiu que vai lutar muito até o final das eleições para que o Rio "não caia nesse erro histórico, um retrocesso terrível que é a volta do Garotinho ou a permanência do Pezão".
Por outro lado, Pezão negou que o afastamento de Cabral do seu programa eleitoral na TV seja uma estratégia para preservar a sua imagem e afirmou que, se for necessário, o ex-governador voltará a fazer campanha ao seu lado. Segundo Pezão, a sua imagem deve aparecer mais nos programas de TV por ele ser pouco conhecido. O governador negou que tenha tomado uma postura mais agressiva no segundo debate. "Aumentar o tom é normal num debate que tem pontos de divergência entre candidatos. Eu perguntei coisas normais de gestão não ataquei ninguém", disse.
Anthony Garotinho aproveitou a entrevista para destacar pontos do seu plano na área de segurança pública. "Vamos colocar polícia nas ruas, para isso basta fazer um planejamento, vamos voltar com o Grupamento Especial Tático Móvel, GETAM", anunciou o candidato. Garotinho disse que pretende viabilizar o programa lançando mão do efetivo de PMs nos batalhões, fazendo uma redistribuição do contingente de policiais que trabalham nas ruas e internamente.
Marcelo Crivella comentou o clima de solidariedade com Lindberg Farias e reconheceu que o petista tem todas as qualificações para chegar ao segundo turno, por sua longa experiência politica. O candidato considerou que o petista é um forte adversário e não pensa em alianças nesse momento. "Vai chegar uma hora que as pessoas vão refletir. Todos os movimentos que foram feitos até agora pedem é mudança, mudança, mudança. Será que o Rio vai ser tão conservador a ponto de manter os governantes que estão há anos no poder?", questionou Crivella, revelando que espera por uma reviravolta no poder estadual e que as campanhas milionárias não imponham às alternativas.
Na análise de Crivella, o eleitor deve escolher o seu candidato pelo debate. Ele acredita que os próximos encontros devem "aumentar ainda mais de tom". "As pessoas estão cansadas dos ataques e dos políticos que ficam se atribuindo virtudes. O Garotinho disse hoje que criou o batalhão de motociclista. Aliás, o Garotinho criou o universo em sete dias e não descansou, passou para a Rosinha [mulher de Anthony Garotinho e ex-governadora]. As pessoas vão percebendo essas coisas", ironizou o candidato.
Quanto os seus comentários mais contundentes sobre a homofobia, em resposta à pergunta do jornalista Tales Faria, Crivella justificou que não mudou de postura com relação à questão. "Há um momento que vocês extravasa. Não há um episódio na minha vida pública que eu tenho tido um tipo de preconceito, pelo contrário, meus projetos, mais de 400, não tem isso", comentou.