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Deputado diz que assessor não contratou ativistas e acusa delegado de "armação"

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O deputado estadual Geraldo Pudim (PR/RJ) negou que o seu assessor Sebastião Rodrigues Machado Júnior, o Nayt Jr, tenha contratado "ativistas profissionais" para atuar em manifestações realizadas na cidade, como o Ocupa Cabral e Ocupa Câmara, como foi noticiado pelo jornal O Globo, no último domingo (10). Em uma entrevista ao Jornal do Brasil, realizada nesta terça-feira (12/11), em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Geraldo Pudim desabafou e disse que essas acusações são "infundadas", criadas pelos governos estadual e municipal para descredibilizar o partido que está ganhando força nas pesquisas eleitorais. 

Geraldo Pudim atribuiu ao delegado Ruchester Marreiros as acusações que ele diz ser "armadas" contra Nayt, como represália às denúncias que o seu gabinete tem elencado contra o delegado e o governo de Sérgio Cabral (PMDB) nos últimos meses. A relação entre Marreiros, Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, é bem mais "estreita" do que aparenta publicamente, segundo Pudim. O deputado lembrou os esforços de Marreiros para favorecer o governo em episódios policiais recentes, citando o caso do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido há quatro meses da comunidade da Rocinha, e da chinesa Ye Guoe, desaparecida em julho de 2008, após sair de um shopping na Zona Oeste da cidade. Nos dois casos, as delegacias chefiadas por Ruchester Marreiros estavam nas investigações.

"O delegado Ruchester Marreiros se empenhou para provar que o Amarildo e sua família tinham relação com traficantes da Rocinha. Mas essa não é a primeira vez que esse delegado vai contra a opinião pública para proteger o governador que paga o seu salário", disse Pudim. Na época do desaparecimento de Ye Guoe, Marreiros ocupava o cargo de titular na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). Pelas investigações, a chinesa saiu de um shopping na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, depois de trocar R$ 200 mil por dólares, em uma casa de câmbio do estabelecimento, e pegou um táxi que foi interceptado por quatro policiais que estavam em uma viatura da Polícia Civil, identificada como sendo da delegacia chefiada por Marreiros. "O delegado Ruchester saiu em defesa dos seus policias, imediatamente, afirmando que não havia provas concretas contra eles e até fez elogios aos policiais suspeitos", relembrou o deputado. 

Um ano depois, a Comissão Parlamentar (CPI) das Milícias revelou que os policiais militares Izan Chaves de Melo e Cláudio Rodrigues de Azevedo, que acompanhavam os policiais civis da DHBF, Marcelo Gomes Costa e Fabiano Amaral Bernardo, na interceptação do táxi em que estava Ye Guoe, estavam diretamente ligados ao grupo de milicianos e o corpo de mulher possivelmente teria sido enterrado no Morro da Covanca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Quatro policiais da delegacia de Marreiros foram condenados por roubo triplamente qualificado e ainda foram afastados das atividades na Polícia Civil. 

No recente caso do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, que teve repercussão internacional, Ruchester Marreiros iniciou as investigações sobre o desaparecimento do morador da Rocinha, à frente da 15a. DP (Gávea). O delegado chegou a concluir no seu inquérito policial que Amarildo tinha sido sequestrado por traficantes e a sua casa servia como "base" por traficantes, acusando ainda a mulher do pedreiro, Elisabeth Gomes, de ligação com o tráfico na favela. Ruchester pediu a prisão de Elisabeth, mas a Justiça não atendeu à solicitação do delegado e ele foi transferido para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). O delegado que entrou no lugar de Marreiros, Orlando Zaccone, questionou publicamente as investigações do seu antecessor.

As investigações de Ruchester  coincidiram com o período em que Amarildo desapareceu da Rocinha, após ser levado por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local para uma "averiguação". Em agosto, o delegado apresentou um vídeo gravado por ele e pelo inspetor Halter Pitter dos Santos da Silva, onde um menor acusa o traficante Thiago Silva Mendes Neris, o Catatau, pelo sumiço de Amarildo. Na semana seguinte, o mesmo jovem prestou novo depoimento na Divisão de Homicídios (DH), revelando que recebeu dinheiro de um inspetor da Civil para mentir. O menor disse também que o ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, major Edson dos Santos, foi ao hospital oferecer segurança e o aluguel de um imóvel fora da comunidade, na condição dele continuar incriminando Catatau. Escutas telefônicas feitas pela DH revelaram que o major Santos recebeu conselhos de Pitter para combinar depoimentos com PMs da UPP. Foram identificados 14 telefonemas entre o major e o inspetor de Ruchester, entre os dias 15 de agosto e 11 de setembro. 

Depois disso, Ruchester passou a ser investigado pela Corregedoria Geral Unificada (CGU), por supostos erros técnicos cometidos durante uma investigação de tráfico na comunidade, que originou a operação Paz Armada, quando Amarildo foi levado por policiais da UPP e, segundo o Ministério Público, foi torturado, morto e teve o seu corpo ocultado pelos PMs. Ruchester foi novamente realocado no cargo de adjunto na 12ª Delegacia de Acervo Cartorário (DEAC) e o inspetor Halter Pitter foi transferido para a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI). "É incrível não haver qualquer procedimento disciplinar instaurado contra Pitter, que atualmente está em plena atividade na delegacia de Jurujuba, em Niterói", disse Pudim.

