Há exatos 50 anos, acontecia em Niterói o que foi considerada a maior tragédia circense da história. Em 17 de dezembro de 1961, o incêndio no Gran Circo Norte-Americano deixou mais de 500 mortos e incontáveis feridos. Para relembrar a tragédia, a Policlínica Militar de Niterói, situada no mesmo terreno onde estava o picadeiro há meio século atrás, inaugura um memorial neste sábado, às 11h, em sua sede.
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Quando houve o incêndio, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy trabalhava como professor na PUC e ainda não tinha inaugurado a famosa clínica na rua Dona Mariana, em Botafogo. No dia, conta ao JB que seguia para a Santa Casa da Misericórdia quando ouviu, pela rádio, o anúncio de que o circo pegava fogo. Pitanguy seguiu para o Iate Clube do Rio e, a bordo da sua lancha particular, atravessou a Baía de Guanabara para se juntar ao mutirão que procurava ajudar as vítimas.
“Cheguei com uma equipe em pleno momento de comoção. Havia muita gente querendo ajudar, mas também uma enorme desorganização”, lembra o médico. “Lembro de um caso muito heróico de um menino que tinha se salvado e voltou para debaixo da lona para buscar o seu amigo. O que era mais dramático é que eram muitas crianças, e ao lado delas, seus amigos, de modo que devia haver ali pelo menos 500 delas”.
O caso do menino Pablo, de 11 anos, é descrito na autobiografia do cirurgião. Pitanguy escreve que a criança estava com 80% do corpo gravemente queimado, mas se desvencilhou das enfermeiras para buscar um amigo que havia ficado preso no picadeiro. Momentos depois, ele reapareceu, carregando o colega no colo. Para salvar Pablo e o amigo, a equipe do cirurgião se revezou durante seis meses no leito do menino, que se curou e sobreviveu.
Pitanguy trabalhou com uma equipe de médicos decididos a salvar o maior número de pessoas que pudessem. Juntos, reestruturaram o serviço de atendimento do Hospital Antônio Pedro, que estava parcialmente paralisado. Para ajudar na recuperação das vítimas, o hospital Bathesta, em Washington, doou 33 mil centímetros cúbicos de pele seca fria para serem usadas como enxerto. Os cuidados com os queimados acabaram servindo de experimentação - um divisor de águas na história da cirurgia plástica no país.