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Retrato da Pacificação: Pezão e Paes visitam Alemão após confrontos

Ônibus queimados, 10 mil alunos sem aulas e moradores baleados causam pânico nas comunidades

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O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB), visitaram na tarde desta terça-feira (29/4) a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Conjunto de Favelas do Alemão, zona Norte do Rio de Janeiro, que foi reaberta depois dos violentos confrontos ocorridos na comunidade desde a noite desta segunda (28), resultando em parte da unidade de saúde depredada. Dois médicos pediram demissão e foram substituídos por profissionais encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que informou também que os prejuízos ainda estão sendo contabilizados. Os protestos tiveram como motivação a troca de tiros entre PMs e marginais na noite desta segunda, que deixou ferido o morador Carlos Alberto Marcolino, de 21 anos, que segue internado em estado grave com a bala alojada no pulmão.

O clima de tensão no Complexo do Alemão se intensificou no domingo passado (20), com a morte da idosa Arlinda Bezerra de Assis, de 72 anos, baleada durante um confronto entre policiais da UPP e marginais. Arlinda voltava para casa, na comunidade da Grota, após um almoço de família em comemoração ao aniversário da idosa. Dona Dalva, como era conhecida na comunidade, usou o próprio corpo para proteger o sobrinho de 10 anos, e acabou sendo atingida por disparos na barriga e na virilha. O corpo de Arlinda foi sepultado na tarde desta terça-feira (29), no Cemitério de Inhaúma, zona norte do Rio. Segundo moradores, a família de Dona Dalva está com medo de represália e está evitando comentar o caso. "A Comissão de Direitos Humanos da Alerj [Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro] acompanhou o enterro da Dona Dalva e os representantes ofereceram ajuda para a família, mas a própria filha dela disse que isso é uma página virada", afirmou uma moradora que não quis se identificar.

A onda de protestos violentos no Alemão deixou sem aula os alunos de nove unidades escolares municipais, incluindo creches, nesta terça-feira (29). Segundo informações da Secretaria Estadual de Educação, cerca de 800 estudantes da rede ficaram sem aulas em duas escolas localizadas na região. No Morro do Chapadão, em Costa Barros, também na zona Norte, 12 escolas municipais não funcionaram, após uma noite violenta na comunidade em protesto pela morte de um rapaz de 17 anos, durante uma operação da Polícia Militar na tarde desta segunda (28). No total, mais de 10 mil estudantes ficaram sem estudar nesta terça.  

A noite de protestos na zona Norte da cidade teve o saldo de nove ônibus queimados. No Chapadão, além da morte do rapaz de 17 anos, foram apreendidos armamentos, um carro roubado e uma moto. O material que foi encaminhado para a 39a. DP (Pavuna). Já no Alemão, quatro pessoas foram presas e dois menores apreendidos durante a depredação da UPA. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) informou que uma agência bancária localizada na Avenida Itaoca, altura da favela Nova Brasília, teve os vidros quebrados durante o confronto. 

Segundo a CPP, quatro ônibus foram incendiados por marginais na Estrada do Itararé, um dos principais acessos da comunidade. O policiamento no local foi reforçado durante toda a terça-feira (29), por guarnições dos Batalhões do Choque e de Operações Especiais. Moradores relatavam pelas redes sociais trocas de tiros em diversas comunidades do Alemão. 

Segundo a polícia, Carlos Alberto de Souza Marcolino, 21 anos, foi baleado no peito durante o confronto entre PMs e supostos traficantes. A vítima foi levada para a UPA do Alemão e mais tarde transferido para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde passou por uma cirurgia e seu estado de saúde ainda é considerado grave. Depois da transferência do jovem, a UPA foi invadida pelos manifestantes, que quebraram uma das salas de recepção, além de aparelhagem. Adilson da Luz,  21 anos, foi preso suspeito de participar da depredação. Matheus da Silva Soares, 18 anos, também foi detido pelos policiais. Além de dois menores que também foram apreendidos dentro da unidade médica. Dois técnicos de enfermagem ficaram feridos durante o ataque e os materiais apreendidos - paus, pedras e uma batata crivada de pregos - foram levados para a delegacia da área. 

Pezão diz que atos violentos em protestos são ação de vândalos

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, classificou como ação de vândalos atos violentos durante protestos de moradores em várias comunidades, especialmente no Complexo do Alemão. Ele inspecionou, no início da noite de hoje (29), junto com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do bairro, depredada durante protesto na noite de ontem (28), por causa da morte de uma aposentada, após um tiroteio.

"Um dos maiores pedidos dos moradores do Complexo do Alemão era ter saúde. Isso não foi ação de moradores. Atos de vandalismo não vão colocar em xeque a política de pacificação", disse o governador, durante entrevista coletiva.

Pezão reiterou que solicitou a transferência para presídios federais de criminosos detidos nos últimos dias, suspeitos de comandarem os ataques contra bases de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). "Vamos transferir todos esses marginais. Já passei a relação para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo."

>> Justiça autoriza transferência de traficante do Alemão para presídio federal

O prefeito Eduardo Paes também não poupou críticas aos responsáveis pelos ataques à UPA. "O que tivemos aqui ontem foram atos praticados por delinquentes. Aqui é uma unidade de saúde muito querida pela população. Vários equipamentos foram danificados. Mas já hoje fizemos um esforço grande e a UPA já voltou ao atendimento normal", disse Paes.

O coordenador das UPPs, coronel Frederico Caldas, também participou da coletiva e disse que as diversas ações que vêm ocorrendo em comunidades pacificadas são uma resposta do tráfico, que está perdendo terreno. "Na medida em que o processo de pacificação vai avançando, o cerco está se fechando. Nós reconquistamos territórios que historicamente eram verdadeiros corações das principais facções no Rio de Janeiro. O comércio da droga é lucrativo. Essas comunidades têm um histórico muito antigo de presença de tráfico. Não há dúvida de que por trás desses movimentos há uma participação do tráfico", disse Caldas.

* Com Agência Brasil