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Insegurança atormenta pai de morto em chacina

Após 46 dias, Cildes Vieira não quer tragédia esquecida

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Desde o dia 9 de setembro, a vida não é mais a mesma para Cildes Vieira. Ele é pai de Christian Vieira, um dos seis jovens assassinados na Chacina da Chatuba. À dor da tragédia, se somam ameaças veladas e insegurança. 

Ao Jornal do Brasil, Vieira relatou duas movimentações suspeitas de homens armados em seu bairro nas últimas semanas. Há cerca de duas semanas, vizinhos lhe terem visto quatro homens encapuzados e armados saírem de um táxi a procura de seu endereço. Depois de procurar por um tempo, os homens voltaram ao táxi e deixaram a rua.

Na semana passada, vizinhos notaram a presença de um carro preto perto da casa dos Vieira. O carro ficou parado entre 1h e 4h da madrugada, perto de um bar.

Durante o enterro dos jovens, Vieira prometeu denunciar quem tivesse que denunciar, e afirmou não ter medo de morrer para saber o que realmente aconteceu com seu filho. Ele não viu as movimentações mencionadas pelos vizinhos, até por não sair muito de casa, mas revela a preocupação pela situação em que se encontra:

"É bem complicado. Não tenho segurança nenhuma", reclama admitindo mudar-se, em breve, para outro endereço. O motivo, porém, não é o medo de represálias:

"É muito mais pela lembrança mesmo de tudo o que aconteceu. Além, claro, da segurança da minha mulher e da minha filha", admitiu.

"Essa tragédia não pode ficar esquecida"

Segundo ele, está previsto um protesto com os familiares de todos os jovens mortos na tragédia. Existe, no entanto, problemas a serem resolvidos para que a mobilização saia do papel:

"O problema maior é de mobilidade. São muitas pessoas para levar para um protesto como esse, e só por isso ele ainda não aconteceu", explicou Vieira. Há, como disse, duas  opções de local para o ato: o Palácio Guanabara, sede do governo, em Laranjeiras, ou a parte de trás da Candelária, no Centro do Rio.

Vieira garantiu ainda que entrará com uma ação conjunta contra o Estado e a União, reafirmando o que já havia dito ao Jornal do Brasil em anteriormente sobre o caso:

"Os órgãos competentes para cuidar da segurança nos deixam à mercê de muita coisa ruim", disse. Na ocasião ainda comentou que recebeu denúncias de moradores sobre a continuidade do tráfico na região da Chatuba de Mesquita. Segundo disse ter ouvido de moradores, policiais teriam sido visto recebendo propina de traficantes. Vieira não poupou críticas à atuação da polícia no local:

"O que eu ouvi é que o tráfico continua, mas sem a ostentação de antes. Esses policiais que recebem propina são até piores que os bandidos", opinou.Toda essa mobilização em torno da chacina tem um fundo de memória, apesar da dor que causou. "Não podemos é deixar que isso fique esquecido", finalizou.

Delegado: "Não fui procurado"

O delegado titular da 53ª DP, Júlio Silva Filho, responsável pelo caso já tem como certo o envolvimento de 20 pessoas (16 adultos e 4 adolescentes) na chacina.

"Foram quatro adultos presos e dois menores apreendidos. Já se sabe detalhadamente a participação de 14 adultos, mas outros dois também estão sendo investigados", contou o delegado. Segundo ele, todos os outros envolvidos já tiveram seus mandados de prisão emitidos, mas permanecem como foragidos.

Sobre as possíveis ameaças aos Vieira, o delegado alega não ter sido comunicado: "Não entendi por que os moradores não me procuraram para falar sobre isso", disse.

Sobre as denúncias envolvendo tráfico de drogas e os policiais dentro da Chatuba de Mesquita, ele criticou o que chamou de "inversão de valores":

"Me causa espécie. Em vez de informar à polícia, eles informam à imprensa. Existe o disque-denúncia, além de outras ferramentas para contar o que está acontecendo. Estamos trabalhando com todo o afinco para que a sociedade tenha uma resposta efetiva. Sem essas informações, fica muito difícil avançar", comentou Júlio, que garantiu apurar as denúncias sobre propina de traficantes a policiais:

"Informarei ao comandante do Batalhão", encerrou.