Antiga propriedade do empresário Eduardo Guinle, fundador da Companhia das Docas e pai de Octávio Guinle, criador do Hotel Copacabana Palace, o Parque Guinle, em Laranjeiras, é a atual residência do governador, embora Sérgio Cabral prefira morar no Leblon. A área verde, com 24.750 m² e jardins remodelados por Burle Marx na década de 50, tombada pelo Patrimônio Histórico, passou a ser habitada nos últimos dez anos por uma nova comunidade: os patos.
Na semana passada, os frequentadores foram surpreendidos com papeis colados às árvores, avisando que a Associação Abraça Aves decidiu doar patos, para evitar a superpopulação. A presidente, Nedina Levi, trata voluntariamente das aves do parque desde 2006. Sob seus cuidados, o local chegou a abrigar 53 patos, número que começou a incomodar a vizinhança. A associação de moradores local reclamou e ela conta qual foi a solução encontrada:
" Resolvemos fazer doações para sítios e criadores de animais. Ficaram apenas 26. Espalhei um informe nas árvores explicando que os patos foram doados por motivo de superpopulação, deixando tudo claro para os frequentadores", desvenda o mistério.
"Mas ainda há moradores e frequentadores que reclamam dos bichos", surpreende-se Nedina, que gasta cerca de 80 kg de milho por mês para alimentar as aves. Além dos 26 patos remanescentes, o parque tem sete marrecos de diferentes tipos e oito gansos. Fora eventuais garças que passeiam por ali.
Nedina também enfrenta problemas com o berçário que criou recentemente próximo ao pequeno lago, autorizado pela Fundação Parques e Jardins. "Um morador pede na Justiça a remoção da pequena estrutura, temporária, de metal, onde estão 12 patinhos, porque o parque é tombado", lamenta.
As aves, que começaram a aparecer na área nos últimos dez anos como doação, porque tinham problemas de saúde, estão longe de ser uma unanimidade. A professora aposentada, Sueli Meziat, é uma que não vê com bons olhos a integração entre crianças e animais. "O espaço é muito bonito, e o fato de as aves ficarem soltas é ótimo para as crianças, elas adoram. Mas fico preocupada, porque os bichos podem ter alguma doença e transmitir aos pequenos, já que o contato é direto", especula Meziat, frequentadora do local há cinco anos.
Há cerca de quatro meses, o garboso galo Roberto Carlos, sobrevivente da enchente de Friburgo que convivia em harmonia com os patos, foi envenenado com chumbinho. Naira Ficher, que frequenta o parque desde que nasceu, suspeita dos vizinhos."É bem possível que tenha sido algum morador. Afinal, o galo cantava de manhã, o que incomoda muita gente", acredita Ficher, professora e Bióloga.
Para ela, o contato das crianças com os bichos é extremamente positivo: "Quantas crianças hoje em dia têm a chance de ver os animais na natureza? Acho muito bom mostrar que pode haver, desde cedo, harmonia entre os homens e os bichos", anima-se a professora.
A presidente da Abraça Árvores tem ainda outra preocupação envolvendo o local, que afeta não só os homens, como os bichos: a erosão." Quando tiraram as plantas de uma das encostas do parque, a Comlurb prometeu fazer um replantio. Essa promessa já tem quatro anos e nada foi feito. Em uma chuva mais forte, pode cair tudo em cima da gente.", preocupa-se Nedina Levi.
Localizado no sopé do Morro Nova Cintra, com acesso pela Rua Gago Coutinho, o Parque Guinle é uma área de lazer aberta à população. Além de parques infantis, o local atrai idosos que se exercitam em aulas gratuitas promovidas pela prefeitura. Nas dependências do amplo terreno foi construído o primeiro conjunto residencial para elite, com projeto de Lúcio Costa, arquiteto idealizador de Brasília. As obras aconteceram entre 1948 e 1954, quando Burle Marx remodelou os jardins.