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Quadrilha de policiais acusados de extorsão é desarticulada 

Quadrilha usava estrutura da DRFC para apreender cargas e depois exigir propina

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Uma quadrilha formada por policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC), que tinham como cúmplices um policial militar e um bombeiro, foi presa na manhã desta terça-feira (18) durante a Operação Carga Pesada, articulada pela Corregedoria Geral Unificada (CGU)da Secretaria de Estado de Segurança.

Através de informantes, o grupo obtia indicação de comércios em situação irregular e transportadores de cargas ilícitas e, se utilizando da condição de policiais, apreendiam a mercadoria. Em seguida, a quadrilha negociava a devolução da carga apreendida mediante pagamento de propina.

“Ao invés de apreender a carga irregular e realizar todo o procedimento policial, eles se aproveitavam da estrutura oferecida pelo Estado, para extorquir as vítimas”, conta o promotor Jorge Magno, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.

Segundo a CGU o grupo cometia crimes como extorsão, roubo de carga, revenda de material apreendido, ameaças e invasão de domicílio.  Durante as investigações, que tiveram início em 2011, ficou evidenciado, por meio de depoimentos de vítimas e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, que os policiais denunciados se dedicavam quase que exclusivamente à obtenção de vantagens indevidas.

A corregedora Marcia Pita classificou a situação dos recorrentes casos de desvio de conduta por conta de policiais como "desconfortável": "É uma situação desconfortável. Nós não vamos acabar com os maus policiais, mas certamente iremos controlar".

Uma das vítimas – que negociava eletrônicos sem comprovação de origem, no camelódromo da Uruguaiana –  se recusou a pagar a propina e denunciou o esquema. O comerciante teve sua casa invadida pelos agentes da DRFC que apreenderam uma carga de videogames sem nota fiscal. Eles, então, exigiram R$ 10 mil para a liberação do material. A vítima se recusou a pagar e foi encaminhada à DRFC, na Pavuna, onde o valor da propina foi reduzido para R$ 5 mil. O comerciante novamente se negou a pagar e o caso foi falsamente registrado junto ao cartório da DRFC.

Nessa ação, foi possível conhecer as divisões de tarefa da quadrilha: coube aos policiais civis a função de invasão da residência da vítima escolhida, onde um policial fazia o papel de algoz e o outro, de negociador. Já o informante, responsável por escolher as vítimas de extorsão, atuava dando cobertura aos policiais. Ele portava fuzil, uniforme de policial, utilizava viaturas e tinha livre trânsito na delegacia, o que fazia com que as vítimas acreditassem que, de fato, fosse um policial civil.

De acordo com o delegado Marcelo Fernandes, as investigações não incriminaram o delegado titular da DRFC. No entanto, a conduta da chefia da delegacia segue sob investigação.

Em outro caso, a quadrilha utilizava-se de um caminhão estacionado no pátio da DRFC, como depósito de mercadorias. A carga encontrada no caminhão foi avaliada em R$ 140 mil. Além de negociarem as cargas apreendidas, os agentes da DRFC atuavam com uma espécie de máfia - exigindo R$ 400 mensais de comerciantes na região de Campos Elíseos, em Duque de Caxias,  para não serem incomodados pela polícia.

De acordo com a CGU, o policial civil Roberto Carlos Gomes Cavalcanti – à época lotado na 60ª DP (Campos Elíseos) -  era o responsável por arrecadar o dinheiro e arregimentar outros policiais para o esquema. Junto com ele foram presos na operação o chefe do cartório da DRFC, Paulo João Reche, além de Alessandro Trindade,  Gilmar Antônio, Maurício Xaday, Wellington de Oliveira, Sandro Gomes, Alex Sander e Sérgio Machado.

A Operação Carga Pesada conta com o apoio do Gaeco, da Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol), da Corregedoria da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Secretaria de Estado de Segurança (Seseg).