O Governo garante que não iniciará nenhum processo de demolição do Museu do Índio nesta semana ou às escondidas. Disse ainda que ações de demolição só serão tomadas após o lançamento do edital de licitação das obras. A afirmação, feita nesta quinta-feira (15) ao Jornal do Brasil, partiu da assessoria de imprensa do governo do estado.
Os índios da Aldeia Maracanã, porém, asseguram: vão lutar até o fim, e prometem fazer um cordão de isolamento humano assim que os carros do governo do estado chegarem. “Vamos ficar, por questão de justiça e reparação dos povos indígenas”, garantiu Afonso Apurinã, um dos líderes da aldeia.
A audiência pública sobre a privatização do Maracanã, com direito a clima de guerra e até fezes atiradas no Assessor da Casa Civil, Regis Fichtner, completou nesta quinta-feira (15) exatamente uma semana.
Chegada do Governo terá resistência firme
A assessoria de imprensa do Governo do Estado explicou ao Jornal do Brasil que o Edital de privatização do Complexo Esportivo do Maracanã ainda nem foi lançado. O lançamento deveria ocorrer em no máximo 10 dias após a audiência pública. Porém, com os feriados, a definição da licitação só deve ocorrer a partir do dia 21 de novembro. A assessoria garantiu ainda que qualquer ação a respeito do Museu do Índio só será realizada após o lançamento do edital.
Carlos Tucano, líder do movimento da Aldeia Maracanã, diz que, como líder indígena, nunca foi ouvido ou respeitado em sua posição. Segundo ele, a situação agora é decisiva, e irá separar os que realmente estão apoiando o movimento:
“Eu quero ver neste momento quem está conosco ou não. Essa é a hora da verdade. Eu quero ver se o governo brasileiro vai nos apoiar, para depois não dizer ao mundo que está tratando bem os indígenas”, desabafou Tucano.
Segundo Apurinã, a adesão ao movimento indígena aumentou bastante após a cassação das liminares pela desembargadora Federal Maria Helena Cisne, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região(TRF2):
“50 pessoas assinaram a lista de presença na mesma noite em que as liminares foram cassadas. O movimento está tão grande que até nós mesmos estamos segurando um pouco as adesões. Queremos menos barulho, violência e mais sabedoria. Não podemos agir contra o Estado como eles agem contra nós”, declarou Apurinã.
Tucano concorda com Apurinã, e diz que o Governo pouco fez pelos indígenas do Brasil: “Quero que me mostrem as melhorias. Eles prometem que, até 2040, a situação estará melhor. Até lá, o índio está morto”, assinalou.
Estudantes aderem ao movimento
Priscila Machado, de 24, participa de um movimento Coletivo de Igrejas Ecocidadãs, que atua nos arredores do Maracanã. Já foi aluna do Parque Aquático Júlia Delamare, também ameaçado de demolição com as obras de privatização do Maracanã. Ela tem uma ideia interessante para aferir a opinião da população sobre a demolição do Parque Aquático, do Estádio de Atletismo Célio de Barros e da Escola Municipal Friendreich, além da Aldeia:
“Vamos conversar com os indígenas para, nos arredores do Maracanã, batermos de casa em casa para entregar um formulário à população para saber o que eles pensam. Os cidadãos é que precisariam decidir por algo assim”, propôs Priscila, que chegou ao acampamento nesta quinta-feira (15).
Já Gabriel, de 21 anos, disse que está com os índios desde a semana passada, e que foi a simplicidade deles que o motivou a ficar no local. O estudante fez um questionamento interessante sobre a Copa do Mundo:
“A cultura deles merece ser respeitada e precisamos valorizá-la. Não seria ótimo que os estrangeiros, quando saíssem do Maracanã, viessem até a Aldeia Maracanã após os jogos da Copa do Mundo e conhecessem a nossa cultura?”, perguntou ele, disposto a compartilhar do mesmo destino dos índios da Aldeia Maracanã. “Se for necessário, vou ficar até o fim.”