Flávio Dilascio, Jornal do Brasil
RIO - A comemoração do sexto título brasileiro do Flamengo, conquistado domingo, deixou marcas e lembranças desagradáveis em várias partes da cidade. No Leblon, torcedores se enfrentaram na Rua Ataulfo de Paiva, causando pânico e prejuízo no comércio. Na Praça Santos Dumont, na Gávea, houve destruição de mesas de bares, letreiros e orelhões, para a revolta dos comerciantes locais, que resolveram tomar uma medida drástica: não abrirão mais suas portas em dias de jogos de grande apelo do time rubro-negro.
Por volta das 23h de domingo, dezenas de torcedores alcoolizados começaram a trocar agressões em frente ao Café e Bar Hipódromo, no coração da Praça Santos Dumont, na área conhecida como Baixo Gávea. Comerciantes e funcionários não sabem o motivo da briga, mas o cenário durante esta segunda-feira era de terra arrasada.
Tivemos muito prejuízo aqui, mas ainda não calculamos o valor. Quebraram vidros, vasos de plantas, mesas e mais de 20 cadeiras. Isso tudo ocorreu duas horas antes do nosso horário de encerramento e tivemos de fechar o bar às pressas relatou o gerente do Café e Bar Hipódromo, Antônio Martins.
Ele revelou que, revoltados com a falta de segurança e o iminente perigo, os comerciantes da área resolveram não abrir mais em dias de jogos decisivos que envolvam o Flamengo.
Já tínhamos conversado sobre não abrir as portas nesse domingo por causa da decisão, mas os bares do lado resolveram abrir, pois julgaram haver segurança. Deu no que deu. Os jogos do Flamengo são os únicos em que há tumulto. Nunca tinha visto tantas cenas de vandalismo, nem mesmo em filme.
A poucos metros dali, o bar BG também tentava contabilizar os prejuízos. O local também fechou às 23h, mas por um motivo diferente, e nem por isso escapou da depredação:
Fechamos mais cedo que o habitual, pois acabou o estoque de bebida. Quando fomos para casa, estava tudo normal. Hoje que fomos ver que o nosso letreiro estava quebrado afirmou o balconista Luiz Carlos Mesquita, que trabalha há seis meses no bar.
Vândalos depredam bancas
No Leblon, palco de diversos conflitos alguns flagrados pela TV moradores e comerciantes reclamaram de falta de segurança no domingo. Os estabelecimentos mais prejudicados foram as bancas de jornal localizadas nas imediações da esquina das Ruas Ataulfo de Paiva com Carlos Gois.
Na hora do jogo, eu ainda estava na banca e o pessoal que estava bebendo no (bar) Clipper ficou batendo e chegou a subir em cima dela. Tanto foi que o meu chefe mandou fecharmos às 17h30, bem mais cedo que o nosso habitual disse a jornaleira Elaine de Souza Vieira, de 29 anos, que considerou o policiamento da área como deficitário.
Em frente ao McDonald's da Ataulfo de Paiva, outro jornaleiro reclamava do mesmo problema.
Quando cheguei hoje, estava tudo depredado aqui na banca. Subiram no teto, arrancaram o fio do telefone, mexeram no nosso ar-refrigerado e entortaram o ferro de suporte das revistas contou o jornaleiro Anderson Santos.
Moradora das proximidades do foco da confusão, a arquiteta Lúcia Ganem, de 66 anos, reclamou que as grandes comemorações, como jogos de futebol e Carnaval, são os maiores problemas do bairro.
Acho que um reforço no policiamento poderia ajudar a resolver esta questão afirmou Lúcia, que procura evitar passar perto das multidões que se foram.
Cabral diz que policiamento para a festa era suficiente
Apesar dos relatos de brigas e desordem na Zona Sul, o governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou nesta segunda-feira que não faltou policiamento na festa da conquista do Flamengo, classificando os incidentes ocorridos na capital como lamentáveis .
Não se pode prever que um grupo de vândalos vá transformar uma festa extraordiária como essa num momento assim. Não tem policiamento em cada metro quadrado da cidade. Essa é uma situação que só pode ser caracterizada como lamentável afirmou Cabral.
Além das brigas na Leblon, um torcedor identificado como Flávio Alberto morreu atropelado durante a comemoração do gol do título rubro-negro. Um grupo de torcedores bateu na lataria de um caminhão, que acelerou, passando por cima do rubro-negro.
No Túnel Rebouças, torcedores pararam os carros e saíram pela janela para comemorar o título. Um homem foi detido.
Em uma das brigas do Leblon, o torcedor Leonardo Vinhais morador da Rua Antônio Maria Teixeira, nas proximidades do Shopping Leblon foi espancado. Segundo familiares, ele teve que levar cerca de 100 pontos pelo corpo. Os vizinhos ainda não sabem o motivo da briga.
Às 20h30 desta segunda-feira, prefeitura e Polícia Militar não tinham uma estimativa dos prejuízos.