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Comandante da UPP da Mangueira: invasão de quadra 'seria arriscada' 

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Há cinco meses no comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Mangueira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ao lado do estádio do Maracanã, o capitão Leonardo Nogueira reagiu com surpresa ao ficar sabendo apenas pela imprensa sobre a suposta invasão de traficantes armados à quadra da Estação Primeira de Mangueira, durante uma reunião a fim de discutir as chapas que concorrerão à presidência da escola de samba no próximo mês.

"Tem uma cabine da polícia logo em frente. Sempre posicionamos uma viatura que fica a 40 metros da quadra. E não fomos informados de absolutamente nada?", indagou o comandante em entrevista ao Terra. "Se houve uma ameaça, por que ninguém ligou para mim? Ele (Ivo) tem o meu telefone. Ou então era só ir até a cabine, até o comando da UPP. Aí ele liga para um jornal? Foi algo complicado que a gente não está acostumado a ver", completou Nogueira.

O caso foi relatado pelo atual presidente Ivo Meireles e teria ocorrido na tarde da última quarta-feira, quando seis homens armados invadiram a quadra da Mangueira sob a liderança de Marcos Oliveira, advogado da escola durante a gestão de Percival Pires (entre 1980 e 1983, e de 2006 a 2007), e Nilton Oliveira, diretor de patrimônio desta gestão.

O grupo teria "tomado de assalto" a reunião da comissão e roubado os livros de atas eleitorais, além de ter imposto Marcos como o próximo presidente. O traficante conhecido como 2K, membro da facção Comando Vermelho e parceiro de Pitbull, chefe do tráfico da comunidade morto em 2009 pela polícia, também estaria no bando.

"Eu penso, como policial, que seria muito arriscado para esses marginais chegarem a esse ponto, de entrarem em bando armado, e passarem em frente a uma cabine policial. Seria muito arriscado para eles", continuou o comandante da UPP local. "Parece que o presidente (Ivo) tem suas divergências com quem quer entrar no lugar dele", disse ainda.

Ivo Meireles, que nega ter sofrido ameaças diretas e requisita a presença da PM para as eleições no final de abril, concorrerá a reeleição ao lado do próprio Marcos Oliveira, e do ex-presidente Percival Pires - uma outra chapa também pode aparecer para o pleito, liderada por Nicemar Nogueira, neta de Dona Zica e Cartola, sambistas fundadores da escola.

Sem entrar em polêmicas, o capitão Leonardo Nogueira ressaltou ainda que um episódio como estes não teria passado em branco pelos PMs de prontidão. "O PM em frente à escola vendo alguém armado vai agir, não tenha dúvida. Acho tudo estranho", opinou.

Abertura de inquérito

Ivo Meireles prestou depoimento a delegada titular da 17ª DP (São Cristovão), Monique Vidal, na tarde da última quinta-feira, depois que a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, determinou abertura de inquérito para apurar o caso. O atual presidente da verde e rosa chegou em carro blindado e acompanhado de seguranças. Ele afirma que usa este procedimento desde que sofreu um acidente em 2007.

Cinco meses após perder o território para as forças de segurança do Estado, o tráfico, assim como ocorre na Rocinha e no Complexo do Alemão, ainda demonstra resistência na Mangueira. Com uma peculiaridade: "aqui é diferente porque o tráfico é enraizado na família. Por mais que algumas pessoas de bem, trabalhadoras, não sejam criminosas, elas têm um irmão, um primo envolvido", explicou Nogueira.

"Isso causa uma dificuldade. Ele não simpatiza com o crime, mas simpatiza com o criminoso, e tem uma relação afetiva com ele. Aí a polícia chega, e ele pensa: 'não vou fechar com polícia porque sou primo de fulano e amigo de cicrano'. Acaba ficando preocupado com o que as pessoas vão falar. Mas não é algo difícil demais e estamos avançando com o trabalho, temos realizado projetos e reuniões com a comunidade, este processo de integração continuará", complementou.

Um exemplo desta ligação afetiva da Mangueira com o tráfico aconteceu justamente na morte de Pitbull, em confronto com policiais durante uma operação, no início de 2009. À moda antiga, quando o traficante líder do morro era tido como provedor, mais de 200 moradores foram ao enterro no cemitério São João Batista, em plena elite da zona sul carioca, aos gritos de "guerreiro". A situação obrigou uma operação nos morros adjacentes, fato que provocou troca de tiros com os criminosos locais. O clima foi tenso e mais 50 de policiais atuaram na segurança.