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Bethlem nega acusações feitas pela ex-mulher

Em conversa com Vanessa Felippe, deputado diz que recebeu mesadas de até R$ 70 mil de ONG

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O deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) divulgou nota, neste sábado, em que negou as acusações mostradas em gravações que teriam sido feitas por sua ex-mulher, Vanessa Felippe, de que ele recebeu uma espécie de mesada da ONG Casa Espírito Tesloo, quando era secretário municipal de Desenvolvimento Social, no período de 2011 a 2012. A ONG coordenava projetos da pasta.

As gravações foram obtidas pelas revistas "Veja" e "Época" e mostram uma conversa que ele manteve com a ex-mulher, em novembro de 2011, ao negociar o pagamento de uma pensão para ela e os dois filhos. Segundo as revistas, a ONG repassava ao deputado, mensalmente, de R$ 65 mil a R$ 70 mil. Nos diálogos, ele diz receber cerca de R$ 100 mil mensais e admitiu ainda ter conta na Suíça.

Vanessa Felippe, ex-mulher de Bethlem, conhecido como "Xerife do Rio", gravou também vídeos mostrando como ela recebia pensão: R$ 20 mil em dinheiro vivo. 

Segundo a revista Época, Bethlem começou a pagar a pensão em 2012. Em vez de cheques ou depósito na conta bancária, Vanessa conta que recebia em casa pacotes com dinheiro vivo. Cada remessa continha R$ 20 mil em notas de R$ 100. Vanessa reclamava que a quantia era insuficiente para bancar as despesas domésticas. Ela decidiu instalar câmeras escondidas na casa e filmou pelo menos três entregas de dinheiro. Os pacotes eram trazidos por um assessor do gabinete de Bethlem na Câmara dos Deputados em Brasília.

>> Época: homem de confiança de Cabral e Paes mantém conta na Suíça

Bethlem, de 43 anos de idade, trilhou o caminho da política bastante jovem. Filho da atriz Maria Zilda, foi nomeado aos 22 anos subprefeito da Lagoa, bairro da Zona Sul carioca, pelo então prefeito César Maia, hoje no DEM. Alguns anos depois, assumiu a subprefeitura de Jacarepaguá, na Zona Oeste, região mais populosa da cidade. Conseguiu se eleger vereador em 2000. O sucesso político veio pelas mãos do prefeito Eduardo Paes. No primeiro ano de mandato, em 2009, Paes nomeou Bethlem secretário de Ordem Pública. 

Na conversa gravada, Bethlem diminui o tom da voz ao falar sobre seus rendimentos. “Por que você está falando baixo? Não tem ninguém aqui”, diz Vanessa. Ele responde que estava “paranoico”. Diz que algum “inimigo” poderia ter grampeado seu telefone e que o aparelho, mesmo desligado, tem como gravar o diálogo. Não poderia imaginar que o perigo era o gravador que Vanessa acionara às escondidas. Bethlem diz que ganhava cerca de R$ 100 mil por mês. Afirma que sua “principal fonte de renda” era dinheiro proveniente de um dos contratos da Secretaria Municipal de Assistência Social. Tratava-se de um convênio para cadastrar famílias de baixa renda e criar um banco de dados com nomes e endereço de pessoas com direito a inclusão em programas sociais, como o Bolsa Família. Bethlem não conta a Vanessa que empresa fora contratada para o serviço, mas diz que o convênio tem prazo de sete meses.

Vanessa diz que começou a receber em casa R$ 20 mil em espécie. Sua reação foi filmar a entrega do dinheiro, feita por um emissário de Bethlem. O homem de bigode, óculos e com ar impaciente que aparece nos vídeos é José Carlos de Oliveira Franco, secretário parlamentar nomeado para o gabinete de Bethlem na Câmara. As imagens mostram Vanessa, com maços de notas de R$ 100 na mão, reclamando, diante de José Carlos, que o valor é insuficiente para pagar as contas domésticas, como tarifas de gás, água e salário de empregados.

Além de relatar ganhos suspeitos na Secretaria de Assistência Social, Bethlem ainda faz mais revelações comprometedoras na conversa de novembro de 2011. Ele relembra discussões anteriores do casal sobre a partilha de bens. Diz que, certa vez, Vanessa ameaçara revelar à polícia a existência de uma conta bancária que ele mantinha na Suíça. Vanessa nega ter feito a ameaça. Bethlem rebate: “Você por acaso não disse que, se eu não desse a metade (dos bens) para você, muita gente gostaria de saber que eu tinha conta na Suíça?”. Vanessa insiste que não fizera a acusação porque não tinha provas. Bethlem emenda: “Você está careca de saber que fui à Suíça para abrir uma conta lá... Não seja hipócrita”. Bethlem ainda diz a Vanessa que, por causa da ameaça, quase sofreu um infarto.

Veja a nota de Bethlem: 

“Tendo em vista a gravidade das declarações feitas por minha ex-mulher às revistas Veja e Época desta semana, venho declarar, em respeito aos meus filhos e aos meus eleitores que:

1. São infundadas essas acusações e a própria autora delas adiantou-se em desmenti-las, alegando tê-las feito num momento de grave confusão mental, que resultou em três tentativas de suicídio. A última há poucos dias.

2. Toda a minha vida pública foi pautada pelo respeito às leis e pela transparência na condução de minhas atividades e, sendo assim, repudio essa irresponsável tentativa de macular a minha imagem.

3. Me causa surpresa que essas acusações tenham sido disparadas contra mim às vésperas de uma eleição, mas é visível que o intuito delas é ferir a reputação que alcancei pela minha dedicação à vida pública.

4. Durante anos procurei manter essas crises de minha ex-mulher em sigilo, na esfera estritamente familiar, mas essa atitude que ela teve, mesmo alegando insanidade, me obriga a me defender.

5. Declaro que nada tenho a temer, que não tenho contas no exterior e que tudo o que fiz nas secretarias por onde passei jamais desabonou minha conduta e que não temo nenhum exame dos atos que tomei na vida pública.

6. Nesse momento me preocupa, mais que tudo, cuidar para que essa agressão não comprometa a saúde psicológica dos meus filhos.

7. Os documentos médicos que me foram encaminhados pelo advogado de minha ex-mulher demonstram, à exaustão, que se trata de uma pessoa que necessita de um tratamento sério e, também, compaixão, dado que não se encontra em pleno controle de sua saúde mental.”