>> Amarildo: delegado Ruchester é investigado pela CGU

"O que muitos não lembram é que o delegado Ruchester foi subsecretário de Ordem Pública no governo Eduardo Paes e o inspetor Halter Pitter, seu coordenador de Integração Operacional, além de ser seu primo. Eram da turma do delegado Carlos Oliveira, que cuidava da Ordem Pública e acabou preso pela Polícia Federal na Operação Guilhotina. Os elos são claros. A participação desses policiais no esquema do PMDB, ora com Paes, ora com Cabral, é notória", afirmou o deputado Geraldo Pudim. O parlamentar liderou na bancada do seu partido na Alerj o pedido de intervenção da Polícia Federal nas investigações sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, encaminhado em setembro ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O conteúdo do ofício justifica o pedido de mudanças nos rumos das investigações pela crise instalada no Governo do Estado na área de segurança pública, geradas pelos fortes indícios de envolvimento de policiais da UPP em crimes de tortura e mortes na comunidade e pelas divergências entre delegados responsáveis pelos casos, se referindo a Ruchester Marreiros e Orlando Zaccone. 

>> Alerj pede intervenção da Polícia Federal no caso Amarildo

Segundo Pudim, o delegado Ruchester já era o eleito pelo governo Cabral para integrar a Comissão Especial para "perseguir" pessoas envolvidas nas manifestações no Rio, criada em julho deste ano. "A escolha do governador por Ruchester foi estratégica, pois levou em conta a lealdade de Pitter às orientações para blindar a imagem do governador e atingir seus adversários políticos", comentou o parlamentar. Segundo Pudim, no curto período em que delegado Ruchester atuou na DRCI, surgiram várias denúncias "absurdas" contra membros do PR, de participação em atos de vandalismo nas manifestações. "Você sabe qual é o livro de cabeceira de Ruchester Marreiros? Pois bem, basta olhar no Twitter dele, é esse aqui, 'Como se produz um escândalo'. Ele aprendeu bem e está seguindo a cartilha à risca", disse o deputado à equipe de reportagem do Jornal do Brasil.

Geraldo Pudim afirma que foi procurado por denunciante

"Nem o Nayt [Sebastião Rodrigues Machado Júnior, assessor no gabinete de Geraldo Pudim] e nem o Peregrino [Fernando Peregrino, secretário-executivo do PR] estão metido nisso", afirmou Geraldo Pudim ao abrir a entrevista coletiva concedida nesta terça (12), no plenário da Alerj. Ele estava se referindo a uma possível investigação iniciada há cinco meses pela Polícia Civil, através da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e da Coordenadoria de Informações e Inteligência (Cinpol), que aponta o assessor Nayt como intermediador entre membros do PR e manifestantes contratados para atuar de forma violenta em manifestações no Rio. As investigações incluem o depoimento de um ex-militante do PR, Anderson Harry Grutzmacher, que denunciou o suposto esquema de recrutamento de ativistas.

Segundo Pudim, ele foi procurado por Anderson há 10 dias, quando estava saindo da Alerj. O parlamentar disse que na sua abordagem, Anderson queria mostrar uma gravação que estava num iPhone, que incriminava integrantes do seu partido. "Eu me recusei a ouvir a tal gravação. É um material não confiável e apresentado por uma pessoa que não conhecia", contou o deputado. Com a negativa, Anderson disse que o parlamentar tinha dois caminhos: "ou ele ouvia as escutas dele ou procuraria um veículo de comunicação para fazer a denúncia", revelou Pudim. De acordo com o deputado, Anderson chegou a comentar que havia sido contratado por dois deputados da base para "esse trabalho", mas os parlamentares não o pagaram.

Geraldo Pudim disse que procurou o deputado André Correa para comentar o caso, mas não levou o episódio ao conhecimento do presidente da casa, Paulo Melo, por considerar desnecessário. "Pra mim foi uma surpresa ele realmente procurar um jornal para denunciar e surpresa maior esse inquérito da Polícia Civil que ninguém conhece. Não posso me pronunciar sobre uma investigação que não me foi apresentada", disse Pudim. As matérias relacionadas as denúncias contra Nayt e o PR foram encaminhadas pelo gabinete de Geraldo Pudim ao departamento jurídico do partido e, de acordo com o parlamentar, serão tomadas as medidas jurídicas cabíveis ao caso. "Para mim, isso é mais uma ação armada pelo delegado Ruchester Marreiros. Ele levantou um processo relacionado às manifestações e pinçou o nome do Nayt, com o intuito de atingir o meu gabinete e o partido. O meu assessor realmente esteve presente em alguns atos, como ativista que sempre foi, mas nunca cometeu nenhum ato ilícito ou violento. O Nayt me acompanha há mais de 10 anos, tenho certeza que não está metido nisso tudo", afirmou o parlamentar.