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Na véspera da final da Copa do Mundo, 19 ativistas são presos 

Prisões são políticas e arbitrárias, classificou presidente de comissão da OAB

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A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu 19 ativistas, entre eles dois menores, na manhã deste sábado (12), por suspeita de envolvimento em atos violentos durante protestos na capital fluminense. Outros nove ativistas são considerados foragidos. Eles foram levados para a Cidade da Polícia, no Jacaré, subúrbio do Rio, e respondem pelo crime de formação de quadrilha armada, com pena prevista de até três anos de reclusão. Entre os detidos está Elisa Quadros, conhecida como “Sininho”, que ganhou destaque na imprensa pela militância nos protestos do ano passado. 

O presidente da comissão de direitos humanos da OAB, Marcelo Chalreo, classificou as prisões como políticas e arbitrárias, em entrevista ao Portal Terra. A comissão deve entrar ainda hoje com um pedido de habeas corpus para liberar os detidos. "É absurdo. Essas prisões têm caráter político e intimidatório com o claro intuito de tolir o direito à manifestação."

O deputado federal Jean Wyllys também se pronunciou sobre as prisões dos ativistas, por meio de sua página no Facebook: "Estou recebendo, desde cedo, denúncias e informações sobre gravíssimas violações aos direitos humanos por parte do governo do Estado do Rio de Janeiro. Militantes, ativistas sociais e cidadãos e cidadãs que participaram de protestos no último ano estão sendo presos sem qualquer motivo, tendo suas casas invadidas pela Polícia Civil e levados sob a mira de fuzis, como consequência de 60 mandados de prisão temporária que impõem cinco dias de detenção 'preventiva' por supostos crimes que, supostamente, poderiam, talvez, vir a cometer no futuro! É surreal!."

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A Polícia Civil informou, por meio de nota, que a Operação Firewall buscava cumprir 26 mandados de prisão de prisão temporária por cinco dias e dois de busca e apreensão expedidos pela Justiça. A ação é uma continuidade das investigações iniciadas em setembro do ano passado pela Delegacia de Repressão a Crimes contra a Informática (DRCI) e ocorreu no Rio, Búzios e Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, onde foram apreendidos máscaras, gasolina, arma de choque, um revólver, artefato explosivo, sinalizador, droga, computadores e aparelhos celulares. Duas pessoas, ressalta, também foram presas em flagrante.

A ação ocorre na véspera da final da final da Copa do Mundo entre Alemanha e Argentina, no Estádio do Maracanã, neste domingo (13), quando também será feita a cerimônia de encerramento do evento. Na véspera da abertura da Copa, uma ação parecida foi realizada. Dez pessoas foram levados para a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) na Cidade da Polícia, para prestar esclarecimentos, entre eles, a Sininho.

>> Ativistas são levados à Delegacia de Repressão

Em entrevista coletiva, o Chefe de Polícia Civil, delegado  Fernando Veloso, afirmou que a quadrilha pretendia praticar atos violentos hoje ou amanhã (domingo). "Provas colhidas ao longo das investigações e  hoje evidenciam que esse grupo estava se mobilizando para praticar atos de violência", disse Veloso.

O Chefe de Polícia ressaltou que manifestar é algo legítimo e que a polícia não vai interferir em possíveis protestos, mas que violência é inadmissível: "Nós queremos paz e uma sociedade melhor. À Polícia Civil não interessa quem está sendo investigado. Temos que fazer nosso papel e não podemos permitir o caos". 

Entre os presos está Elisa de Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, que foi detida na casa do namorado, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A delegada Renata Araújo, assistente da DRCI, acredita que Sininho é uma das mentoras dos atos violentos. "A FIP fazia reuniões internas, com representantes de vários movimentos, para traçar defesa de ativistas e atos de vandalismo e violência. Os protestos sem violência são democráticos, mas essas pessoas se  aproveitavam de problemas reais da cidade para fazer manifestações onde usavam artefatos para incendiar ônibus, depredar agências bancárias, entre outros", alegou.

De acordo com  o delegado titular da DRCI, Alessandro Thiers, as investigações continuam. "O fato de a investigação estar em segredo de Justiça não nos permite dar muitos detalhes do trabalho feito até agora. É importante explicitar, porém,  que o juiz tem acesso a toda investigação e o promotor opina. Se houve decretação de prisões temporárias, isso passou pelo aval do Ministério Público e do Judiciário", disse Thiers.

O material apreendido será encaminhado à perícia e os presos serão transferidos para uma unidade do sistema penitenciário. A prisão de Elisa Quadros teve o apoio de policiais do Departamento de Investigações Criminais (Deic) do Rio Grande do Sul.