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Operação Catedral prende 18 envolvidos com jogo do bicho, no Rio

Delegado titular, Henrique Pessoa, foi afastado pela chefe da Polícia Civil, Martha Rocha

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A chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, após ter tomado ciência da prisão do chefe do Grupo de Investigações Criminais (GIC) da 4ª DP (Praça da República) através da Operação Catedral, adotou como critério administrativo o imediato afastamento do respectivo delegado titular, Henrique Pessoa.

A Operação Catedral, deflagrada na madrugada desta quarta-feira(29), prendeu pelo menos 18 suspeitos de ter envolvimento com uma quadrilha que explora o jogo do bicho no Centro do Rio e em São Cristóvão, na Zona Norte. A ação foi realizada por homens da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).  Entre os indiciados na operação, estão dois sargentos da Polícia Militar que faziam a supervisão de graduados da Unidade de Polícia Pacificadora(UPP) do Morro da Providência. Um deles está foragido.

Além dos contraventores, a ação tinha o objetivo de prender nove policiais (civis e militares, cinco deles na ativa) envolvidos num esquema que pagava propina de R$ 30 mil mensais a policiais. Entre os 24 criminosos que têm mandado de prisão expedido pela Justiça, estão o contraventor do jogo do bicho Evandro Machado dos Santos (conhecido como “Bedeu”); seu filho Alessandro Ferreira dos Santos; Anderson Luiz de Souza, o capitão chefe do Serviço Reservado (P2) do 5º Batalhão da Polícia Militar, na Gamboa, que recebia propina de R$ 8.400 ; o chefe do Setor de Investigações da 4ª Delegacia Policial, no centro da cidade, Weber Santos de Oliveira, que recebia cerca de R$ 16 mil de propina; e os dois que faziam o vínculo com a UPP da Providência, Marcos Aurélio das Chagas e Marcos André dos Santos. Este último ainda está sendo procurado pela Draco.

Os sargentos Chagas e Santos foram do quadro da UPP da Providência até abril de 2012. Os dois faziam " vista grossa" às atividades do jogo do bicho nas adjacências da UPP. O montante semanal recebido para tal era ínfimo: R$ 150 para Chagas e R$ 75 para Santos. 

A Operação Catedral é resultado de investigação da Ssinte e conta com apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (DRACO-IE), da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público, das corregedorias das Polícias Civil e Militar e da Corregedoria Geral Unificada (CGU) da Seseg. Ao todo, foram expedidos 24 mandados de prisão e 30 mandados de busca e apreensão. 

O resultado da apreensão foi farto: inúmeras malas de documentos do jogo do bicho, talonários(material usado para a prática do jogo), 2 laptops, celulares e rádios de comunicação e 5 pistolas de diferentes calibres, além de muita munição e uma infinidade de relógios de marca.

Funcionamento da organização criminosa

De acordo com as investigações, o grupo comandado pelo contraventor “Bedeu” detinha o domínio do jogo do bicho em grande parte do Centro (Central, ruas Uruguaiana e Rosário e Largo da Carioca) e de São Cristóvão, comprovando a divisão territorial existente entre os diversos grupos integrantes da chamada “máfia da contravenção” na cidade do Rio de Janeiro. A base física da Organização era na rua Marcílio Dias, número 20, apartamento 601, na Central do Brasil. Muito perto da sede da Secretaria de Segurança na Central, localizada na praça Cristiano Ottoni.

As investigações comprovaram que a atividade criminosa desenvolvida contava com uma complexa rede de integrantes que integravam uma bem montada estrutura de divisão de tarefas. Funcionando como uma empresa do crime, a organização tinha divisões financeira e administrativa e assessoria jurídica externa. 

Com um faturamento mensal em torno de R$ 170 mil, a organização criminosa fazia pagamentos de cerca de R$ 30 mil em propinas para os policiais civis e militares envolvidos.Com o dinheiro do jogo do bicho, os contraventores tinham um montante suficiente para possuir uma academia no Recreio dos Bandeirantes e uma concessionária de carros na Barra da Tijuca, recentemente fechada.

O primeiro envolvimento de policiais com o jogo do bicho na região da Central foi identificado em 2006, culminando com a expulsão, dos quadros da Polícia Civil, da delegada titular da 4ª DP, acusada de envolvimento com a contravenção e prática do crime de tortura a mando de contraventores, de acordo com investigações da CGU.

A atual organização criminosa contava também com policiais em seu corpo de seguranças, os quais, além da proteção dos pontos de exploração da jogatina ilegal e da segurança dos chefes da organização, eram responsáveis pelo vazamento de informações relativas a operações policiais que seriam realizadas pelos órgãos de segurança do Estado.

Comandando a quadrilha com mãos de ferro, “Bedeu” e seu filho Alessandro ostentavam estilo de vida de alto padrão, morando em mansões no Recreio, com carros importados e até um iate. Os monitoramentos da Ssinte apontaram ainda ligações entre diversas famílias de contraventores no Rio de Janeiro, a divisão territorial dos pontos de exploração dos jogos ilegais na cidade e o estreito relacionamento entre as organizações.

Os 30 mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos em residências e em escritórios da organização. Ao longo da apuração, que começou a 3 de janeiro deste ano, a SSINTE deteve outros 25 membros da organização criminosa, que funcionavam como anotadores/apontadores de apostas (conhecidos como “aranhas”) nos pontos de exploração do jogo ilegal.

A Central de Apuração de Resultados do jogo do bicho, localizada na Rua Senador Dantas, foi desmantelada na manhã de hoje. Os indiciados pelo caso serão denunciados ao Ministério Público por exploração de jogo do bicho, formação de quadrilha, corrupção passiva e ativa e violação do sigilo funcional.

"Não existe Jogo do Bicho sem apoio da Polícia"                  

Homero Freitas, Coordenador da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público, e Fábio Galvão, Subsecretário de Inteligência, concederam uma entrevista coletiva logo após a apreensão do material pela polícia civil. Ambos mostraram os nomes de todos os envolvidos no esquema de contravenção. Freitas deu o principal motivo para que o Jogo do Bicho seja tão forte no Rio de Janeiro:

" A população tem uma condescendência com o jogo do bicho, acha que é apenas uma contravenção penal, é só o velhinho que está ali fazendo o jogo. Mas não existe isso sem o apoio da polícia. O policial é pago para proteger, mas alguns deles apoiam e fazem parte desse tipo de grupo. E o Estado está mostrando que, se preciso, cortará na carne para acabar com essa organização criminosa"

Galvão, Subsecretário de Inteligência, pontuou as ações já realizadas pela Operação Catedral e quais serão os próximos passos da investigação:

" Fizemos acompanhamento, filmagens, e passamos tudo para o Ministério Público. Eles denunciaram 35 pessoas, entre apontadores e os envolvidos diretamente no comando do esquema . Agora vamos analisar o material apreendido e nos focar bastante também na lavagem de dinheiro."