Caio de Menezes, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Antes, havia aquelas pichações incompreensíveis, garranchos horríveis, que emporcalhavam muros, fachadas e monumentos da cidade. Mas a coisa evoluiu. O Rio de Janeiro virou uma galeria a céu aberto, com grafites e pinturas que são verdadeiras obras de arte. E se os antigas pichações eram combatidas pelas autoridades, os grafites mais elaborados encontram tolerância na sociedade carioca.
Marcelo Eco, um dos primeiros grafiteiros do Rio, e que hoje tem o grafite como principal fonte de renda, creditou a aceitação da sua arte ao crescente número destes artistas das paredes:
Mais pessoas passaram a fazer o grafite, logo ele passou a ser mais visto. Sem falar que o grafite, em alguns casos, dá vida ao concreto, como nos viadutos. Quando bem feito, ele incrementa o que é bonito, e embeleza o que é feio.
Utilizando a alcunha Panks , o grafiteiro Marcelo Vitor Lemos disse que percebe a aceitação quando está nas ruas grafitando.
Antigamente, passavam pela gente e nos chamavam de pichadores. Até mesmo os policiais quando nos abordam, para saber o que estamos fazendo, agem de maneira diferente.
Para o coordenador do Laboratório Gráfico de Comunicação Visual da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcus Domann, a aceitação do grafite tem uma explicação:
O talento do artista contribuiu muito para a nova imagem do grafite. O grafite mostrou que é mais do que contestação, trata-se de uma nova estética urbana e altamente contemporânea. Ele tem poesia e não está mais restrito aos muros, agora também trafega na casa do indivíduo ressaltou.
De acordo com Domann, a forma como o grafite passou a ser propagandeado também pesou na mudança de sua imagem.
Os veículos de comunicação também têm sua parcela de responsabilidade. Eles alavancaram o grafite, lhe conferiram glamour e tiraram dele o cunho marginal disse ele.
Já Frederico Carvalho, professor de desenho da UFRJ e doutor em arte contemporânea, apontou o acesso a informação como o divisor de águas:
A globalização, a sociedade do espetáculo e os artistas com vontade de mostrar seus trabalhos explicam a aceitação do grafite. Hoje temos uma permeabilidade maior para tudo. As pessoas aceitam mais as diferenças. Logo, o grafite deixou de agredir analisou.
Prova de que o grafite deixou de ser marginalizado pode ser encontrada no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Segundo a instituição, desde 2005 não são registrados casos de pessoas levadas a julgamento por piche ou grafite.
Na Zona Sul da cidade, também é possível encontrar as mesmas evidências. De acordo com Cristiana Honorato, delegada assistente da 12ª DP (Copacabana) os grafites são permitidos desde que autorizados pelo dono do muro . Ainda de acordo com ela, há muito tempo não são registrados caso de pichação e grafite em Copacabana . O mesmo foi observado em Ipanema e no Leblon.