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Carnaval: garis em greve fazem novo protesto e lixo se acumula nas ruas

Classe quer reajuste do piso salarial, aumento do ticket refeição e melhores condições de trabalho

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Centenas de garis ocuparam a frente da prefeitura do Rio de Janeiro, no Centro, no final da manhã deste domingo de carnaval (2/3), para protestar mais uma vez contra o piso salarial da categoria, pagamentos não efetuados de horas extras, a falta de equipamentos adequados ao serviço e ainda pedir aumento dos valores dos tickets refeição. Devido à paralisação da categoria, as vias do Centro da cidade amanheceram com montanhas de lixo e os foliões que acompanharam os blocos de rua reclamavam do mau cheiro que tomou conta da região.  

>> Garis entram em confronto com Polícia Militar durante manifestação no Rio

Essa é a segunda manifestação em menos de 24 horas. O mesmo grupo de garis organizou neste sábado (1/3) um ato na Avenida Presidente Vargas, que acabou em confronto com a Polícia Militar nas proximidades do Sambódromo. A liderança do grupo reclama do Sindicato de Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio de Janeiro, que havia convocado a greve e, à meia-noite da sexta-feira (28), porém, cancelou a paralisação sem, segundo eles, dar qualquer justificativa.

O gari Bruno Lima, um dos líderes do movimento, contou que desde o ano passado a classe tenta uma negociação com o sindicato sem sucesso. Segundo ele, na quinta-feira passada (27) a direção do sindicato recebeu uma comissão de garis e assinou, na madrugada de sexta, um documento convocando a paralisação geral, com início a partir de sábado (1). Porém, no dia seguinte o sindicato teria voltado atrás e cancelado o movimento. Lima disse que no sábado, antes do protesto na Avenida Presidente Vargas, o grupo de garis esteve no sindicato durante toda a manhã, mas não conseguiu ser atendido. "A gente queria entender a decisão do sindicato de cancelar a paralisação, porque foi uma atitude muito estranha. Eles [diretores do sindicato] nos deixaram mais uma vez mão", disse o gari. 

Integrantes do grupo que preferiram não se identificar afirmam que neste domingo 'funcionários da Comlurb estavam sofrendo intimidação por parte de seus gerentes para continuarem trabalhando. Lima confirmou essa versão e acrescentou que a "pressão" dos gerentes é devido ao contingente de garis que aderiram à paralisação, que de acordo com ele é de 70% a 80%. "Eles estão trabalhando com um efetivo de apenas 30%, claro que isso gera problemas. Os gerentes comentaram que os empregos dos garis que estão paralisados corre risco. Mas nós vamos manter o movimento até o governo ou sindicato nos apresentar um caminho para negociação", afirmou Lima. O grupo já anunciou mais um ato nesta segunda-feira (3), às 7h, na Central do Brasil, após o desfile das escola de samba do Grupo Especial.

De acordo com Bruno Lima, uma advogada da Defensoria Pública do Rio está orientando o grupo de garis sobre os procedimentos que poderão ser tomados após a desembargadora Rosana Salim Villela Travesedo, do Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Rio de Janeiro (TRT-RJ), declarar a paralisação como “abusividade e ilegalidade”, já que acontece no curso da negociação do dissídio coletivo da categoria referente ao ano de 2014. A desembargadora determinou no sábado (1) a imediata suspensão da paralisação, sob pena de multa diária no valor de R$ 25 mil no caso de descumprimento.

Atualmente, o piso salarial dos garis é de R$ 803. A categoria reivindica uma ajuste para R$ 1,2, enquanto a prefeitura propõe R$ 877, segundo o gari Fábio Coutinho, que também faz parte da liderança do movimento de paralisação. Além disso, os trabalhadores pedem o aumento do tíquete-refeição de R$ 12 para R$ 20 por dia, o retorno do pagamento do triênio e do quinquênio, pagamento de horas extras trabalhadas nos fins de semana e feriados e melhoria das condições de serviço.

A Comlurb emitiu uma nota neste domingo informando que a rotina especial de limpeza programada para o período de Carnaval está sendo cumprida e o grupo dissidente conta com cerca de 300 pessoas, o que não interfere no serviço de limpeza urbana garantido pelos seus 15 mil garis. Mas no comunicado, admite que "alguns pontos da cidade sofreram interferência de membros de um grupo de grevistas sem representatividade nem ligação com sindicato reconhecido da categoria e com movimento considerado ilegal pela Justiça do Trabalho, o que dificultou e atrasou a realização dos serviços". A companhia garantiu que “está em negociação com o sindicato da categoria, como faz anualmente no período do acordo coletivo”.

O Jornal do Brasil tentou contato com o sindicato, mas não obteve retorno.

Os foliões que foram às ruas do Rio na manhã deste domingo encontraram um cenário de abandono, com acúmulo de lixo em diversas parte da cidade. A situação era mais grave no bairro da Lapa e seu entorno, na Cinelândia e Avenida Rio Branco. A Comlurb justificou ainda que, pelo fato de muitas pessoas permanecerem durante toda a madrugada no Centro, a limpeza das vias só pode ser liberada após estarem inteiramente livre, para a execução dos serviços do caminhão de varredeira e lava-jato.