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Algas e chuvas, são os vilões da mortandade de peixes na Lagoa

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Thiago Feres, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Um laudo desenvolvido pelo Laboratório de Ficologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concluiu que uma alga do gênero Chrysochromulina provocou a mortandade de 86,8 toneladas de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas. Segundo a secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, a proliferação das algas foi incentivada pelo excessivo número de nutrientes fósforo e nitrogênio nas águas da Lagoa, o que pode ocorrer dependendo das condições de temperatura, salinidade ou insolação.

Os peixes mortos apresentavam sinais de falta de oxigenação, já que estavam boquiabertos. No entanto, a gerente de avaliação da qualidade das águas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Fátima Faris, explicou que a alga é capaz de agir diretamente nas guelras.

Logo após as chuvas daquele período, houve uma produção de toxina que agia nas guelras e células epiteliais dos peixes. Este tipo de alga já existia em pequena quantidade, mas quando há sucesso de alguma espécie, ela atinge o clímax e depois volta ao número reduzido, o que justifica o fato de ainda existirem peixes nas águas da Lagoa. Não conseguiremos tirar as algas do meio ambiente reforçou.

Com a chuva, o corpo hídrico torna-se mais doce, facilitando a proliferação das algas e a produção da toxina.

Quero lembrar que não houve vazamento de esgoto ou derramamento de qualquer produto químico destacou Marilene Ramos. Além de adocicar a água, a chuva carrega uma grande carga de nutrientes para a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Os peixes apareceram mortos no dia 26 de fevereiro. Somente no Jardim Botânico, um dia antes, o volume de chuva registrado foi de 46,2 milímetros, considerado elevado por especialistas.

A secretária voltou a defender a necessidade de ocorrer uma renovação periódica das águas da Lagoa, que seria feita por dutos subterrâneos instalados na altura do Jardim de Alah, ligando a Lagoa ao mar. O projeto já está em fase de licenciamento.

Acredito na aprovação até o final do ano. O projeto está avaliado em R$ 40 milhões e é uma obra indispensável para o equilíbrio ambiental do local, lembrando que o Canal do Jardim de Alah só consegue trocar 3% das águas da Lagoa a cada ciclo completo de maré revelou Marilene Ramos.

A outra forma de diminuir o número de algas e nutrientes na Lagoa Rodrigo de Freitas seria através de um tratamento utilizando produtos químicos, capazes de absorver o nitrogênio e o fósforo. O ponto negativo é a durabilidade limitada da medida, que varia entre um e dois anos. O custo aproximado é de R$ 10 milhões.

É importante lembrar que algas são alimentos para peixes destacou Luiz Firmino, o presidente do Inea.

Novo projeto irá permitir uma série de experiências na Lagoa

Segundo a secretária de Ambiente, Marilene Ramos, os quatro dutos de ligação entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o mar projeto que é fruto de uma parceria entre o governo do estado, a prefeitura e a empresa EBX vão funcionar como sifão, ou seja, equilibrando o volume de água. Comportas serão instaladas nos dutos, o que irá permitir que algumas experiências sejam realizadas para que os próprios técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) possam conhecer melhor a Lagoa.

Atualmente, quando recebemos um alerta de baixa oxigenação, não temos uma medida emergencial para tomar. Precisamos convocar uma equipe para realizar um esvaziamento de peixes frisou o presidente do Inea, Luiz Firmino.

Ainda segundo ele, antes, durante e depois da mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas, os índices de oxigênio registrados eram suficientes para a respiração dos animais.

Ainda temos uma grande população de peixes na Lagoa. Segundo os pescadores, apenas 20% dos animais morreram com a proliferação das algas, a maioria da espécie savelha frisou.

O Inea costuma realizar um trabalho de monitoramento periódico com identificação de espécies, contagem aproximada de peixes e verificação da oxigenação. Todas as checagens são feitas por amostragem.

Isolamos uma área e fazemos um estudo na região. O acompanhamento das águas é mais frequente, há coleta duas vezes por semana contou o presidente Luiz Firmino.

Para facilitar o controle lagunar e resolver pequenas questões envolvendo a Lagoa Rodrigo de Freitas, um subcomitê do recém-criado Comitê da Baía de Guanabara será estruturado nos próximos dias. O grupo terá a participação de membros do governo, prefeitura, Rio Águas, pescadores, entre outros.

Ambientalistas insistem na falta de oxigênio

Para especialistas em meio ambiente, os problemas de oxigenação continuam sendo apontados como a causa da mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas. O laudo assinado pelas profissionais Mariângela Menezes e Suema Branco não convenceu, por exemplo, o professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), David Zee. Segundo ele, há possibilidade de ocorrer, em breve, uma nova mortandade de peixes.

Acredito piamente que possa ocorrer uma nova mortandade. Tivemos duas semanas de frio e agora está começando a esquentar outra vez. Se a própria secretária Marilene Ramos diz que a chuva faz as algas proliferarem, logo, nós teremos mais mortes de peixes concluiu.

O ambientalista afirmou ter medido recentemente a temperatura da água da Lagoa Rodrigo de Freitas, quando flagrou o termômetro registrando 30 graus, o que gera menor solubilidade de oxigênio na água.

Os órgãos competentes costumam fazer medições durante o dia, mas os grandes problemas de oscilação de oxigenação ocorrem no turno da noite revelou David Zee.

Apesar de comentar o fato, ele destacou a importância de não se desviar muito a atenção para o problema principal: a mortandade dos peixes.