Caio de Menezes , Jornal do Brasil
RIO - Ela é uma praia, digamos, sazonal. A faixa de areia, uma das mais cobiçadas para quem aprecia um mergulho cercado por muita natureza, só dá o ar de sua graça durante alguns meses por ano. Mas este período está caindo. Cientistas dizem que, com as mudanças climáticas, fenômenos como El Niño, e a própria dinâmica do oceano, a faixa de areia tende a diminuir cada vez mais.
De acordo com o oceanógrafo David Zee, profesor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), as correntes costeiras, que tem agido de forma atípica, são um dos fatores responsáveis pelo emagrecimento da faixa de areia da Joatinga.
Nos últimos meses, as ondas estão vindo de Sul e Sudeste e carreando a areia em direção à Praia da Barra. O fenômeno climático El Niño, tem favorecido esse tipo de evento. A faixa de areia da Joatinga, que no verão costumava ter entre 400 e 500 metros, hoje não ultrapassa os 250. Enquanto o El Niño continuar forte e ativo como atualmente, a praia estará em risco assegurou.
Zee creditou ao aquecimento global a força do El Niño.
Antigamente, acontecia um fenômeno a cada dez anos. Entretanto, só nesta década estamos no quarto El Niño Com o aquecimento global, a frequência tornou-se muito maior, o que determina estes eventos atípicos, como o da Joatinga disse o cientista.
Previsão
O coordenador da Rede UFF de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Universidade Federal Fluminense, o oceanógrafo Julio Cesar Wasserman, destacou a possibilidade de a Joatinga desaparecer já nos próximos anos.
Com o aumento da liberação de CO2, temos o aquecimento, que derrete as geleiras. O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) prevê que o nível do mar suba 80 centímetros nos próximos 50 anos. Se isso for confirmado, a Joatinga desaparecerá. Trata-se de um ambiente extremamente sensível, que é facilmente alterado pelas oscilações climáticas disse.
Segundo Wasserman, o dinamismo do nível do mar, pode determinar o desaparecimento da Joatinga.
Pode acontecer de a Joatinga sumir, pois nas condições atuais, ela tende a perder areia. Mas, isso não é algo próximo. Há 18 mil anos o nível do mar no Rio era 100 metros mais baixo, estávamos a 60 quilômetros do mar disse ele, para depois exemplificar. Recentemente, na Praia de Atafona, em São João da Barra, no Norte Fluminense, o mar avançou 400 metros sobre a praia, tudo foi modificado ali lembrou.
Praia é preferida por cariocas que gostam de sossego e lazer
A possibilidade do desaparecimento da Praia da Joatinga preocupa desde os frequentadores mais assíduos até quem debutava na pequena faixa de areia, cercada por encostas entre a Praia de São Conrado e a Barra da Tijuca.
A estudante de química Priscila Martins, de 20 anos, disse que, mesmo que a praia desapareça, não esquecerá das tardes passadas na praia .
A Joatinga é linda! Sempre estou aqui, e vou aproveitá-la até o último fiapinho de areia. Não conheço uma praia, sequer, parecida com essa. Se realmente acabar, me restarão na memória diversos momentos da minha vida que passei aqui consolou-se a moradora de Jacarepaguá (Zona Oeste) que, apesar de reclamar da dificuldade de acesso à praia, bate ponto no local pelo menos duas vezes por semana.
Igualmente assíduo na Joatinga, Rafael Cardoso, de 21 anos, destacou a liberdade de poder fazer no local coisas que são proibidas em outras praias.
Prefiro a Joatinga pois aqui posso trazer meu cachorro, jogar altinho e frescobol sem ser importunado. Nestas areias não rola a repressão contra esses hábitos que são tradicionais nas praias cariocas, mas que, de um tempo para cá, passaram a ser reprimidos em Ipanema, onde eu costumava fazer a praiana justificou ele, sem conseguir segurar as gargalhadas.
Frequentadora esporádica da daquelas areias, a economista niteroiense Raquel Tessarollo teme não poder mais desfrutar da melhor característica que uma praia pode ter .
O grande diferencial da Joatinga é a privacidade que ela oferece. Só vem aqui quem gosta e quer curtir a praia. Não é necessário se preocupar com arrastões ou com os farofeiros. Considero essas areias o grande ponto de encontro do meu grupo de amigos definiu.
Prejuízo
Para o dono da Barraca do Nonô, Nodivaldo Rodrigues do Nascimento, de 45 anos, todos eles vividos na Joatinga, caso a faixa de areia seja encoberta pela água, ou afine a ponto de não comportar muitas pessoas, sua história de vida será comprometida.
Nasci e fui criado aqui. Dessa praia sai o dinheiro com o qual sustento toda a minha família. Nem passa pela minha cabeça minha vida sem a Joatinga disse ele que corrobora as previsões dos cientistas ouvidos pelo JB. Desde 2003 a faixa de areia vem diminuindo. Batia sol na areia até as 17h. Hoje não passa das 15h. O faturamento baixou, porque menos gente vem para cá.