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Após Justiça negar 'morte presumida', campanha vai ajudar família de Amarildo

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O filho mais velho do pedreiro Amarildo de Souza, Anderson Dias, visitou a redação do Jornal do Brasil para anunciar uma campanha promovida por amigos dele e que pode ser a “salvação” financeira da família. Foi aberta uma conta bancária no Banco do Brasil para depósitos destinados à família do pedreiro, que podem ser feitos por qualquer cidadão sensibilizado com o drama. Anderson contou a difícil tarefa de refazer a rotina após a tragédia, principalmente quando falta dinheiro para comprar “o pão de cada dia”. 

Nesta terça-feira (20/08), a Justiça do Rio negou o pedido de morte presumida feito pela família de Amarildo de Souza, desaparecido há mais de um mês da Rocinha, levado por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora. Sem a certidão de óbito, a mulher do pedreiro, Elisabeth Gomes, não poderá solicitar pensão à Presidência Social, o que deixa mais nebulosa a situação financeira dos familiares. O Jornal do Brasil apoia a campanha popular em prol da família, incentivando as doações através da conta corrente do Banco do Brasil, agência 5975-7, conta número 1.913-5. 

Passado o período de desespero e angústia por não saber o paradeiro do seu pai, Anderson diz que agora o grande desafio é reconstruir uma nova vida. “Os meus irmãos mais novos ficam o tempo todo perguntando onde está o meu pai, quando ele vai voltar para casa. Isso dói demais, deixa a gente triste, sem saber o que fazer. Nós temos certeza que ele [Amarildo] está morto, que mataram ele, falar o que para as crianças? E depois do assassinato, não tivemos mais condições de trabalhar, nem eu e nem a minha mãe, então estamos sem dinheiro para comprar comida. Tá muito difícil”, revela ele.

Com medo de represália dos policiais da UPP, Elisabeth e seus seis filhos – Milena (6 anos), Alisson (10), Ana Beatriz (13), Amarildo Jr. (18), Emerson (20) e Anderson (21), mudaram-se para a casa de uma sobrinha do pedreiro, em outro imóvel na Rocinha, mais afastado do barraco de apenas um cômodo que eles residiam há mais de 20 anos, na localidade conhecida como Pocinho. “Agora piorou. Somos 17 pessoas morando num quarto, sala, cozinha e banheiro. É um aperto só, nossa! Estamos muito preocupados, porque recebemos um donativo de alimentos há uns dias, mas a geladeira só está esvaziando e ninguém consegue emprego. E quando acabar? Desse grupo todo, apenas três primos estão trabalhando e sustentando o resto, sendo que eles ganham pouco”, conta.

Anderson disse que, após o sumiço de Amarildo, a sua família recebeu a visita do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e também participou de uma reunião com o governador da cidade, Sérgio Cabral, para solicitar das autoridades apoio financeiro. “Mas até agora ninguém da prefeitura nos procurou para ajudar. Nada aconteceu. Estamos contando com a ajuda dos amigos e parentes para sobreviver”, afirmou Anderson. Segundo ele, os irmãos mais novos voltaram a estudar, mas o aprendizado está prejudicado pela falta de material escolar e nem roupa eles têm para ir ao colégio.

Com o olhar sem direção e emocionado, Anderson lembrou que no dia em que seu pai foi levado pelos PMs, eles combinaram uma mudança radical que iria beneficiar toda a família. “O meu pai ia me levar para trabalhar com ele no dia seguinte que ele sumiu. Ele já tinha conversado com o chefe e estava tudo certo para eu trabalhar e aumentar o dinheiro lá em casa. Assim, a gente ia conseguir refazer o barraco, uma obra que ele e a minha mãe estavam sonhando há muito tempo”, revelou o jovem.

Ele lembra como os seus parentes chegaram à Rocinha e disse que, apesar da apertada renda familiar, todos eram felizes e unidos. “A minha mãe chegou de Natal jovem e conheceu o meu pai numa feira livre, onde ele trabalhava com a minha tia Eunice vendendo caqui. Quem morava na Rocinha era o meu pai e, depois que casou com a minha mãe, carregou ela para a comunidade. Todos nós [ele e irmãos] nascemos ali. A gente até morava num barraco de madeira grande, mas aos poucos ele foi dividido para outros parentes e ficamos apenas com um cômodo. Agora que o meu pai pretendia aumentar novamente a nossa casa, mas acontece essa tragédia”, conta. E é essa relação afetiva com a comunidade o maior entrave para a família de Amarildo sair da Rocinha, mesmo considerando o lugar não tão seguro depois do desaparecimento.

O cidadão que quiser ajudar a família de Amarildo, já pode fazer a sua contribuição através de depósito em conta corrente aberta por amigos e parentes. A conta no Banco do Brasil está em nome de Anderson Gomes Dias, agência 5975-7, conta corrente número 1.913-5.