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Prefeitura do Rio muda trânsito e deixa cerca de 90 guardadores desempregados

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Cerca de 90 guardadores de automóveis credenciados à Prefeitura do Rio ficaram desempregados nesta semana, com a implantação do novo sistema de trânsito no Centro da cidade para as obras de demolição do Elevado da Perimetral. Com as mudanças 1449 vagas do Rio Rotativo foram extintas em 20 vias no entorno da Perimetral e os guardadores estão impedidos de trabalhar nos pontos que atuavam há mais de 10 anos. A categoria chamou a decisão do prefeito Eduardo Paes (PMDB) de "arbitrária" e "covarde", já que eles foram pegos de surpresa pelos agentes municipais que instalaram as placas proibindo o estacionamento em áreas onde eles "ganhavam o pão de cada dia".

Juarez Lima trabalha há 45 anos na Avenida Beira Mar, próximo ao Tribunal Regional do Trabalho, e não sabe como vai sobreviver após o seu ponto de atuação ser interditado pela prefeitura na última segunda-feira (14). "Eu estou doente, dormindo em um posto de gasolina, porque não tenho moradia, e ainda tenho que ajudar na criação de um neto. Como eu vou me virar agora? Como? Estou desesperado, não vejo uma solução, porque sempre trabalhei aqui tomando conta dos carros dos meus clientes", desabafou o guardador de 55 anos. Com apenas 22 anos de idade, Anderson Macedo divide o ponto com Juarez e também critica a ação do governo Paes. "Eles chegaram na segunda-feira, sem antes avisar nada, foram colocando as placas de 'proibido estacionar' e intimando a gente para sair do nosso trabalho. Um absurdo!", comentou o jovem, que herdou a profissão do seu pai, Marcio Ribeiro, que há 19 anos mantém uma clientela na área. Anderson comentou que na mesma avenida, uma das faixas serve como estacionamento para ônibus intermunicipais e não tem serventia para a população. "Por que não deixar a gente ficar alí?", questiona ele. 

Em outro ponto do Centro da cidade, na Rua Santa Luzia, o guardador Edilson Silva, de 60 anos, também critica a postura da prefeitura. Segundo ele, não houve diálogo entre a categoria e as autoridades na busca de alternativas para os trabalhadores não perderem os seus rendimentos. "Meu ponto ainda não foi alvo deles, mas sei que isso vai acontecer a qualquer momento, porque na semana passada eles [funcionários da prefeitura] passaram por aqui e colaram nos carros uma informação de que a partir dessa semana o trânsito teria novas regras. Agora que eu entendi tudo". Wilson Carlos Batista, de 51 anos, não teve a mesma sorte do seu colega Edilson e ficou desempregado na segunda-feira (14), quando a interdição chegou ao seu ponto, na Avenida Marechal Câmara. Pai de dois filhos, Wilson pediu ajuda aos amigos e agora ele atua em diversos pontos do Centro, em áreas ainda não atingidas pela medida. 

Um dos mais antigos e conhecidos guardadores de automóveis do Rio, Sebastião Pereira de Souza, de 72 anos, avaliou o ato do prefeito Eduardo Paes como "uma traição". Ele lembra que a classe sempre apoiou as campanhas políticas de Paes e não esperavam do governo uma atitude tão ditadora e que fosse colocar em risco tantos trabalhadores que confiavam na sua administração. Pai de seis filhos, Sebastião já espera por tempos difíceis, mas tem esperanças de uma negociação com a prefeitura. "Só no meu ponto, das 36 vagas que eu tinha direito restaram apenas 16. Como pagar as contas com um trabalho tão reduzido", reclamou ele. 

O presidente do Sindicato dos Guardadores de Automóveis do Rio de Janeiro (SINGAERJ), Jorge Justino, afirmou que a prefeitura não fez nenhum comunicado prévio ao órgão e todos os trabalhadores foram pegos de surpresa pela medida. Justino disse que vai tentar um canal de diálogo com o prefeito Eduardo Paes e propor a legalização pontos para estacionamento em algumas vias públicas do Centro, como alternativa para realocar quem ficou desempregado. "O sindicato vai encaminhar um ofício ao prefeito buscando soluções para o caso e vamos acompanhar de perto esse processo, apoiando os trabalhadores prejudicados com a medida municipal", garantiu Justino.  

Os usuários do serviço apoiam a permanência dos guardadores nas ruas do Centro. O técnico em informática Jair da Silva, acredita que as mudanças no Rio Rotativo vão prejudicar os motoristas que já têm uma rotina para deixar os seus veículos em pontos estratégicos e em segurança. "Eu sempre paro o meu carro aqui na Rua Santa Luzia por ficar perto do local onde faço as minhas compras e, como eu já conheço os guardadores, fico tranquilo", disse ele. Jair prefere deixar o seu veículo na rua por considerar os preços dos estacionamentos particulares "bem salgados". "Enquanto eu pago R$ 2,00 aqui no Rio Rotativo, em um local particular esse valor vai para uns R$ 40,00, no mesmo período", justificou ele.     

Para atuar legalmente, o guardador de automóveis tem que adquirir o talão fornecido pela secretaria municipal de Transportes. Cada folha tem o custo de R$0,80 ao trabalhador, que ainda tem descontados dos seus rendimentos finais o percentual referente ao sindicato da categoria, se ele for credenciado ao órgão. Em média, um guardador de automóveis tem uma renda líquida diária de R$ 50,00 por dia.  

O presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), Alberto Gomes, afirmou que o novo modelo de trânsito no Centro está detalhado em panfletos que estão sendo distribuídos em diversos pontos da cidade e pediu para a população priorizar o transporte público. O Elevado da Perimetral será fechado definitivamente a partir do próximo sábado (19/10), do trecho que vai do Gasômetro até a Praça Mauá. A sua demolição está prevista para o final do ano.