Quem anda pelas ruas dos bairros do Méier e da Tijuca, zona norte da cidade, pode reparar em algumas lojas fechadas e com placas de "vende-se", "aluga-se", ou "passo o ponto". O motivo disso, além do aumento dos aluguéis, seria a falta de segurança e estrutura. Problemas que são apontados pelo administrador financeiro Gladiston dos Santos,dono de um escritório de administração de imóveis na Rua Dias da Cruz, principal via comercial do Méier.
"São os problemas antigos e conhecidos pelas pessoas aqui no bairro. A violência aqui no Méier tem crescido absurdamente o que leva as pessoas a efetivamente saírem da região. É uma insegurança cada vez mais crescente, reflexo da falta da presença do poder público”, aponta o administrador. Além disso, Gladiston destaca a falta de planejamento. Para ele, a falta de estrutura, como estacionamentos na área acaba levando o consumidor a procurar a facilidade dos shoppings da região. “Não existe um planejamento para a melhoria e a intensificação do comércio do Méier”, lamenta.
Segundo o economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nelson Chalfun, muitos fatores podem influenciar o aumento de custo para o comerciante e a dificuldade de manter o seu negócio. "A questão da segurança, por exemplo, também afeta o comércio de rua. O custo em relação a isso fica maior para o comerciante. Isso tudo contribuiu para que se tenha um ajuste no preço do metro quadrado dos alugueis".
Outro fator apontado pelo economista é a carga tributária que incide sobre o pequeno negócio. Segundo ele, a taxa é mais proporcional para quem tem um negócio de maior porte. "Então você tem um pequeno negocio custos como contador, armazenagem de produtos, o custo com funcionário, o preço pra fazer a tributação, previdenciário, fundo de garantia todos os gastos que o pequeno empresário tem são mais impactantes do que para quem tem um negócio maior", explica
Além disso, segundo o economista, houve uma tendência do aumento do aluguel em algumas áreas da cidade e essa expectativa em torno do comércio veio como conseqüência dos grandes eventos no Rio. ”O que está acontecendo é que os custos andaram subindo em função de uma situação que antecipava uma melhoria no comércio em alguns bairros. Isso tem acontecido muito mais nos bairros da zona sul, que tiveram mais expectativas de lucro por causa da copa”, aponta o economista.
Virley Moreira Lopes, dono da loja de material de construção Novo Século, está passando o ponto de sua loja, que está há quase vinte anos na Dias da Cruz. Segundo ele, o movimento tem diminuído “Antes tínhamos em torno de seis funcionários, hoje só tem eu aqui”, lamenta o comerciante. Segundo Virley, o volume de clientes caiu muito de uns dez anos para cá. "Antes tínhamos uma média de 100 clientes, agora são apenas dez".
Onda passageira
No entanto, o fechamento de algumas lojas pode ser resultado da mudança de consumo da própria população local. Para André Braz, do Instituto de Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, essa mudança acontece gradualmente e acaba se tornando uma demanda dos próprios habitantes. “O comercio popular tem seu espaço no mercado. O shopping oferece comodidade e segurança, mas pratica preços que algumas pessoas não vão arcar. Na rua a questão é um pouco mais incomoda porque você não tem a segurança ou o conforto dos shoppings, mas tem os preços mais baixos”.
Tanto é que, apesar do fechamento de algumas lojas tradicionais, o bairro do Méier tem ganhado uma cara nova com a abertura de bares e restaurantes, após a revitalização do Imperator, famosa casa de shows do bairro que foi reinaugurada em 2012.
Uma das tendências apontadas por Gladiston é o começo de desenvolvimento de um pólo gastronômico no bairro, “as lojas de produtos estão dando lugar aos restaurantes, delicatessens, e bares” afirma o administrador. Contudo, ele deixa claro que a falta de infraestrutura para atender essa demanda também pode vir a se tornar um problemas para quem quer fixar o seu negócio no bairro. “É preciso focar nessa questão de infraestrutura para que a Dias da Cruz não perca o antigo e o novo movimento”.
Ainda, segundo o economista do Ibre, o aumento do custo para os comerciantes é uma influência passageira, ainda mais com o aumento do número de vagas temporárias no final do ano. "Estamos nos aproximando de um período que é necessária a mão de obra. Para você ter um funcionário bom e qualificado leva tempo, e agora com a aproximação do final do ano é difícil dispensar esse tipo de funcionário que está a mais tempo", explica. Segundo o economista o momento é de uma taxa de desemprego baixa. "Não vejo isso como o início de um cenário problemático de desemprego no mercado", conclui.