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Na última noite da Help, turistas e garotas de programa se esbaldam

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Carlos Braga, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - O clima foi de festa de despedida para um velho amigo. Pela última vez, las muchachas de Copacabana puderam usar seu escritório preferido, a casa noturna Help, para fechar seus programas. Apesar de um certo desapontamento no ar, quem não soubesse da notícia dificilmente perceberia que dali a algumas horas a boate apagaria definitivamente seus néons: centenas de moças, com roupas apertadas ou curtas, ou ambas, embaladas por um bate-estaca eletrônico, conversavam com gringos num inglês-portunhol aprendido na calçada.

You're very beautiful. Quieres hablar? arriscou uma moça para um sessentão careca com cara de alemão, que ignorou a investida.

Muitas frequentadoras lamentavam o fim da Help. É fácil entender o motivo. Lá, elas não precisam prestar contas ou pagar nada além da entrada, como é de praxe em casas noturnas onde circulam garotas de programa. A mineira Vanessa (nome falso, claro), 22 anos, assim como muitas de suas colegas, terá que migrar para as boates que funcionam na Avenida Prado Júnior, em Copacabana também. Ela acha que essa afluência pode provocar uma superlotação daqueles inferninhos.

Não há nenhuma boate que tenha o tamanho da Help compara Vanessa. São todas muito pequenas. Acho que não vai ter espaço para todo mundo.

Vestida com uma calça branca da Gang a vácuo e uma camisetinha que era uma mera formalidade, Shirley (com ipsilon, tá?) diz que faz programa para pagar a faculdade de jornalismo e que não gosta de frequentar as casas noturnas da Praça do Lido e da Avenida Prado Júnior. Desconfia que a construção do Museu da Imagem e do Som no lugar da Help teve motivação moralista.

Tanto lugar para eles enfiarem esse museu e escolheram justamente o da Help critica. Tenho certeza de que foi para tirar o nosso local de trabalho daqui. Não queriam uma boate frequentada por garotas de programa fincada em plena Avenida Atlântica.

Pela quinta vez em férias no Brasil, o turista americano John Dalton, 54 anos, arranha um português bastante razoável. Com uma gigantesca mulata espremida em um tubinho vermelho sentada em seu colo, John diz lamentar profundamente o encerramento das atividades da Help. Para ele, a boate é uma atração turística maior que o Pão de Açúcar. E conta que, durante suas estadas no Rio, vai mais a Help do que à praia.

Gosto muito daqui, da companhia das moças. Elas são muito divertidas e carinhosas. Melhores que as americanas. Veja só: já até arrumei uma namorada disse John, cuja namorada , ao ouvir o gracejo, soltou uma gargalhada que ecoou por toda Copacabana.

Já alta madrugada, impulsionados por caipirinhas e cervejas, turistas e meninas de programa se esbaldavam na pista quando passou, em um telão, uma reportagem sobre o fechamento da casa. Depois de acompanharem atentamente a matéria, vaiaram com afinco a parte em que se falava sobre a demolição do lugar. Em outro momento da noite, o DJ anunciou que a Help talvez tivesse mais uma noite antes do fim inevitável. Foi aplaudidíssimo.

Espécime rara no lugar, que se identificou como Zé (coloca só Zé), de 37 anos, um morador de Copacabana, estava lá para se despedir do lugar, ao qual se diz ligado emocionalmente.

Venho desde os tempos da matinê. Agora, apareço de vez em quando para ver as primas .